Publicado por Redação em Dental - 10/09/2014
Uso de toxina botulínica e preenchimento facial em Odontologia
Popularizada nos últimos 20 anos pela Medicina Estética, a toxina botulínica é um complexo proteico purificado, obtido a partir de determinada bactéria que bloqueia a liberação da acetilcolina e faz com que os músculos não recebam estímulos para contrair.
Quando aplicada nas linhas horizontais da testa, entre as sobrancelhas e ao redor dos olhos, seu efeito é bastante rejuvenescedor e tem duração de quatro meses, em média. Mas a novidade é o uso odontológico, que vem ganhando cada vez mais adeptos na medida em que seus benefícios se tornam mais conhecidos.
Existem diversas indicações que levam o Cirurgião-Dentista a fazer uso da toxina botulínica no consultório. Desde o tratamento do ‘apertamento’ e ranger dos dentes, passando pelo alívio de dores orofaciais, até o tratamento do sorriso alto - são muitas as vantagens dessa opção terapêutica não invasiva, reversível, e que pode até mesmo evitar a realização de cirurgias em determinados casos.
O especialista, mestre e doutor, presidente da Academia Brasileira de Estética Orofacial e professor da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP) da APCD Regional Vila Mariana, coordenador científico da Corporación Internacional de Atención y Educación en Salud Oral – CIAESO, no Chile, e professor convidado do "Diplomado en Rejuvenecimiento Facial y Estética Odontológica" da Universidad De La Frontiera, no Chile, Luciano Artioli Moreira, salienta que a toxina botulínica atenua a ação dos músculos onde é aplicada, dessa forma, suas indicações na Odontologia abrangem toda a face, desde o tratamento do sorriso gengival e assimétrico, à dor orofacial e cefaleia tencional, além de indicado para hipertrofia do masséter, distonias, espasmos, desprogramação neuromuscular, paralisia facial, entre outros. Por exemplo,quando aplicada no músculo masséter, é muito eficaz para eliminar o apertamento e pode ser indicada para prevenir o excesso de força nos primeiros meses em pacientes reabilitados com protocolos sobre carga imediata, aumentando a segurança e melhorando o prognóstico desses tratamentos.”
Artioli chama atenção para o uso da toxina botulínica no tratamento do bruxismo infantil. Mais comum entre crianças ansiosas ou hiperativas, o bruxismo pode ser relacionado com níveis de desgaste da superfície dos dentes, além de desconfortos musculares e articulares. Quando não tratado corretamente, pode contribuir para a progressão da doença periodontal que, por sua vez, tem implicações em várias doenças respiratórias e do coração, entre outras. O tratamento do bruxismo em crianças é mais complexo porque não é possível utilizar alguns dos tratamentos indicados para os adultos, porque, em crianças, poderiam comprometer o crescimento dos ossos da face e o correto posicionamento dos dentes. “Quando bem indicada e realizada, essa opção terapêutica proporciona eficiência e conforto às crianças em alguns casos que, antes, a Odontologia não era capaz de oferecer”.
A frequência das aplicações também merece atenção, já que o objetivo é evitar que o organismo produza anticorpos e seu efeito acabe se tornando cada vez mais fraco. Nesse sentido, o especialista afirma que é fundamental administrar a toxina botulínica em todos os músculos desejados na mesma sessão de aplicação, respeitando um intervalo mínimo de três meses entre as aplicações – conforme recomendação do Ministério da Saúde. “O uso odontológico da toxina botulínica geralmente é bem tolerado e as reações sistêmicas são raras, porém, podem surgir pequenos hematomas no local da aplicação. Seu uso, entretanto, é contraindicado em pacientes com hipersensibilidade a qualquer componente do medicamento, portadores de miastenia grave (fraqueza dos músculos voluntários) ou de doenças do neurônio motor. Gestantes e lactantes também não têm indicação, assim como pacientes que façam uso de medicamentos potencializadores do bloqueio muscular”, alerta Artioli.
Preenchimento facial
O preenchimento facial dá volume às áreas onde é aplicado. Suas indicações concentram-se na região perioral, onde pode corrigir defeitos cirúrgicos, assimetrias faciais, dar volume aos lábios e bochechas, o que contribui para o conforto e a estabilidade de algumas próteses; por exemplo, quando se confecciona uma prótese total, ou mesmo sobre implantes, para dar volume e sustentação aos lábios, antes, era necessário aumentar a quantidade de resina acrílica nas próteses, o que, feito em excesso, deixava-as desconfortáveis. Hoje, segundo Luciano, pode-se substituir parte dessa resina nas próteses, aumentando diretamente o volume dos lábios. Nos casos de pequena retração da papila interdental, onde se forma o chamado ‘black space’, com uma simples injeção é possível aumentar o volume das papilas, evitando ter que substituir próteses ou realizar cirurgias periodontais mais invasivas.
