Publicado por Redação em Mercado - 15/09/2020
Presidente do Google conta como empresa está atuando na transformação digital no Brasil
O Brasil tem uma história de amor com o Google – e a recíproca é verdadeira. Essa é a metáfora usada por Fábio Coelho, presidente da empresa no Brasil, ao descrever a relevância do país na operação global da gigante de tecnologia, bem como o apelo dos produtos da big tech para milhões de brasileiros.
A empresa abriu as portas no Brasil em 30 de março de 2005, quase sete anos depois do lançamento em Menlo Park, na Califórnia, em 4 de setembro de 1998 – o Google nasceu do encontro de dois estudantes do curso de doutorado na Universidade de Stanford: Sergey Brin, que já era aluno de ciência da computação, foi apresentar o campus para Larry Page, que chegava de Michigan para conhecer o local. A afinidade entre os dois foi tamanha que criaram o Google, que nasceu, de fato, com o nome de BackRub.
A presença física da empresa no Brasil é um dos frutos dessa relação de longo prazo, que já dura 15 anos: além do escritório comercial em um prédio emblemático na avenida Faria Lima, em São Paulo, as múltiplas instalações do Google no Brasil incluem um escritório de engenharia em Belo Horizonte, uma região de cloud no estado de São Paulo, o YouTube Space no Rio de Janeiro e o Google for Startups Campus na capital paulistana, o único espaço de empreendedorismo tecnológico da empresa na América do Sul.
No que diz respeito ao portfólio de produtos, nove das plataformas da empresa têm mais de 1 bilhão de usuários: o mecanismo de busca, o navegador Chrome, a loja de aplicativos Play Store e as plataformas de armazenamento de arquivos e fotos Google Drive e Photos, além do Google Maps e do sistema operacional Android.
O Brasil está entre os cinco maiores mercados para todas essas plataformas, em tamanho e em engajamento. O número de celulares baseados em Android em uso por aqui demonstra a onipresença da empresa no país: 95% dos smartphones rodam o sistema do Google, segundo uma pesquisa da consultoria IDC.
“Nossas plataformas têm uma excelente aceitação pelos brasileiros, é realmente uma história de amor: o brasileiro gosta muito do Google e o Google gosta de estar presente no Brasil”, confessa Fábio, ressaltando a força da marca empregadora do Google: no Glassdoor, site que reúne avaliações das empresas pelos próprios funcionários, a gigante de tecnologia é recomendada por 97% de seus colaboradores brasileiros.
Fábio, que lidera a empresa no Brasil há quase uma década, também teve seu estilo de gestão reconhecido em múltiplas premiações: mais recentemente, em abril, ocupou o segundo lugar no ranking anual do Monitor Empresarial de Reputação Corporativa (Merco), como líder de melhor reputação no país, subindo cinco posições em relação ao ano anterior.
“Ficamos mais eficientes em casa”
O intenso expediente do presidente inclui reuniões semanais com o grupo comercial da empresa, de mais de 550 pessoas, bem como frequentes encontros com a diretoria, que acontecem via videoconferência durante a pandemia. Esse formato de trabalho é natural no Google, e a operação remota tem dado certo: “Estou muito impressionado com nossa capacidade de trabalhar de casa: nos planejamos mais, criamos rotinas e ficamos mais eficientes”, aponta o executivo, que, no momento desta entrevista (fim de maio), operava em regime de home office havia nove semanas.
Durante o período de distanciamento social, Fábio tem colocado suas habilidades socioemocionais em ação para liderar os cerca de mil funcionários do Google Brasil durante a crise. “Um olhar mais humano se faz necessário para entender como funciona a socialização a distância: escutar bem, permitir que todos falem e que ninguém se sinta excluído é o grande desafio e, ao mesmo tempo, o grande aprendizado.”
Uma das grandes preocupações de Coelho é garantir o apoio de que os Googlers precisam no período de home office, em áreas como infraestrutura e saúde mental. “Líderes neste momento precisam mostrar o caminho, modelar comportamentos que se traduzam em ajudar as pessoas e, com isso, remover obstáculos para que as equipes possam trabalhar.” Até 18 de maio, o Google não tinha um prazo para a retomada das atividades nas instalações físicas, e o protocolo de retorno, bem como a possibilidade de testagem de funcionários, ainda não estava definido. “Voltaremos apenas quando tivermos as condições para tal, e o retorno será faseado”, ressalta.
