Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 13/06/2013
Será que utilizamos mesmo apenas 10% de nosso cérebro?
Um dos mitos mais conhecidos sobre o cérebro é o de que utilizamos apenas 10% de sua capacidade.
É uma ideia atraente, pois sugere que poderíamos ser muito mais inteligentes, bem-sucedidos e criativos se conseguíssemos aproveitar os outros 90% que podemos estar desperdiçando.
Infelizmente, isso parece não ter nenhum fundamento.
Mito dos 10% do cérebro
Não é bem claro a que se referem esses tais 10% de utilização, e nem a origem da alegação.
Se a afirmação se refere a 10% de regiões cerebrais, então é fácil refutá-la.
Usando uma técnica chamada imagem de ressonância magnética funcional, neurocientistas podem identificar as partes to cérebro que são ativadas quando uma pessoa faz ou pensa em algo.
Uma simples ação, como abrir e fechar a mão, ou dizer algumas poucas palavras, ilumina uma parte do cérebro muito maior do que uma décima parte. Mesmo quando se supõe que a pessoa não está fazendo nada, o cérebro está trabalhando bastante, controlando funções como respiração, atividade cardíaca ou memória.
Se os 10% mencionados se referirem ao número de células do cérebro, ainda assim a afirmação não procede.
Quando qualquer célula nervosa deixa de ser utilizada, ela se degenera e morre, ou é colonizada por outras áreas vizinhas. Não permitimos que as células de nosso cérebro fiquem ociosas. Elas são valiosas demais.
Segundo o neurocientista Sergio Della Sala, o cérebro necessita de muitos recursos. Manter o tecido cerebral consome 20% de todo o oxigênio que respiramos.
Einstein?
Como pode então uma ideia sem fundamento biológico ou fisiológico ter conseguido se espalhar desse jeito?
É difícil rastrear a fonte original do mito.
O psicólogo e filósofo norte-americano William James escreveu no livro As energias do homem que "utilizamos somente uma pequena parte de nossos possíveis recursos mentais e físicos".
Ele pensava que as pessoas podiam progredir mais, porém não se referia ao volume do cérebro nem à quantidade de células, tampouco a uma porcentagem específica - naquela época, ainda não vigorava a ideia atual que os cientistas sustentam de que mente e cérebro são uma coisa só, ou que a mente é uma emanação do cérebro.
A referência aos 10% é feita em um prólogo da edição de 1936 do popular livro de Dale Carnegie Como ganhar amigos e influenciar pessoas.
Outras pessoas dizem que Albert Einstein foi a fonte da afirmação. Della Sala tem tentado encontrar essa citação, mas ninguém que trabalha no arquivo Albert Einstein pôde sequer confirmar que tenha existido.
Parece mais um outro mito.
Pistas dos 10%
Mas existem dois fenômenos que talvez possam dar uma pista desse mal-entendido.
Nove de cada dez células do cérebro são do tipo neuróglias ou células gliais, que são células de apoio, que provêm assistência física e nutricional. Os outros 10% das células são os neurônios, que se encarregam de "pensar".
Assim, talvez se tenham interpretado que os 10% das células que se ocupam do trabalho duro de pensar poderiam aproveitar também as neuróglias para aumentar a capacidade cerebral pensante. Só que essas células são totalmente distintas e não podem simplesmente se transformar em neurônios para nos dar mais potência mental.
Existem os 10% que pensam, e os 90% que ajudam a pensar.
Há no entanto, um grupo de pacientes, cujas imagens do cérebro revelaram algo extraordinário.
Em 1980, um pediatra britânico chamado John Lorber mencionou na revista Science que alguns dos pacientes com hidrocefalia, que tinham muito pouco tecido cerebral, ainda assim tinham um cérebro que podia funcionar.
O caso, sem dúvida, demonstra que todos nós podemos usar nossos cérebros para fazer mais coisas do que sabemos, já que é sabido que as pessoas se adaptam a circunstâncias extraordinárias.
É certo, claro, que se nos propusermos, podemos aprender coisas novas. E cada vez há mais evidência que mostra que nosso cérebro muda. Porém, não parece ser que estejamos explorando uma nova área do cérebro. Acredita-se que, quando novas conexões entre as células nervosas são feitas, perdemos velhas conexões das quais já não necessitamos.
Talvez falar em um espaço cerebral de 90% para desenvolvimento seja uma forma atrativa porque oferece um potencial enorme para se melhorar.
Todos queremos ser melhores. E podemos, se nos cuidarmos.
Porém, encontrar uma porção de nosso cérebro em desuso, isto os cientistas ainda não encontraram.
Fonte: www.diariodasaude.com.br