O especialista em Implantodontia e em Histologia e Biologia Molecular, e membro da Câmara Técnica de Implantodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), Mauricio Querido, diz que também é possível usar ácido hialurônico para preencher o código de barras nas regiões de lábio e nos sulcos naso-labiais. “Também pode ser usado para as pessoas que querem dar volume ao lábio, principalmente quando realizamos trabalhos estéticos de mudança de sorriso e percebemos uma assimetria de lábio.”
Durabilidade dos tratamentos
O tempo de cada tratamento depende de vários fatores, tais como, no caso da toxina botulínica, o grau de atividade muscular e a intensidade do metabolismo do paciente, tendo duração média em torno de seis meses. No preenchimento facial, o principal fator que determinará a duração é a característica do material preenchedor que, no caso dos materiais absorvíveis, geralmente duram de um a três anos. “As principais vantagens começam por serem recursos terapêuticos rápidos, simples, pouco invasivos, bastante seguros e reversíveis, que apresentam ótimas alternativas ou complementos para uma grande variedade de tratamentos”, rassalta Mauricio Querido.
Ele ainda salienta que a vantagem do uso da toxina botulínica e do preenchimento facial é que ambos complementam muitos tratamentos realizados na clínica de forma eficaz e com segurança. “É preciso ter muito cuidado para não atingir um vaso sanguíneo e não causar hematomas na pele. Dos cuidados faz parte saber triar bem um paciente, ter habilidade e segurança para aplicar os produtos. Quando falamos sobre o uso do botóx para um paciente que nunca fez uso, a primeira coisa que se pensa é na expressão facial. Muitos pacientes acham que irão perder a naturalidade da expressão. É aquela velha história: ‘vou rir ou vou chorar e minha expressão continua a mesma’. Isto só ocorre quando o uso da toxina botulínica é usada em demasia. Com uso moderado e dentro das indicações, isto não ocorre.”
Aplicação requer cuidado e prática
A prática dos Cirurgiões-Dentistas no uso odontológico da toxina botulínica é fundamental. “Profissionais da Odontologia têm muita sensibilidade, grande conhecimento anatômico e uma habilidade toda especial com aplicação de injeções. Isso faz deles ótimos candidatos a proporcionar efeitos extraordinários para seus pacientes, resolvendo muitos dos problemas orofaciais que os afligem através dessa terapia conservadora, minimamente invasiva e que tem se mostrado uma opção terapêutica bastante benéfica. O sucesso da terapia, entretanto, é proporcional à quantidade de treinamento”, diz Luciano Artioli.
Querido alerta que os profissionais que queiram iniciar o uso destes produtos devem fazer um bom curso e realmente não se aventurar caso ainda não se sintam seguros. “É importante procurar orientação de alguém habilitado para quando estiver no momento certo poder utilizá-los. Apesar de hoje muitas pessoas estarem falando desta técnica, não quer dizer que quem não faz está desatualizado, mas sim que este profissional que não faz uso desses materiais prefere indicar para outro colega que sabe aplicar e estará fazendo o melhor para seu paciente.”
Artioli conta que aprendeu essas técnicas no Chile e percebeu que, a exemplo de diversos países do mundo, como Chile, Argentina, Uruguai etc., muitos Cirurgiões-Dentistas já empregavam esses recursos terapêuticos no seu dia a dia profissional, e, “apesar do Brasil ser um país com uma Odontologia de ponta, nesses temas estava atrasado e tinha sido ultrapassado pelos países vizinhos. “Resolvi, então, iniciar os cursos de toxina botulínica e preenchimento facial em Odontologia, na APCD Regional Vila Mariana e, hoje, são mais de mil alunos e vários professores formados em nossos cursos no Brasil, que assistiram às palestras nos principais congressos do país sobre o tema, assim como ocorreu houve criação da Academia Brasileira de Estética Orofacial. Temos a satisfação de ver a Odontologia brasileira ganhar posição de destaque também nessa área. Em função desse crescimento, hoje vemos a Odontologia brasileira começando a produzir estudos científicos que enriquecerão o acervo mundial sobre o uso da toxina botulínica e do preenchimento facial.”
Legislação
Em 14 de abril, o Conselho Federal de Odontologia publicou no Diário Oficial da União a Resolução 144, de 27 de março de 2014, que dispõe sobre a responsabilidade técnica de empresas que comercializam e/ou industrializam produtos odontológicos, e a Resolução 145, da mesma data, que permite o uso do ácido hialurônico e da toxina botulínica para fins odontológicos. Luciano Artioli destaca que esses medicamentos são aprovados pela Anvisa, órgão que tem competência legal para esse fim no Brasil e têm sido amplamente utilizados em todo o mundo com um nível de segurança extremamente elevado. “Além do aspecto legal, também não se pode questionar a qualificação dos Cirurgiões-Dentistas para tratar a face, a região perioral e os músculos do sorriso, da mastigação etc. Estamos dentre os profissionais que mais conhecem e atuam nessa região do corpo. Poucas profissões podem se aproximar das qualidades inerentes aos profissionais de Odontologia para realizar esses procedimentos.”
Fonte: Da Redação - Matéria publicada no APCD Jornal, edição de agosto