“Estou muito impressionado com nossa capacidade de trabalhar de casa: nos planejamos mais, criamos rotinas e ficamos mais eficientes”, diz Fábio Coelho
Enquanto a pandemia não é superada, ele crê que a atual situação apresenta a possibilidade de uma sociedade mais humanizada. “Observamos alguns ambientes menos poluídos, mar e céu mais limpos, cidades menos poluídas: de alguma forma, isso mostra que nós conseguimos alterar o nosso destino social, ao mesmo tempo que pensamos sobre o quanto dependemos uns dos outros. A palavra aqui é interdependência.”
A importância da publicidade online
Com a chegada do novo coronavírus, o Google intensificou sua atuação como um importante aliado na transformação digital que governos e empresas precisaram acelerar, com ferramentas como cloud e publicidade online. “Tivemos que trabalhar mais para ajudar estas organizações, ajustar a maneira em que estas plataformas as servem”, explica.
Segundo o executivo, a instabilidade provocada pela Covid-19 trouxe uma mudança no mix de anunciantes que têm lançado mão de AdWords e a forma como o fazem. Enquanto companhias aéreas pararam de investir, a indústria automobilística voltou depois de uma pausa para observar o mercado. Outros players, como os do segmento de varejo hortifrutigranjeiro, aumentaram significativamente seu investimento. “Empresas entenderam que as pessoas continuam precisando de produtos ou serviços e que a forma de se conectar com elas nesse momento é através do ambiente digital.”
A resposta do Google à crise passou também por entender o momento atual do brasileiro e traçar futuros possíveis em termos de consumo e atitudes. Um estudo do Google, compartilhado com exclusividade com a Forbes, ilustra essa transformação. De acordo com a pesquisa, mais de 60% dos brasileiros estão passando mais tempo com a família e, consequentemente, decisões de consumo são cada vez mais compartilhadas com outras pessoas. Além disso, 40% dos consumidores no Brasil começaram a comprar mais em comércios locais por causa da Covid-19, o que traz uma grande oportunidade para que esses negócios estabeleçam uma presença online.
Segundo Fábio, o Brasil tem diversos exemplos de empresas que buscaram a digitalização e, portanto, já estavam bem estruturadas para atender uma situação como a pandemia. Exemplos: Magazine Luiza, ViaVarejo, B2W e Mercado Livre. Porém, o momento é desafiador para outras tantas que tiveram que se adaptar para garantir sua sobrevivência, ou para as quais o digital nem sequer é possível. “O brasileiro é extremamente adaptável e resiliente, mas essa adaptação é bem mais difícil para quem depende de pontos de venda físicos, como bares, que são lugares de convivência social.”
Outras tendências apontadas no estudo, que eram esperadas para daqui a dois ou três anos e foram antecipadas pela pandemia, incluem o aumento de uso de entregas, com 37% de usuários de internet no Brasil dizendo que estão usando delivery com mais frequência, ao passo que 22% vão continuar com esse hábito mesmo depois do fim das medidas de distanciamento social, na medida em que consumidores associam compras online a uma maior segurança. As compras aumentaram em volume, e o número de entregadores usando automóveis também aumentou.
Investimento no combate ao vírus
No fim de março, o CEO global da empresa, Sundar Pichai, anunciou o investimento de US$ 800 milhões em recursos para apoiar empresas e organizações de saúde, que incluem créditos em publicidade online e um fundo de crédito para pequenas empresas. Medidas específicas para o Brasil incluem a disponibilização de mais de R$ 1 milhão através do braço filantrópico da empresa, o Google.org, para apoiar iniciativas que enderecem as demandas da crise com tecnologia. O fundo já beneficiou entidades como a Olabi, organização social carioca que conecta demandas de hospitais com quem produz itens como equipamentos de proteção individual.
Divulgação Google
Campus de Startups, em São Paulo
A gigante de tecnologia segue investindo na aceleração de startups brasileiras. A edição do programa de residência deste ano é a primeira a acontecer de forma totalmente digital. Uma de suas mentoradas, a Portal Telemedicina, desenvolveu uma tecnologia de inteligência artificial capaz de distinguir uma pneumonia tradicional da Covid-19 por meio de exames de imagem.
Além disso, a empresa compartilha seu ferramental tecnológico e seus recursos em parcerias com o poder público, autoridades de saúde e organizações sem fins lucrativos para o enfrentamento ao novo coronavírus. Isso inclui sistemas para apoiar o ensino a distância em escolas estaduais, o compartilhamento de dados agregados e anônimos sobre o deslocamento da população sob quarentena para orientar políticas públicas no Brasil, bem como discussões com o governo sobre a tecnologia criada em parceria com a Apple, que permite o desenvolvimento de aplicativos que notificam usuários no caso de exposição à Covid-19.
Fonte: Forbes