Publicado por Redação em Gestão do RH - 03/07/2020
Para Mark Dixon, fundador da IWG, o futuro dos espaços de trabalho é híbrido
Entregando jornais pela pequena cidade de Essex, a aproximadamente uma hora de Londres, o jovem Mark Dixon só pensava sobre sua paixão: os negócios. Talvez esse tenha sido o principal impulso de suas decisões quando, aos 16 anos, decidiu sair do ensino médio e ir atrás do empreendedorismo que tanto admirava. “Meu pai não falou comigo direito por muito tempo. Ele tinha grandes planos para mim, mas eu não realizei. Se você falar com meu pai agora, ele ainda vai achar que eu poderia ter me saído melhor”, diz Dixon, fundador e CEO da IWG – International Workplace Group – com patrimônio líquido de US$ 1,3 bilhão, em live com a Forbes Brasil.
Entrevistado pela jornalista Juliana Ventura e pelo CEO da Regus do Brasil, Tiago Alves, na última quarta-feira (24), Dixon revela que começar a estudar os negócios, aprender com os erros e ter grandes pessoas a sua volta foi a melhor escola que poderia ter feito. Logo que saiu do ensino médio tradicional, iniciou um negócio de entrega de sanduíches. Em seguida, explorou uma variedade de setores como venda de enciclopédias e lenha. Tudo isso até criar seu primeiro espaço de escritório compartilhado em Bruxelas, em 1989, quando já estava completando quatorze anos na estrada dos negócios.
Como um presente por toda sua trajetória, a IWG, anteriormente conhecida como Regus (marca que ainda tem em seu portfólio), nasceu. Alugando, desenvolvendo e sublocando espaços flexíveis de escritório, como salas de conferência e áreas de trabalho compartilhadas, o projeto se expandiu pelo mundo e já está presente em mais de 3.300 localidades, 1.200 cidades e 110 países. Esse alcance global faz dele o maior operador de espaço de trabalho flexível do mundo.
Isso coloca Dixon no meio da tormenta atual. Com a crise de coronavírus, escritórios no mundo inteiro tiveram que mudar sua rotina e adotar outras formas de atuação, como o home office, fazendo com que a mudança do espaço de trabalho se acelerasse. “É uma tendência, não é apenas por causa da pandemia. A pandemia só esclareceu tudo. Isso é o futuro dos espaços de trabalho, um trabalho híbrido. Ter um ambiente que às vezes as pessoas utilizam, às vezes não”, explica.
Segundo o empresário, é preciso ter como base de pensamento estratégico os desejos do cliente sobre o assunto. Repensar como as pessoas querem trabalhar. Parte pelo escritório e parte em casa? Tudo em casa? As pessoas foram forçadas a mudar, mas elas querem continuar com isso no futuro? Para ele, a resposta é mais do que clara. Ficar horas dentro de um transporte público, ou mesmo no carro, mas com trânsitos quilométricos, não é mais sinônimo de produtividade. Além de tudo, ainda é prejudicial para o meio ambiente, visto que em diversos países a poluição diminuiu muito com a restrição de pessoas nas ruas durante a pandemia.
Se o seu serviço pede apenas computador, celular e internet, não é mais visto como necessário estar todos os dias dentro de um escritório longe de casa para mostrar eficiência. “Isso vai afetar 50% da população que trabalha e usa escritórios. Ano passado era 30%, esse aumento é a realidade pós-pandemia”, revela. “O que podemos ter certeza é que a forma como as pessoas trabalham nunca mais vai ser igual.”
Dixon ainda conta que toda essa aceleração mudou positivamente seus planos para os próximos anos. “O nosso trabalho é oferecer os espaços físicos com layout digital. Nós queremos estar em todos os lugares e precisa ser conveniente. Você precisa de um local de trabalho que encontre facilmente; perto de sua casa, perto de um local onde você vai viajar…para que você possa acordar e pensar onde quer atuar naquele dia. Fizemos um aumento de capital de 400% até agora.”
Para o CEO, todo esse avanço em meio à crise tem relação com a forma de lidar e enxergar os novos cenários, mesmo que sejam tempestuosos. Ele revela que, em 40 anos de carreira, nunca passou por um momento tão grave quanto esse, porém, destaca ter visto “mais inovações nesses três meses do que nos últimos cinco anos”. As transformações na economia e no modo como as pessoas vivem podem ser duradouras e catalisadoras de oportunidades.
