Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 01/04/2020
Medidas rápidas e engajamento da população podem salvar vidas no combate ao coronavírus
A epidemia da Covid-9 pela qual estamos passando é inédita. Nunca tínhamos enfrentado um vírus com uma capacidade de transmissão tão alta, e a velocidade com que nos deslocamos num mundo com sete bilhões de habitantes contribui para a proliferação da doença. Com isso, acredito que o que vamos viver nos próximos dias e meses nunca vivemos na nossa história, já que tudo está sendo e será surpreendente. Dessa forma, precisamos do governo e da sociedade juntos no combate ao novo coronavírus, que ainda estamos descobrindo como realmente se comporta.
Para deter a doença, é importante haver um tripé bem sustentado: sistema de saúde (rede pública e privada), vigilância epidemiológica e ciência e tecnologia. Esses são nossos grandes aliados. Criação de vacinas e medicamentos, por exemplo, são essenciais a curto, médio e longo prazo, para nos ajudar a lidar com a doença.
O setor de saúde precisa estar unido, assim como é necessário achatar a curva de casos. Ou seja, pode ser que haja o mesmo número de infectados ao final da epidemia, mas em momentos diferentes, para que o sistema de saúde consiga atender a população e dê chance de as pessoas sobreviverem, principalmente os idosos que são o maior grupo de risco. Para isso, é fundamental que a gente diminua o número de contatos que temos na sociedade, com o isolamento social. O SUS (Sistema Único de Saúde) é excepcional, mas não dá conta se todas as pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo – assim como qualquer sistema de saúde do mundo.
Além disso, ter uma Atenção Primária estruturada faz toda a diferença para não sobrecarregar os hospitais, que precisam dar prioridade aos pacientes em estado mais grave que necessitam de assistência com recursos apenas disponíveis na rede hospitalar. A principal orientação é que as pessoas com sintomas, mas que não estão em estado grave, procurem as unidades de atenção primária constituídas pelas equipes da estratégia da saúde da família e pelas UBSs para o tratamento adequado e para, em caso de necessidade, ser feito o encaminhamento ao hospital.
Portanto, a população também precisa fazer sua parte para enfrentar este período tão difícil. Não é hora para pânico, no entanto, respeitar as medidas do governo, acreditar em fontes de informação confiáveis, adotar hábitos de prevenção e praticar a solidariedade são exercícios diários que devemos fazer. Vamos pensar principalmente nos nossos idosos, que são os mais atingidos pela Covid-19, por já ter uma saúde mais debilitada, imunidade frágil e comorbidades.
Com certeza temos também que cobrar de nossos governantes uma postura de estadistas frente ao momento singular que passamos. E temos que exigir que eles ofereçam condições adequadas de funcionamento da rede de serviços de saúde pública e privada, que deverão se integrar para melhor enfrentar esta ameaça a toda a sociedade.
O estado deve também criar condições para que o isolamento social ocorra. Vivemos uma grave crise sanitária com profundas repercussões sociais e econômicas. Não existe espaço para discutir déficit fiscal, equilíbrio das contas públicas – existem vidas em jogo, falamos do futuro de muitos brasileiros que poderão não tê-lo devido a inépcia de governantes. Eles deverão garantir as condições necessárias para que as pessoas que não devem ir trabalhar possam ter acesso a alimentos e aos gêneros necessários a sua sobrevivência.
Temos um longo período pela frente. A epidemia só termina quando uma determinada quantidade de habitantes tiver a doença e desenvolver imunidade e, assim, o vírus não conseguir encontrar mais os suscetíveis. Não sabemos ao certo quando isso ocorrerá, mas medidas eficazes e o compromisso de cada um podem encurtar este momento e salvar vidas.
Com a epidemia, aparecem transformações também. As pessoas aprendem lições de civilidade para uma prevenção mais efetiva: lavar as mãos na frequência adequada, não tossir e jogar gotículas contaminadas de saliva nas outras pessoas, cumprimentar sem dar a mão, entre outras. Vemos que é preciso incorporar esses hábitos como um fator fundamental de proteção à vida, como ocorreu com o uso do cinto de segurança. Todos nós temos que fazer alguns sacrifícios agora, para que essa crise seja menos dolorida possível para a população no Brasil e no mundo.
Sobre o autor
Gonzalo Vecina Neto é médico professor da Faculdade de Saúde Pública/ USP e presidente do Conselho do Instituto Horas da Vida.
Fonte: Saúde Busines