Publicado por Redação em Notícias Gerais - 23/07/2015
Marginais precisam ser tratadas como avenidas, diz diretor da CET
Marginais seguem "modelo europeu"
O urbanista responsável pelo planejamento do trânsito de São Paulo na gestão Fernando Haddad (PT) defende que as marginais Tietê e Pinheiros sejam tratadas como avenidas –e que essa ideia seja reforçada após a conclusão do Rodoanel Norte, em 2017.
Folha - Muitos motoristas só estão freando antes do radar. Isso não causa acidentes?
Tadeu Leite Duarte - O problema que já existia antes vai continuar. Mas agora a velocidade é menor.
Existe uma questão teórica debatida no país que é a fiscalização por velocidade média [com radares que calculam a velocidade média dos veículos entre dois pontos].
Os equipamentos de fiscalização que foram contratados na nova licitação preveem a possibilidade de usar essa ferramenta, mas isso não está homologado ainda. Seria uma ferramenta absolutamente eficiente.
Por que a CET diz ter expectativa de melhora na fluidez com a redução dos limites?
Não é o principal, mas é uma das possibilidades. A quantidade de veículos na via é maior a 50 km/h do que a 70 km/h porque eles ocupam menos espaço individualmente [podendo manter uma distância segura menor entre eles]. Pode até formar fila, mas ela não está parada.
Com a velocidade reduzida, é possível entrar e sair da pista com uma velocidade que gera menos turbulência. Então um subproduto que de fato pode acontecer é melhorar um pouco a capacidade da via, escoar mais veículos.
Como será monitorado isso?
Tem um tempo de acomodação. Ainda estamos nas férias [escolares]. Mais do que tudo, temos que ver o resultado da acidentalidade.
As estradas que chegam às marginais têm limites maiores. Não é uma mudança brusca?
Conversamos com as concessionárias [de rodovias] e eles tomaram todas as providências para garantir que essas alterações não impactassem. As velocidades na aproximação já vinham sendo mais ou menos ajustadas.
Há avenidas menores com limite maior que a marginal. Isso não pode causar confusão?
É um processo. Começamos a implantar as "áreas 40" [com limite de 40 km/h] em outubro de 2013. Em 2011, a administração [de Gilberto Kassab, do PSD] reduziu a velocidade em 600 km de vias, mudaram de 70 km/h para 60 km/h. E me parece que deu resultados interessantes.
Em 3 de agosto será reduzida a velocidade nas avenidas Jacu-Pêssego e Aricanduva, que têm um nível de acidentes considerável. Depois que acabarmos a avaliação dessas medidas, podemos discutir outras vias.
A redução da avenida 23 de Maio está na lista?
Vai ser avaliada, nós temos uma ordem das vias com mais acidentes. O tema básico da CET é segurança com fluidez, mas segurança em primeiro lugar.
O padrão nacional é 80 km/h nas vias de trânsito rápido, como as marginais. Mudar isso não causa confusão?
Não, porque o código de trânsito diz o seguinte: o poder público pode sinalizar quando quiser informar qual a velocidade que se deve desenvolver, considerando as características técnicas de cada um dos locais. As marginais foram sinalizadas, e quando você tira a carteira [CNH] você aprende que tem que olhar a sinalização.
A administração anterior achou por bem manter [a velocidade na pista expressa das marginais] a 90 km/h, mas no código diz 80 km/h. Uma pena, porque os acidentes com vítimas continuaram.
Temos que entender que a marginal é pista rápida, mas só um trecho. Ela foi concebida lá atrás [na década de 1950] para ser uma ligação entre estradas, quando a cidade nem existia ali ainda.
Mas agora a cidade já a abraçou. Ela está envolvida com o restante da cidade, algumas pessoas, por questões sociais, optam até por morar ao lado, outras optam por vender as coisas ali.
O que será feito com os moradores de rua e ambulantes que podem ser atropelados?
Está sendo desenvolvido um trabalho em conjunto com as secretarias de Desenvolvimento Social, Subprefeituras e Segurança Urbana.
Essas pessoas são uma parte significativa das vítimas e são as mais vulneráveis. Foram 73 mortes em 2014, das quais 25 pedestres que estavam ali e foram atropelados. Mas 48 vítimas eram pessoas que estavam dentro dos veículos. Então não é só o pedestre, a maior parte das pessoas que morreram na marginal são os ocupantes de veículos, e isso está relacionado diretamente com a questão da velocidade.
As avenidas que desembocam na marginal também serão padronizadas em 50 km/h?
Sim, se tudo isso que nós estamos fazendo repercutir de fato da maneira que estamos esperando. As próximas são a Jacu-Pêssego e a Aricanduva. A partir de setembro vamos ver o que fazer, que pode envolver essas vias todas que passam na marginal.
O Rodoanel, ficando pronto, fecha a conexão das rodovias. O que deve mudar?
A ideia básica é que, se você não tem que passar por dentro da cidade, deixa a cidade para quem precisa usufruir dela, com segurança. Quando sair o Rodoanel Norte, provavelmente essas características da marginal vão mudar. E aí quem estiver aqui vai poder pensar em alterações, transformar ela de fato em uma avenida. Nós já enxergamos ela hoje como uma avenida, porque já faz uma ligação entre bairros.
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RAIO-X - Tadeu Leite Duarte
Formação
Arquiteto e urbanista pela Universidade Guarulhos
Carreira
Na CET há 38 anos, entrou como operador de rádio
Cargo
Diretor de planejamento e educação de trânsito da CET
cidade é a principal causa de mortes em acidentes.
Fonte: Folha de São Paulo