Para saber navegar em mares turbulentos, Dixon dá algumas dicas que o fizeram chegar em terra firme com sucesso tanto em crises passadas quanto na atual.
1. Combata a crise, mas também explore suas oportunidades
“Não pense apenas em lutar com a crise, mas também nas oportunidades que elas podem trazer”, diz o CEO. Com escritórios no mundo inteiro, ele já passou por turbulências como 11 de setembro, gripe suína, vulcões, terremotos, ciclones, tiroteios, e muito mais, e percebeu que se a crise surge, é preciso encarar esse fato, lutar contra as consequências negativas e tentar tirar algo de bom da situação. É a única realidade disponível, então é com ela que é preciso trabalhar. “Eu comecei a IWG em uma grande crise imobiliária. O primeiro prédio eu não seria capaz de financiar se fosse uma época normal. O mercado imobiliário estava inacreditavelmente fraco. Eu usei isso para fazer um acordo e construir meu primeiro escritório”, conta.
2. Pense o impensável
“Essa é uma crise gigante, mas as regras são sempre as mesmas”, diz o empresário. Se tudo está contra você, é preciso pensar diferente, o impensável. Seu maior marco nessa situação foi a própria criação da IWG. Caminhando profissionalmente por diversos setores, como venda de sanduíches, enciclopédias e lenha, ele nunca abandonou seu costume de observar as pessoas a sua volta, até perceber que era muito comum ver trabalhadores atuando de maneira ineficiente em todos os tipos de lugares, seja por estar em um ambiente desconfortável e barulhento ou por ter que se locomover para um lugar que não era nada inspirador. Além disso, ele sabia que o setor imobiliário tinha uma relação muito complicada com as empresas, sendo extremamente problemático para se conquistar melhorias. Com todo esse cenário de fundo, ele apostou o impensável: abriu seu primeiro escritórios propondo que empresas pagassem para ter acesso a espaços de trabalho em todo o mundo; onde quisessem, da forma que quisessem.
3. Pense rápido
Dixon destaca a importância de trabalhar com rapidez e produtividade para tentar se esgueirar da crise. “Trabalhe os sete dias da semana, final de semana. Você tem que lutar, não pode deixar para pensar depois. Tem que fazer o seu melhor”. Dificilmente algo vai cair no seu colo com facilidade. Para o CEO, essa realidade bateu em sua porta logo no início da pandemia. Quando o mercado de ações atingiu seu pico em fevereiro, Dixon estava mais rico do que nunca, valendo quase US$ 2 bilhões. Então o coronavírus chegou, mandando trabalhadores para casa e baixando as ações da empresa em 75%.
Em meados de março, Dixon trabalhou para tentar fazer acordos com as empresas e manter os contratos em voga. Além disso, anunciou o cancelamento de seu próximo pagamento de dividendos e a interrupção das recompras de ações como parte de um esforço para reduzir custos operacionais, limitar o crescimento e as despesas de manutenção e otimizar os fluxos de caixa. Medidas emergenciais pensadas rapidamente para manter um equilíbrio em sua empresa, o que ele está conseguindo.
4. Estimule a comunicação
Em um momento de crise, a comunicação se torna mais importante do que nunca. “Se você falava com as pessoas da equipe mensalmente, comece a fazer isso semanalmente. Se fazia semanalmente, comece a fazer todo dia. Comunicação faz com que as pessoas continuem com você e entendem o que você faz”, revela. Sendo assim, você conquista parceiros, funcionários e até clientes que entendem sua situação e decidem passar por ela junto de você. “Estamos fazendo muitas reuniões internas, fazendo com que as pessoas tirem suas dúvidas e se esclareçam sobre tudo.”
Para ele, uma palavra chave para o momento são as plataformas. Chamadas de vídeo, de mensagem, de planilha. São ferramentas que se mostram extremamente fortes para o futuro profissional, visto que conseguem unir toda uma equipe e manter produtividade e eficiência. “As pessoas vão começar a usar muito mais essas plataformas…elas ligam tudo. Alcançamos essa nova fronteira do digital.”
Fonte: Forbes Brasil