Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 04/04/2011

Tabagismo compromete segurado e segurador

* Ronaldo Monteiro Costa

A história do tabagismo é registrada com o início do cultivo da planta pelo povo primitivo do Peru e foi levado para o velho mundo na época dos grandes navegadores, que arrastavam as curiosidades de suas descobertas nos porões de suas embarcações.

A planta recebeu o nome de nicotiana tabacum em homenagem ao francês Jean Nicot (1560), que divulgou o uso do tabaco no meio diferenciado da corte francesa.

A utilização do tabaco pela espécie humana passou por várias formas de uso em diferentes épocas. Para a nobreza europeia, antes da “Revolução Francesa”, era elegante a pessoa que colocava o tabaco moído (rapé) na região do punho entre os tendões extensores do polegar (tabaqueira anatômica) aspirava as partículas pelas narinas e sentia bem estar após o ato. Também passaram a usar em forma de charuto, cachimbo, narguilé, e, mais atual, o fumo eletrônico.

A indústria do fumo começou a se desenvolver no século XIX, nos Estados Unidos, com a invenção da máquina de confeccionar cigarros (1881) e permitiu baixo custo e o envolvimento de todas as classes sociais, especialmente nos países pobres e populosos.
 
As pessoas sentiam prazer ao fumar e, em pouco tempo, tornavam-se “fissuradas” pela dependência da droga, ou seja, quem iniciava teria grande dificuldade de parar contribuindo com aumento importante no contingente de fumadores. Aspectos psicológicos fazem do cigarro regulador de emoções como prazer, relaxamento e descanso.

Como qualquer comércio pró-ativo houve aumento da produção e redução do preço, permitindo o acesso de pessoas de menor renda ao uso continuado do cigarro.

No decorrer de décadas o fumo migrou para as classes sociais pobres, com maior volume de vidas passando a ser encarado como uma pandemia significante da saúde pública universal.

No início do século passado, as doenças causadas pelo fumo não tinham a mesma conotação e importância como nos dias de hoje porque a vida média da população era baixa, os recursos diagnósticos e terapêuticos eram escassos, e a comprovação do nexo causal era impraticável. Quando a medicina oncológica passou a imputar casos de câncer ligados ao consumo prolongado do fumo a indústria do cigarro questionava a falta de provas científicas capazes de confirmarem a assertiva e prorrogavam por mais dez anos a continuação dos estudos.

Hoje não há mais dúvidas, o tabagismo é doença crônica. A indústria do seguro agravou o prêmio do seguro de benefício aos fumantes e, em casos de altas importâncias seguradas, declina do risco. Para evitar a omissão da informação espontânea, exigem a dosagem sanguínea da nicotina ou de seu metabólito, eficientes na demonstração do tabagismo mesmo na situação de fumante passivo.

No plano/seguro saúde, no Brasil, o cálculo atuarial dilui a sinistralidade causada pelos usuários do tabaco 17,2% da população geral com a maioria não consumidora que paga custos maiores que deveria pagar.

Tabagismo é doença crônica responsável por 200 mil óbitos/ano no Brasil por meio de mazelas correlacionadas. Como a maior prevalência está na população de baixa renda que, por sua vez, encontra-se fora do grupo segurado não trouxe tanta preocupação para o mercado segurador no primeiro momento.

A aproximação do microsseguro destinado à população pobre, provavelmente incluirá o tabagismo como pré-existência ajudando na pressão para o abandono do fumo.

Os governos, de forma tímida, vêm apertando o cerco no combate as drogas, entre elas o tabaco e seus derivados, proibindo a propaganda de incentivo e restrição ao uso. Porém, a criatividade do pessoal de marketing consegue burlar de quando em vez a fiscalização nos meios de comunicação.

Na fumaça do cigarro já foi constatada a presença de 4.720 substâncias, entre as quais, mais de 60 são cancerígenas, sendo a nicotina a principal causa de dependência química. O tabagismo e o alcoolismo respondem, em parte, pelo custo alto do seguro no país.       

* Ronaldo Monteiro Costa – Chefe do Departamento Médico da Montpolo Corretora de Seguros e Professor Doutor em Medicina Interna pela UNIFESP. (Revista Cobertura - Edição 111)

Fonte: www.skweb.com.br | 04.04.11


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