Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 06/07/2012
Ouabaína: tratamentos inovadores para Parkinson e Alzheimer
Hormônio neuroprotetor
Pesquisadores brasileiros descobriram que o hormônio denominado ouabaína ativa substâncias que apresentam um efeito neuroprotetor no sistema nervoso central.
A descoberta poderá levar à produção de fármacos para tratamento de doenças neurodegenerativas, como mal de Parkinson e Alzheimer.
A ouabaína é uma substância extraída da planta Strophantus gratus e também encontrada no organismo humano.
"Nosso grupo é pioneiro em mostrar a ação da ouabaína em atividades protetoras dos neurônios cerebrais", explica o professor Cristoforo Scavone, que orientou o estudo desenvolvido pela pesquisadora Elisa Mitiko Kawamoto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Ouabaína
A ouabaína - ou estrofantina-g - é uma substância extraída da planta Strophantus gratus e seu congênere, digoxina.
Atualmente ela é utilizada para tratar a insuficiência e a arritmia cardíaca, promovendo aumento da força de contração cardíaca e normalização do ritmo do coração.
"Cientistas dos Estados Unidos e do Japão constataram que a ouabaína também é produzida no organismo humano, em pequena quantidade, e encontraram vestígios do hormônio no sistema nervoso central. Posteriormente, constatou-se que o hormônio também é produzido nas glândulas suprarrenais", conta Scavone.
Tratamentos inovadores
Segundo o professor, o tratamento clássico das doenças neurodegenerativas é baseado em fármacos que atuam apenas como paliativos.
Com a descoberta do grupo surge uma nova possibilidade de desenvolver fármacos que bloqueiam os processos ligados à morte neuronal, o que poderá impedir a progressão dessas doenças.
"Os tratamentos convencionais apresentam bons resultados em alguns pacientes. Já outros não respondem bem ao tratamento. Sabemos que as doenças neurodegenerativas são multifatoriais", comenta Scavone, sinalizando aí a possibilidade de surgimento de um modo inovador para tratamento de doenças neurodegenerativas.
Glutamato
No primeiro estudo, realizado em ratos, os cientistas injetaram o hormônio na região do hipocampo do cérebro (região ligada à perda da memória) e perceberam que havia um aumento de uma proteína que tem capacidade de modelar a expressão de genes importantes para a proteção dos neurônios.
Foram usadas baixas concentrações da ouabaína, dentro do nível fisiológico, ao contrário das utilizadas para a produção de fármacos cardiotônicos, que são mais altas.
Essa baixa concentração do hormônio foi capaz de modular a ação dos receptores de glutamato, um aminoácido excitatório presente no organismo e fundamental para a atividade do sistema nervoso central.
Mas o glutamato acaba provocando a morte de neurônios quando encontrado em quantidade excessiva no organismo. Por isso, o excesso do aminoácido está associado a doenças neurodegenerativas como o mal de Parkinson e o Alzheimer.
No Parkinson, ocorrem problemas com os neurônios ligados à produção de dopamina, afetando a parte motora. No Alzheimer, a morte e degeneração dos neurônios causa danos ao sistema límbico (área do cérebro responsável pelas emoções) ou motor.
A pesquisa mostrou que a ouabaína modula ação dos receptores de glutamato, levando à produção de genes importantes para a sinalização protetora, que atuariam evitando a morte desses neurônios.
Resposta inflamatória
O segundo estudo, realizado pela pesquisadora Larissa de Sá Lima, foi feito em cultura de células primárias, uma mistura de neurônios e glia - glia é um conjunto de células que envolvem os neurônios.
Os resultados obtidos foram semelhantes, indicando que a ouabaína modula genes ligados à resposta inflamatória e dos fatores neurotróficos (proteínas que favorecem a sobrevivência dos neurônios).
Fonte: www.diariodasaude.com.br