Publicado por Redação em Vida em Grupo - 05/04/2012
Microsseguros: desafios e exemplos a seguir
IQPC reúne profissionais do mercado de seguros para debater e apresentar cases práticos de implementação de produtos que atendem comunidades e consumidores
Durante dois dias, o mercado de seguros se reúne para debater e apresentar os rumos e perspectivas do microsseguro no Brasil. Realizado pelo IQPC - International Quality & Productivity Center -, o Fórum Brasileiro de Seguro Popular & Microsseguro começou ontem, 3 de abril, e, na primeira palestra, Eugenio Velasques, diretor executivo da Bradesco Seguros (foto), destacou os desafios que vêm pela frente para a sua implementação.
“As seguradoras terão de pensar qual modelo adotar; especialização ou segmentação da carteira. Além disso, muitas companhias terão dificuldades para adaptar sistemas principalmente de produtos combinados, como, por exemplo, na hora da regulação de sinistros de acidentes pessoais e residenciais”, disse o executivo.
Na prática, Velasques afirmou que a operação do microsseguro ainda é uma incógnita para as seguradoras, mas que, logo de partida, não deve haver uma avalanche de produtos ofertados. Segundo ele, a porta de entrada deve ser o auxílio funeral. Além disso, a meta inicial não deve ser focada em vendas, mas sim em um processo educacional do consumidor.
Devido ao fato de o modelo brasileiro não ter benefício do governo, as operações das seguradoras devem ser sustentáveis, lucrativas. “Por isso, a tendência é que haja a especialização de corretores, seguradoras e empresas de tecnologia da informação”, prevê Velasques.
Para divulgar o microsseguro, afirmou o executivo, a distribuição de cartilha é uma ferramenta, assim como os meios mais adotados pelas comunidades, como as rádios e associações de moradoras. A linguagem tem de ser clara e objetiva.
Outro desafio apontado por ele é atingir o público não bancarizado. “A nossa intenção (Bradesco) é sermos líderes nesse mercado por estratégia, por sermos o banco da família brasileira. Para os não bancarizados, quanto mais educação, mais inclusão. Haverá um ciclo natural para chegar a este público”, afirmou.
Na sequência, Marcelo Azevedo Teixeira, gerente de Ambiente de Microfiança Urbana do Banco do Nordeste (foto), apresentou o projeto Crediamigo. Iniciado em 2006, o objetivo é ofertar crédito nas comunidades com foco no empreendedorismo, por meio do agente de crédito. “A primeira demanda do cliente é por crédito, na sequência, ele abre a conta-corrente é colocado o seguro prestamista e ofertado o seguro de vida”, especifica.
O resultado, diz ele, é a marca de, desde o início do projeto até fevereiro deste ano, mais de 10,5 milhões de empréstimos efetuados, que somam R$ 11,6 bilhões e mais de 413 mil seguros vendidos. “O seguro é um produto de baixo custo (prêmio de R$ 25,00) com pagamento único, operacionalizado pela Mapfre e pela corretora Camed”. Outro dado apresentado por ele que mostra a ascensão das vendas de seguros foi que em 2006 foram 4.994 apólices comercializadas, número que chegou à marca de 119.025, no ano passado.
Na avaliação de Teixeira, o sucesso do microsseguro no país está diretamente relacionado à flexibilização de exigências. Entre elas, simplificar a documentação em caso de sinistros, treinamento de agentes e precificação de custo, bem como no desenho e implementação de novos produtos.
Futuro promissor
Presidente da Centauro Vida e Previdência, Ricardo Iglesias Teixeira (foto) iniciou a sua palestra afirmando que nos países mais pobres do mundo pouco menos de 3% da população possui algum tipo de cobertura e que são os países emergentes, nos próximos dez anos, que responderão por 60% das expectativas de crescimento das seguradoras. Ainda que esses mesmos países poderão representar, nesse mesmo prazo de tempo, por 30% do faturamento das companhias. Hoje, a participação é de 15%.
Por esses números dá para ter um panorama do potencial de mercado no Brasil onde, segundo Teixeira, há cerca de 40 milhões de pessoas sem qualquer tipo de seguro e 22 milhões de potenciais clientes de microsseguros.
“O microsseguro é um seguro de inclusão social. Teremos de utilizar ferramentas remotas para que os produtos, principalmente os massificados sejam viáveis. O consumidor de microsseguros hoje é o consumidor de seguros amanhã”, anunciou.
Moeda local
Na sequência Felipe Cristóvão, gerente comercial do Bancassurance da Zurich (foto), apresentou o case de Palmas, na periferia de Fortaleza (CE). O Instituto, que leva o nome da comunidade, foi criado em 1998 com o objetivo de desenvolver o microcrédito e, consequentemente, veio a criação do banco Palmas e uma moeda local.
O modelo foi expandido para o país e hoje já existem 67 bancos comunitários que buscam as parcerias feitas pelo banco de Palmas. “E uma das parcerias foi com a Zurich, no lançamento do seguro de vida com coberturas de morte acidental e natural, e assistência funeral que foi ampliada beneficiando os familiares dos segurados.”
Com prêmio no valor de R$ 35,00, Cristóvão afirma que a maior dificuldade está no formato de cobrança. “O pagamento do prêmio é anual e quem faz o gerenciamento é o próprio banco Palmas. Se fosse mensal, as pessoas poderiam comprar mais seguros, o volume seria maior. O que falta é amadurecimento na forma de cobrança e boleto bancário inviabiliza a operação pelo alto custo em relação ao prêmio”, avaliou.
Nas contas de consumo
Parceria com concessionárias de serviços é o formato da ACE Brasil na comercialização de microsseguros. “Quando se trata de microsseguros, tem de ser produtos simples, que tratem de poucas exclusões, prêmio de baixo valor e flexibilidade de pagamento”, citou Paulo Pereira, vice-presidente de Seguros Massificados da companhia (foto).
O modelo de venda de massificados pela ACE Brasil se baseia no conceito 3M: meio + massa + marca (conhecidas pelo consumidor). Para exemplificar, na conta de consumo de energia elétrica o cliente recebe adicionalmente uma fatura especificando que se trata de um seguro, opcional, que ele opta pela contratação.
Isso porque, avalia Pereira, a viabilidade na comercialização de microsseguros requer pensar em um modelo de distribuição de larga escala, que gere volume, seja eficiente pelo baixo valor do prêmio e, principalmente, é necessário avaliar quais métodos devem ser utilizados para fazer a cobrança.
Da mesma forma que o executivo da Zurich ele defende a inviabilidade do boleto bancário. “É um modelo que se mostra inviável para as seguradoras. O curo médio é de R$ 2,50 por emissão”, destacou.
Fonte: segs