Publicado por Redação em Notícias Gerais - 04/07/2013
Por que economia não vai deixar relaxar nas férias de julho
Para o Banco Espírito Santo, com as perspectivas de crescimento ainda patinando, parece complicado haver uma perspectiva de melhora no curto prazo
Se as perspectivas para a economia brasileira já não eram as melhores, agora, um acontecimento externo e um doméstico disseminaram mais o pessimismo entre os agentes, completando o quadro de “tempestade perfeita” (conjunto de fatos negativos concomitantes), segundo relatório do Banco Espírito Santo (BES). “Serão férias nada calmas”, afirma o relatório assinado pelo economista chefe do banco, Jankiel Santos, e pelo economista sênior Flávio Serrano.
Caso ocorra, a melhora deve se iniciar em agosto, segundo o relatório. “Com as perspectivas de crescimento ainda patinando, parece-nos complicado que haja perspectiva de melhora no curto prazo”, afirma o relatório.
Do lado externo, há a questão de liquidez bancária chinesa, que, segundo o BES, “reforçou a preocupação quanto à solidez do sistema financeiro daquele país e seu possível impacto sobre a – já não animadora – trajetória de crescimento econômico e os preços de commodities”. Do lado doméstico, o relatório, sem citar nomes, resume a situação da OGX: “problemas com o balanço de uma empresa petrolífera com participação relevante no índice Bovespa e com possibilidade de contágio elevada por conta de seu alto endividamento bancário só aumentaram a aversão para com papéis de companhias brasileiras”.
Além disso, a economia brasileira também sente a sinalização dada pelo Fed de alteração no seu programa de estímulo – com início previsto para setembro. “Tal alteração de postura já acabou sendo antecipada pelos agentes de mercado e provocou uma corrida para realocação de recursos ao redor do globo, com penalização aos mercados emergentes em geral e maior carga de ‘castigo’ sendo infligida especialmente aos que não estão cumprindo sua ‘lição de casa’”, segundo o relatório. A economia brasileira tem sido considerada como pertencente ao segundo grupo.
Juros
A divulgação da balança comercial, nessa semana, mostrou o pior saldo para um primeiro semestre em 18 anos, com crescimento mais intenso das importações. Para o BES, a deterioração observada no saldo em transações correntes mostra que a escassez de oferta vai se tornando cada vez mais crítica, levando os consumidores brasileiros a buscarem cada vez mais produtos e serviços no exterior.
O impacto da desaceleração da economia chinesa sobre as commodities faz com que os agentes econômicos tenham a impressão de que a trajetória declinante do saldo comercial só deverá se agravar. “Diante de tal combinação negativa e com a perspectiva de menor liquidez internacional disponível, não é surpresa que a moeda brasileira tenha se enfraquecido substancialmente”, diz o relatório. A pressão para desvalorizar o real deverá permanecer presente neste e nos próximos meses, segundo o BES.
A retirada das medidas adotadas durante o chamado “tsunami cambial” e as constantes intervenções do BC no câmbio reforçam a percepção do BES de que o ambiente inflacionário já conturbado forçará o governo a tentar amenizar o enfraquecimento do real. “A alta volatilidade observada recentemente no mercado cambial deverá continuar ao longo de julho”, afirmam os economistas.
“A percepção de que a taxa de câmbio poderá se estabilizar em patamar mais enfraquecido que anteriormente acaba também por provocar efeitos deletérios no ambiente inflacionário”, segundo o BES, para quem essa situação deverá fazer com que o Banco Central eleve a taxa básica de juros para um patamar superior ao desejado previamente pelo governo. Mas nada muito drástico. “Poder-se-ia pensar, portanto, que a disposição governamental para tomar medidas drásticas realmente é para valer. Ledo engano”, afirma o BES. Para o Banco, a divulgação do relatório de inflação e as declarações dadas pelas autoridades após a divulgação sinalizam desconforto em se fazer um ajuste célere e agressivo da taxa básica de juros para recolocar a variação do IPCA em trajetória de convergência para a meta.
Segundo o BES, no longo prazo, a inflação será, aparentemente, um problema ainda maior e vai requerer um ajuste abrupto. “Na reunião do Copom que acontecerá em julho, a autoridade monetária brasileira terá a chance de reverter esta percepção, mas, como dito anteriormente, os sinais não são promissores’, afirma o relatório.
O BES projeta um crescimento real do PIB de 2,3% em 2013; a inflação, medida pelo IPCA, em 6,0% e a Selic (final) em 9,25%.
Fonte: exame.com