Publicado por Redação em Notícias Gerais - 05/12/2012

Mercado de trabalho não mostra sinais de queda, apesar do baixo crescimento

Os empresários Norma Brandão e Eguiberto Rissi são de ramos completamente diferentes, mas reclamam da mesma coisa: a dificuldade de se encontrar mão-de-obra. "Estou com vagas em aberto há meses, mas é muito difícil encontrar pessoas capacitadas e com comprometimento", aponta Norma, dona do spa Kazazen, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

Responsável pela franquia de padarias Uno&Due na capital fluminense, Rissi reclama dos mesmos problemas e acredita que, com as vastas oportunidades da economia, "as pessoas acabam não dando valor ao emprego e trocam de posição por diferenças pequenas de salários, sem levar em conta outros benefícios".

A impressão de que o mercado de trabalho está saturado é grande. Mas, apesar de ainda não ser realidade, alguns números confirmam o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro. E nem as previsões de um Produto Interno Bruto (PIB) baixo, de pouco mais de 1%, freou o movimento, aponta o estudo “Mercado de Trabalho, conjuntura e análise” do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado nesta terça (4).

O documento mostra a evolução da empregabilidade nos últimos dez anos. E também uma “contradição”, segundo Carlos Henrique Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc). “Não há razões evidentes ou pontuais que mostrem o porquê deste aquecimento do mercado, principalmente com essa queda bem acentuada na produção industrial e da economia como um todo”, afirma.

Os números comprovam sua hipótese: além do índice de desemprego ser o menor da história, em torno de 5%, o rendimento médio da população também apresentou acentuada valorização, chegando a R$ 1.787,26 em maio deste ano, o maior da série histórica. Em setembro, o valor ficou bem próximo do recorde: R$ 1.781,98.

Porém, o diretor do Ipea esclarece que ainda não se pode falar em saturação do mercado de trabalho. "Não há falta de mão-de-obra e, de acordo com um estudo informal feito por um de nossos especialistas, isto só acontecerá se o crescimento brasileiro for de 6%, o que está longe de ser viabilizado", afirmou.

Mercado interno aquecido

O economista Pedro Paulo Bastos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que o perfil de crescimento brasileiro, baseado no aumento da demanda por serviços do mercado interno, tem mantido o alto nível de empregabilidade do país. Há também, segundo ele, um aspecto demográfico determinante para o cenário atual: menos pessoas tem entrado na idade economicamente ativa, o que acaba pressionando o mercado de trabalho.

"A desconcentração da renda pelos projetos de infra-estrutura do governo, o aumento da renda em regiões que não têm muitas indústrias tiveram um efeito claro no sentido de estimular a demanda por consumo de serviços principalmente", afirma.

A política de expansão do salário mínimo, promovida pelo governo na última década, também foi essencial para o aquecimento do consumo interno da população, analisa o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP).

Porém, esta elevação do consumo não se refletiu na produção industrial, que não têm muito o que comemorar em 2012. Neste ano, o setor viu sua produtividade encolher, o rendimento e a empregabilidade dos seus funcionários diminuir e os investimentos caírem acentuadamente. "O que aconteceu foi que a demanda acabou sendo suprida pelas importações e não pela produção industrial", explica Bastos.

Informalidade x formalidade

A diferença nos rendimentos no setor formal, em comparação com o setor informal, ainda é grande, cerca de 20% a mais. O rendimento médio dos empregados com carteira, de janeiro a setembro deste ano, foi de R$ 1.610,73, enquanto que os sem carteira foi de R$ 1.260,23, segundo estudo do Ipea.

Houve também crescimento de 2,9% no nível de empregabilidade formal, enquanto que o nível informal apresentou queda de 1,2%. Ganhos que não podem ser perdidos, mesmo se a economia não crescer o esperado em 2013, alega Bastos. "Não podemos perder esta queda de desigualdade e melhora do rendimento da população que conseguimos nos últimos anos".

Fonte: www.jb.com.br


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