Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 05/05/2020
Projeto de pesquisa que identificará na população anticorpos contra o coronavírus inicia hoje em São Paulo
Cientistas e médicos renomados se aliam ao Grupo Fleury, IBOPE Inteligência e Instituto Semeia para realizar estudo na capital paulista que trará informações necessárias para subsidiar políticas públicas voltadas ao controle e combate da pandemia, e que poderão permitir o retorno coordenado e sustentável da atividade econômica. O projeto foi aprovado dia 27 pelo Sistema CEP/CONEP, responsável pela garantia da ética em pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil.
Um grupo de moradores de São Paulo será convidado a participar do projeto de pesquisa-piloto e fará exame de sangue para identificação de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2. A pesquisa visa subsidiar políticas públicas de controle e combate à pandemia da COVID-19, oferecendo informações confiáveis sobre o percentual de pessoas já infectadas que poderão estar, pelo menos em parte, protegidas contra o coronavírus. Estas informações serão cruciais para que as autoridades de saúde possam tomar decisões sobre quando e de que forma o relaxamento das medidas de distanciamento social pode ser implantado.
A pesquisa é um projeto conjunto de cientistas e médicos renomados que se aliaram ao Grupo Fleury, ao IBOPE Inteligência e ao Instituto Semeia. O estudo consiste em aplicar o teste sorológico de diagnóstico da COVID-19 por meio da coleta de sangue e testes laboratoriais para estimar a fração de pessoas que já foram infectadas, produziram anticorpos e que poderiam estar imunes ao vírus causador da doença. O projeto, que aguardava avaliação para que a ação tivesse início nas ruas de São Paulo, foi aprovado na última segunda-feira, 27 de abril de 2020, pelo Sistema CEP/CONEP (Comitê de Ética e Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), responsável pela garantia da ética em pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil.
A partir desta aprovação, tem início na quinta-feira, dia 30, a preparação para a contagem dos domicílios com duração até sábado. A ação em campo começa na segunda-feira, 4 de maio, e terá duração de três dias corridos, sendo que a expectativa é que sejam coletadas cerca de 500 amostras de sangue, em 720 visitas a residências de bairros onde a doença tem sido mais prevalente. As visitas serão realizadas por um entrevistador do IBOPE Inteligência, que aplicará um questionário, e um enfermeiro da a+ Medicina Diagnóstica, do Grupo Fleury, que será responsável pela coleta de sangue. No total, 24 duplas capazes de cobrir 10 residências por dia integrarão o esforço, que passaram por treinamento para atuação em campo. O estudo será realizado nos distritos administrativos do município de São Paulo do Morumbi, Bela Vista, Jardim Paulista, Pari, Belém e Água Rasa.
Os domicílios selecionados por sorteio serão previamente informados sobre a possibilidade de participação na pesquisa por meio de uma carta do IBOPE Inteligência e contarão com um canal para esclarecimento de eventuais dúvidas. Os indivíduos que farão parte da população-alvo do estudo serão maiores de 18 anos e apenas um em cada casa será testado, bem como será mantido seu anonimato na pesquisa. Os indivíduos serão informados dos resultados de seus exames, sendo que não haverá pagamento de qualquer natureza para os participantes do estudo, seja para a coleta ou disponibilização do resultado do teste.
“É muito importante que os moradores dos domicílios selecionados aceitem participar desse estudo. Além de ficarem sabendo do resultado dos seus exames, contribuirão com a ciência e com os esforços de conter o avanço da pandemia no País”, diz a CEO do IBOPE Inteligência, Márcia Cavallari Nunes.
As amostras de sangue serão processadas e analisadas pela área técnica do Grupo Fleury por metodologia de identificação sorológica que irá apontar os indivíduos que ainda não tiveram contato com a doença e os que já produziram anticorpos para o SARS-CoV-2, inclusive podendo ter sido assintomáticos ou oligossintomáticos.
“A escolha do teste de diagnóstico pelo método sorológico deve-se à qualidade do exame e à possibilidade de oferta em escala, permitindo que a iniciativa seja reproduzida para toda a cidade de São Paulo e até mesmo no País”, explica Celso Granato, infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury, também pesquisador líder do projeto.
O especialista explica que os resultados darão uma radiografia momentânea da imunidade da população nas regiões mais afetadas da capital. “É como uma pesquisa de intenção de votos. Teremos um dado momentâneo. Outros testes são necessários para determinar a evolução da imunidade nas regiões e em outras partes da cidade, o que será feito em outras etapas”, completa Granato.
A partir do resultado do teste sorológico de diagnóstico da COVID-19 e das respostas do questionário pelo indivíduo, as prevalências de infecção pelo vírus SARS-CoV-2 serão estudadas por meio de estimativas da fração da população que já foi infectada e que provavelmente se tornou imune ao vírus e está total ou parcialmente protegida, levando-se em consideração os aspectos complexos do plano de amostragem (sorteio de conglomerados, estratificação e ponderação).
O resultado do estudo permitirá trazer informações científicas e estatísticas que possam subsidiar eventuais políticas públicas por parte das autoridades governamentais de abrandamento das medidas de distanciamento social de maneira adequada, concedendo à população o retorno seguro às suas atividades diárias.
“Sem estudos epidemiológicos como esse, onde testamos uma amostra representativa da população em geral independentemente de critérios relacionados à presença de sintomas da COVID-19, não é possível conhecer a dimensão e a progressão da pandemia e nem o grau do isolamento social necessário para controlar a disseminação do vírus. Hoje as projeções são feitas a partir de dados das internações e óbitos por síndrome respiratória aguda grave. Este inquérito irá fornecer dados fundamentais para entendermos o tamanho do problema em nosso meio e podermos fazer um planejamento de ações com base em uma avaliação direta do que está acontecendo”, afirma a co-pesquisadora do projeto Dra. Beatriz Tess, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
“Sem os resultados de um mapeamento como esse, a tomada de decisão é muito incerta. Estamos empenhados com nossos parceiros neste estudo para contribuir com informação relevante em um momento como o que estamos presenciando no mundo”, relata a CEO do IBOPE Inteligência.
Estima-se que a imunidade coletiva acima de 80% torna a transmissão do SARS-CoV-2 esporádica. Nesse percentual, acredita-se que o vírus até consegue migrar de uma pessoa para outra, mas encontra, na maioria dos casos, um ser humano anteriormente infectado e, portanto, capaz de produzir anticorpos contra esse vírus, findando o contágio e permitindo o fim do isolamento.
Todos os dados obtidos com a pesquisa do projeto piloto serão compartilhados com outras autoridades de saúde e instituições de pesquisa e divulgados amplamente após o término do estudo, bem como serão posteriormente publicados em revistas científicas, sempre garantindo a confidencialidade dos dados pessoais dos participantes. A partir do sucesso do projeto piloto, o levantamento epidemiológico poderá ser repetido periodicamente para determinar o crescimento do número de pessoas imunes ao longo do tempo, podendo ser estendido para toda a cidade de São Paulo e para outras cidades do país.
“Em um momento de extrema complexidade como este, é fundamental apoiarmos iniciativas de fomento à pesquisa que sejam capazes de orientar o nosso retorno à normalidade com segurança. E como entidade de impacto, comprometida com o bem-estar das pessoas, o Semeia decidiu somar esforços a essa ação, dedicando recursos humanos e financeiros para ajudar a viabilizar o projeto, em complemento à sua atuação original”, explica Fernando Pieroni, diretor-presidente do Semeia, organização apoiadora da pesquisa.
Fonte: Saúde Business