Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 04/10/2012

Pressão do governo pode forçar consolidação na saúde

Na área de saúde suplementar privada, com mais de 1.300 operadoras em atuação - dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) -, a possibilidade de haver uma concentração de "poder" na mão de grandes players fica ainda mais evidente. Com as mudanças regulatórias instituídas na Norma 259 que entraram em vigor e alteraram as regras de atendimento das operadoras no País, a previsão de incorporações e fusões segue como uma perspectiva que ganha a opinião de especialistas. Afinal, estes são movimentos comuns em setores muito regulados pelo governo, nos quais as empresas menores são obrigadas a atender as mesmas exigências das grandes e a manter a competitividade.

O movimento também pode ser resposta do mercado às punições da Agência, que no último dia 2 anunciou a segunda proibição da venda de planos de saúde, decisão que afetou principalmente companhias de menor porte, apontaram analistas consultados pelo DCI.

Luiz Marcatti, sócio e diretor da área de Gestão da Mesa Corporation Governance, explicou que muitas incorporações aconteceram neste mercado há dois anos, quando algumas redes de hospitais compraram outros hospitais no País. Ele frisou que neste segundo momento, as administradoras de planos de saúde podem aproveitar a inserção de novas regras, fato catalisador de mudanças, para comprar players menores porque, possivelmente, seus concorrentes farão aquisições. "Quem não fizer, corre o risco de perder espaço no mercado", comentou Marcatti.

As empresas pequenas também tendem a atrair compradores de maior porte para evitar a desvalorização de seu patrimônio. "Em momentos de transição os empresários têm o desafio de não perder o bonde e aceitar novos desafios. Aqueles que não conseguirem se bancar e insistirem em atuar sozinhos poderão ver seu capital desvalorizado e até ser extintos", disse o analista.

Incorporações e fusões não são estratégias usadas apenas na área da saúde. Luiz Toro da Silva, da Toro & Advogados Associados, aponta que isto já aconteceu com os bancos e com as seguradoras, por exemplo. "Muitas operadoras podem ter dificuldade de permanecer no mercado porque nem todas são capazes de atender os aspectos da Norma 259, fato ilustrado pela nova punição anunciada pela ANS", explicou.

Já Gabriel Walmory Silveira, consultor da Frost&Sullivan também acredita que o setor viverá um período caracterizado por várias ações de compra, mas ele ressaltou que no Brasil, diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos, o mercado de saúde se manterá "plural", até porque o Brasil possui um sistema antigo de saúde pública, fato que não acontecia no cenário norte-americano que entrou em colapso. "Mesmo havendo uma concentração, o mercado de saúde privada terá ainda vários players, mantendo uma competição sadia", afirmou o consultor.

Depois do anúncio da suspensão, que impedirá a venda de 301 planos de saúde, diversas organizações do segmento se pronunciaram publicamente. A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), entidade que representa 15 grupos empresariais, entre os quais as companhias Amil Saúde, Bradesco Saúde, Care Plus Medicina Assistencial, Golden Cross e Unimed Seguros Saúde, sinalizou apoio no caso da decisão da ANS. "Apoiamos tudo que representa mais transparência para os beneficiários de planos e que tenha a finalidade de protegê-los." Vale ressaltar que nenhuma das empresas representadas na entidade teve planos suspensos.

A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), por outro lado, considerou a decisão uma medida equivocada e questionou o processo de análise da ANS. A entidade sinalizou, em nota, que vai discutir com as associadas as medidas que tomará frente a esta nova "ingerência" na comercialização de produtos. "As empresas lutam para manter o atendimento em alto nível, inclusive com a comercialização de novos planos ", ressaltou.

No anúncio da suspensão, o ministro da Saúde, José Padilha, salientou que quem já é beneficiário dos planos não pode ter seu atendimento prejudicado.

Raio-X do setor

Dados compilados pela consultoria Frost&Sullivan apontam que em 2003 18% da população brasileira tinha seguro de saúde. Já em 2011 esse número passou para 25%. Cerca de 1.350 companhias oferecem serviços médicos, das quais 73,3% são médico- -hospitalares, e 26,7%, odontológicas. O mercado da saúde tem a expectativa de faturar US$ 36 bilhões em 2012.

O Brasil representa hoje 43% do mercado na América Latina. Em 2015 deve subir para US$ 52.3 bilhões. O setor privado atende mais de 48 milhões de pessoas e realiza anualmente 890,3 milhões de procedimentos, dos quais 254 milhões são relativos a consultas médicas; 517 milhões, a exames complementares; 75 milhões, a terapias; além de 38 milhões de outros atendimentos ambulatoriais, e 6,3 milhões de internações em todo o Brasil.

Fonte: www.cqcs.com.br


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