Publicado por Redação em Vida em Grupo - 22/08/2011

Roubadas de carreira como hospitalista

O que é Medicina Hospitalar (MH) é de fácil aprendizado. Diabolicamente difícil está sendo convencer algumas instituições a abandonar a maneira pela qual sempre trabalharam e se engajar por inteiro na promoção da inovação.
 
Por medo de mudar, de contrariar, de decidir, de causar descontentamentos no corpo clínico tradicional, organizações têm estimulado o emprego de um hospitalista um pouco diferente daquele consagrado na literatura médica e de gestão hospitalar. Não deviam.
 
Em primeiro lugar, porque a adesão ao programa deve ser voluntária (salvo em algumas exceções, onde está regra poderia ser quebrada), ou seja: optariam pela MH os colegas médicos que encaminham e os próprios pacientes e familiares. Costuma ser um grande equívoco o direcionamento compulsório de pacientes para hospitalistas.
 
Ao adaptarem por não saber exatamente como fazer, estão promovendo os hospitalistas como “super-residentes” e/ou um meros auxiliares administrativos. Os oferecem como quebra-galho para o sistema, mantendo cirurgiões e sub-especialistas fazendo procedimentos lucrativos durante o dia e descansando durante a noite. Engraçado! Este é justamente um dos objetivos da MH! Mas devem existir mecanismos que assegurem um relacionamento equitativo entre as partes para que se tire proveito máximo do modelo.
 
Hospitais têm percebido lacunas na assistência médica, como, por exemplo, a partir do inadequado preenchimento de prontuários, assunto que esteve em pauta na Folha de São Paulo no início deste ano [leia aqui] e no próprio Saúde Web, em maio, com Sandro Scárdua, do Blog Gestão do corpo clínico [leia aqui]. Reclamam ainda de pouca adesão a padrões e rotinas. Quando o paciente não é demasiadamente complexo e o modelo tradicional acaba expondo todos a situações de elevado risco. Neste cenário, ao invés de incentivarem o modelo de MH propriamente dito, andam contratando médicos para o preenchimento dos buracos apenas. Há até pontos positivos nisto, mas certamente não será assim que desenvolveremos uma atividade médica para fazer a verdadeira diferença dentro do hospital.
 
Preocupados demais com a preservação de elementos da estrutura vigente, hospitais estão focando em medidas que em tese não comprometem tanto a satisfação do corpo clínico tradicional (o que é uma falácia em se tratando de MH bem aplicada), quando na prática avaliam e buscam excelência em outros indicadores, como satisfação do cliente. Há paradoxos a serem superados pelos gestores hospitalares. Querem prontuários melhor preenchidos? Em se falando de qualidade, isto é meio e não fim.
 
Roubadas de “carreira” como hospitalista?
 
Roubada para você, aspirante à hospitalista, porque, da forma acima descrita, o modelo jamais representará uma carreira médica como está sendo nos EUA e já pôde ser reproduzido em algumas instituições brasileiras. Porque médicos como meros auxiliares administrativos serão… ora, médicos não estudaram Medicina para fazer eminentemente este tipo de função, por mais importante que seja. Não irei sequer comentar! Muito diferente disto são médicos que compreendem o sistema e a lógica administrativa.
 
Quanto a atender urgências e emergências dos pacientes enquanto seus médicos assistentes não estão disponíveis, ou isto é plantão clínico, que “cá entre nós” não é nenhuma novidade (ou não deveria ser), ou isto é plantão clínico purpurinado, implantado ou reformulado como time de resposta rápida*, por vezes orientado ainda a vigiar o corpo clínico tradicional para o cumprimento de protocolos e outras rotinas.
 
* Posso responder sobre TRR’s em comentários se houver dúvidas sobre o que escrevi ou interesse adicional em minha opinião sobre eles.
 
Por que roubada para o sistema inserindo um novo médico, contratado pelo hospital, para servir de simples apoio ao corpo clínico tradicional, quando não de uma espécie de auditor? Porque leva à fragmentação adicional da assistência intra-hospitalar, ao aumento das “passagens de caso” entre médicos (fonte reconhecida de muitos erros). O coordenador segue fora do hospital, gera aumento de custos e até duplicidade em algumas situações, e quem trabalha dedicado ao hospital segue pouco valorizado. A figura do “colega e auditor” seria isso sim fonte de inesgotáveis conflitos, e com toda razão.
 
Pois bem, até aqui defendi direitos dos hospitalistas. E os deveres, não há? Isto pode ser assunto de outra postagem para detalhamento, mas que fique agora uma mensagem clara: o hospitalista também tem a sua parcela de contribuição ao sistema e a grupos e pessoas que o compõem. Precisa se preparar para ser um “novo” médico, mais atento aos meios e não somente aos fins, disposto a ser avaliado e maleável, capaz do verdadeiro trabalho em equipe. E isto contraria a formação médica tradicional! Há programas no Brasil em curso que não irão emplacar por culpa dos seus hospitalistas e não dos seus gestores. Se não melhorarem também o sistema (e demonstrarem isto para o gestor e na perspectiva dele), não irão sobreviver.
 
Tenho recebido e-mails de hospitalistas se queixando. É a velha saga de médicos reclamando de gestores e de gestores reclamando de médicos. Ambos precisaram mudar para a Medicina Hospitalar dar certo em nosso meio.
 
“Employing physicians is not the same as integrating those physicians into the hospital enterprise”.
 
Fonte: www.saudeweb.com.br | 22.08.11

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