Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 03/11/2016
O consenso da insatisfação. O setor de saúde não tem outra opção a não ser a de evoluir.
Quem está satisfeito com o sistema de saúde no Brasil? Seja ele público ou privado, quase todos os agentes atuais do setor demonstram insatisfação. Dos clientes aos reguladores, passando pelas operadoras de planos de saúde, pelos médicos e pelos prestadores de serviços em geral há um grande consenso: o setor não funciona adequadamente e não entrega resultados satisfatórios aos clientes. Os custos são elevados para quem paga e as receitas insuficientes para quem recebe.
Em situações como essa, é natural que apareçam propostas mirabolantes e aparentemente milagrosas. Mas logo são abandonadas e esquecidas. E a razão é simples. Esgotaram-se as possibilidades de reformar por dentro um sistema que atua de forma desarticulada, sempre no processo de prestação de serviços e nunca no resultado da intervenção. Como costumamos falar com técnicos do setor: o modelo de atenção à saúde atual faliu. Pior: nada relevante foi colocado no lugar.
Atendo-se apenas ao setor da saúde suplementar, o quadro atual nos revela queda de clientes; aumento da sinistralidade (relação entre custo com assistência e receita das operadoras); prejuízos sistemáticos das Operadoras de Planos de Saúde (OPS); falência de hospitais e clínicas, além das próprias OPS. Os custos dos serviços que envolvem a saúde suplementar no Brasil aumentaram, em média, 18% ao ano, nos últimos 3 anos.
Fazer mais do mesmo, esperando resultado diferente nunca deu certo e nunca dará. Então, qual a saída?
Os mais de 30 anos trabalhando neste setor, seja na iniciativa privada ou no setor público, me deram respaldo para admitir que a sobrevivência do setor saúde depende da gestão, de ponta a ponta, que possa aumentar a eficiência, reduzir desperdício e riscos, identificar e corrigir falhas e integrar todos os agentes do segmento - médicos, hospitais, laboratórios, operadoras de saúde, órgãos reguladores do sistema e beneficiários - em um mesmo propósito: o de salvar a saúde do próprio setor, gerando valor real para o sistema e para seus beneficiários.
Mas isso depende, também, em reestruturar a forma de prestação de serviços na área da saúde. Em todo o mundo, os sistemas de saúde que melhores desempenhos apresentam são aqueles com porta de entrada estruturada e hierarquizada, com foco de atenção primária em saúde. A modalidade de pagamento evoluiu do fee for service (pagamento por produção de serviços) puro para modelos mistos, que podem incorporar formas de captação e remuneração por desempenho e resultado. Os modelos de atenção integral à saúde, com forte processo de avaliação de desempenho, resultado e foco na relação custo-efetividade na implementação das ações, mostram-se como uma direção mais assertiva para combater as mazelas do setor e torná-lo mais eficiente.
A partir dessa premissa, a pergunta subsequente é a seguinte: existe uma receita adequada para manter um sistema de saúde suplementar verdadeiramente saudável como negócio, criando mecanismos para garantir sua longevidade e sua sustentabilidade, simultaneamente gerando resultados e satisfação para os clientes?
Tenho vivido uma experiência bastante positiva, que me leva a acreditar que medidas relativamente simples, desde bem articuladas e com foco no resultado, podem fazer muita diferença. Estou na Qualirede desde julho deste ano (embora já conheça a empresa há anos e já tenha prestado consultoria anteriormente). A empresa nasceu em 2009, em Santa Catarina, e hoje tem presença em vários estados do país. O foco da empresa é promover a eficácia na gestão da saúde suplementar por meio de metodologias inspiradas nos melhores modelos de atenção à saúde existentes, além de muita estratégia e apoio de tecnologias de informação e médica, que garantam o acompanhamento real de todo o processo de prestação de serviços e avaliação de resultados.
Estamos conseguindo comprovar que o sistema tem alternativas. Isso tem ocorrido por meio de aplicação de metodologias eficazes, profissionais bem preparados e rigorosos com as normatizações que regem o setor, com muito empenho e ética.
O exemplo, hoje, que a Qualirede apresenta ao país é o que a empresa tem feito para o governo do Estado de Santa Catarina e para o município de Florianópolis. A Qualirede é responsável pela gestão do SC Saúde, nome atribuído ao plano de saúde suplementar que atende aos servidores do Estado de Santa Catarina. São 190 mil segurados e já, em número de beneficiários, o segundo maior daquele estado. O plano SC Saúde está aberto à adesão de outros municípios e órgãos públicos do estado de Santa Catarina, devendo, em breve, ser o maior plano do estado.
O reconhecimento dos serviços prestados pela Qualirede para o SC Saúde foi comprovado em recente pesquisa realizada pelo Instituto Paraná, um dos mais conceituados do país. Segundo o levantamento, a média geral de satisfação dos segurados com o plano SC Saúde é superior a 90%. E tudo isso com uma sinistralidade de 81%, para uma população com idade média de 47 anos, contra uma média de 92% de sinistro das autogestões no país. Além disso, gerou um fundo de reserva, para garantir futuros aumentos de custos, equivalente a 11 mensalidades.
Mas, de nada adiantaria tudo isso se os profissionais de saúde, os prestadores de serviços em geral e a direção do plano não estivessem satisfeitos. E eles estão. Ao mesmo tempo, os indicadores de saúde melhoram de forma consistente, uma vez que é fácil avaliar a evolução em uma população praticamente estável. Portanto, iniciamos a ruptura do consenso da insatisfação em um projeto que tem consistência e melhoria contínua.
Queremos continuar evoluindo para garantir a sustentabilidade e a longevidade não apenas desse plano, mas também para o setor de saúde em geral no país. Precisamos trocar mais e avaliar as experiências de sucesso, contribuindo para um futuro melhor para o setor. A reconstrução não será fácil. Simultaneamente, é necessário desconstruir o antigo modelo e criar o novo. Mudanças de cultura e de práticas não são atitudes pequenas. Mas precisamos começar. Com medidas simples, replicáveis e eficazes. Trilhando nesse caminho, poderemos contribuir para a real transformação do setor saúde no Brasil.
Mozart de Oliveira Júnior é médico sanitarista e CEO da Qualirede
Fonte: Portal Segs