Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 13/10/2011

Tecnologia hospitalar na mão de grandes, mas ainda devendo

As aquisições das empresas brasileiras de software hospitalar pelas ‘big tech’ demoraram muito para acontecer e eram tão previsíveis quanto é previsível a introdução da mobilidade e multimídia no ambiente hospitalar, que também está demorando demais.

Desenvolver software com qualidade deixou de ser um ‘ato heróico’ de empreendedores do mercado de tecnologia já faz muito tempo.

Quando minha equipe desenvolveu um ERP hospitalar na década de 90 para um dos maiores hospitais do Brasil tudo era mais simples. Hoje o nível de especialização exigido é maior, a complexidade do ambiente é maior, a necessidade de convergência de tecnologia é maior e, principalmente, o nível de exigência dos usuários é imensamente maior.

E ‘este monte de é maior isso … é maior aquilo’ traz como principal conseqüência alto custo de desenvolvimento e manutenção que só se justifica quando se tem volume de clientes elevado.

Elevado a ponto de trabalhar com uma margem de rentabilidade muito pequena em cada cliente, e atingir o lucro pela comercialização em massa, porque tentar obter com ‘meia dúzia’ de grandes clientes é ‘um tiro no pé’ – é o que aconteceu com algumas das empresas brasileiras que recentemente foram adquiridas pelas ‘big-tech’.

E são poucos países no mundo que possuem clientes suficientes para que um fornecedor atue em determinado segmento de tecnologia e consiga se manter viável ao longo do tempo … bem … no Brasil, no segmento da saúde … não é diferente.

Em tecnologia, de modo geral, vimos diversas empresas de software de gestão sendo ‘engolidas’ umas por outras até que o mercado se resumiu à meia dúzia de empresas, algumas nacionais e algumas estrangeiras.

E o segmento da saúde segue o mesmo caminho, se concentrando em meia dúzia de empresas: algumas nacionais e algumas estrangeiras.

As ‘big tech’ se manterão no mercado adquirindo pequenas empresas com aplicativos específicos e obtendo sua rentabilidade pela massa de clientes no Brasil e fora daqui, e as empresas brasileiras permanecerão no mercado exclusivamente pela sua flexibilidade em atender demandas específicas do mercado brasileiro, principalmente as funcionalidades relacionadas ao nosso insano sistema tributário e as regras únicas do nosso SUS, que é único também no sentido de não existir igual em outros países.

Este movimento incomoda qualquer administrador hospitalar, mas não se pode fugir dele. É algo ‘odioso’:

Você passa alguns meses planejando a implantação de um sistema;
Coloca como ponto de análise as facilidades de tratar com uma empresa nacional;
Demora alguns anos para implantar de forma plena o sistema;
E vem uma ‘big tech’ estrangeira e compra a empresa !!!!

É ‘odioso’ porque seu processo de seleção partiu da premissa que seria privilegiada a empresa nacional, mas a questão é saber se o peso desta definição realmente deveria ter sido levada em conta.

A globalização teima em tentar ensinar que trabalhar com uma empresa nacional ou estrangeira não faz muita diferença. O que deve ser levado em conta sempre deve ser a aderência do sistema em relação à necessidade, independente do país onde o código foi redigido.

E falando em tecnologia … o mercado da saúde também não poderá fugir da tendência da mobilidade, redes sociais e massificação dos recursos multimídia … na verdade está demorando muito para que isso aconteça, e quem largar na frente vai ‘arrebentar a boca do balão’.

Nos cursos que damos no segmento da saúde exemplificamos como é difícil descrever como se dá um nó de gravata sem utilizar imagens e vídeos. Um hospital vive da necessidade de executar tarefas que não se descreve por texto. Você faria uma cirurgia com um médico que nunca viu como ela deve ser feita, e aprendeu como se faz apenas lendo um livro ? … duvido !

Mobilidade também parece ser palavra proibida em hospitais. Vemos computadores espalhados em todos os postos de enfermagem, salas de procedimentos, ambulatórios … ‘uns monstrinhos’ que não saem do lugar. Alguns hospitais colocam ‘os monstrinhos’ em ‘móveis com rodinhas’: melhora, e muito, mas não deixam de ser ‘monstrinhos’, só que motorizados !

A atividade do médico, enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista, e outros profissionais assistenciais é baseada no movimento: eles não ficam trabalhando em uma mesa, com fones de ouvidos escutando música – estão constantemente se deslocando de um paciente para outro e quando necessitam registrar ou consultar algo têm que ir até ‘o monstrinho’, perdendo tempo, esquecendo o que ia fazer, ou ter que anotar algo em papel e transcrever para que isso não aconteça.

Já passou da hora de utilizar em massa equipamentos realmente móveis para dar suporte às atividades hospitalares.

O que falta? pessoas do ramo sendo envolvidas no desenvolvimento das aplicações.

Aparecem fornecedores nos hospitais, especialistas em mobilidade que ‘pensam que sabem’ alguma coisa sobre saúde, demonstrando aplicações que no final da reunião a gente sempre chega à conclusão que o melhor a fazer é ‘internar o cara’ !

Para não internar indicamos alguns sites (o www.admhosp.net.br por exemplo) para que ele se interesse em conhecer alguma coisa sobre hospitais no Brasil … infelizmente com a certeza de que ele não vai visitar … e é comum encontrá-lo algum tempo depois dizendo que o pessoal da saúde não entende o que ele fala.

Como partimos da premissa que o lado assistencial do atendimento já virou ‘commodity’ o potencial competitivo dos hospitais no mercado se resume hoje à tecnologia e ao atendimento humanizado.

O atendimento humanizado a gente não compra: a tecnologia sim.

Por esta razão as ‘big tech’ estarão cada vez mais agressivas no mercado brasileiro … as empresas brasileiras de software cada vez mais valorizadas … e a cada ano vamos ver mais aquisições e fusões, tal como acontece nos demais segmentos de mercado.

Falta para as empresas de inovação tecnológica o abandono da idéia de que hospitais são ‘iguaizinhos aos hotéis’ e começarem a desenvolver aplicações móveis, de multimídia e de redes sociais focadas nas necessidades da saúde e não de entretenimento … terão um mercado ‘gigantesco e inexplorado’ para trabalhar !

Fonte: www.saudebusinessweb.com.br | 13.10.11
 


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