Publicado por Redação em Benefícios - 22/05/2024

Licença pet, congelamento de óvulos e folga menstrual: os novos benefícios de empresas para atrair e reter talentos



Quando a executiva Beatriz Vilarinho começou em um novo emprego, em 2021, ela descobriu que a empresa oferecia um tipo de benefício que não é comum no mercado.

A empresa paga por até 70% do valor cobrado pelo congelamento de óvulos para funcionárias com mais de um ano de casa.

O custo gira hoje em torno de R$ 15 mil a R$ 20 mil por procedimento, a depender da cidade e do Estado.

O benefício veio bem a calhar para Beatriz, que tinha 34 anos na época e vinha tentando há três engravidar por meio de inseminação artificial sem sucesso, tendo perdido um bebê neste processo.

"Fiquei surpresa quando soube, porque eu nem sabia que uma empresa no Brasil tinha esse tipo de benefício. Eu me senti acolhida”, diz ela.

Assim que completou o primeiro ano de trabalho, ela solicitou o benefício e congelou os óvulos.

Alguns meses depois, ela fez uma fertilização in vitro e engravidou de gêmeos.

Maria Isabela e Gustavo nasceram há um ano e quatro meses.

"Foi a realização de um sonho", conta Beatriz.

"Ainda há um preconceito muito grande no mundo corporativo com mulheres que desejam ser mãe ou que já são. Mas desde que entrei na empresa, deixei bem claro esse meu sonho e até fui promovida nesse período. Ter filhos não atrapalhou minha carreira, muito pelo contrário."

O Mercado Livre, onde Beatriz trabalha como gerente de transportes, passou a oferecer esse benefício há cinco anos para funcionárias com mais de 30 anos nos 18 países onde atua.

A empresa paga até US$ 3,5 mil (cerca de R$ 18 mil) para cada funcionária, que deve arcar com o serviço de manutenção dos óvulos na clínica escolhida, algo que sai, em média, por R$ 1 mil ao ano.

A ideia é apoiar mulheres que desejam adiar um pouco a gravidez para se dedicar à carreira ou quem, assim como Beatriz, tem dificuldades de engravidar naturalmente.

Desde 2019, cerca de 40 funcionárias já recorreram ao congelamento de óvulos subsidiado, segundo a empresa.

"Esse benefício é um dos que mais geram engajamento interno, reforçando a conexão e retenção dos nossos talentos", afirma Mônica Rosenburg, gerente de Benefícios do Mercado Livre no Brasil.

Busca por bem-estar

O congelamento de óvulos é um exemplo dos novos benefícios que companhias têm oferecido para atrair e manter bons profissionais nas equipes, conquistar seu comprometimento e aumentar a produtividade.

Além de benefícios obrigatórios por lei como vale-transporte e licença maternidade e paternidade, há empresas que optam também por oferecer vale-refeição, plano de saúde, plano odontológico, auxílio-creche e bolsas de estudos.

Algumas oferecem ainda o pagamento da academia e de atividades culturais, planos de previdência privada e participação nos lucros.

Até algum tempo atrás, a nova forma de garantir o bem-estar dos funcionários era criar escritórios com áreas de lazer, espaços de descanso e geladeiras com bebidas e comida à vontade.

Mais recentemente, principalmente após a pandemia, a flexibilidade de horário, o trabalho remoto integral e a semana mais curta de trabalho se tornaram mais procurados.

A novidade agora são benefícios como licença para falecimento de animais de estimação ou para dar atenção a um pet que acaba de chegar em casa, bônus em dinheiro nas férias, auxílio de saúde mental e licença durante o período menstrual.

“Isso acontece porque a geração atual busca o bem-estar no ambiente de trabalho e que a empresa esteja alinhada com os seus objetivos pessoais”, explica Leila Arruda, mentora de carreiras, especialista em treinamento de líderes e pós-graduada em Gestão de Carreiras e Liderança.

Esses benefícios estão longe da realidade para bastante gente no Brasil, onde muitos trabalham sem carteira assinada.

Quase 39 milhões de brasileiros estavam na informalidade no primeiro trimestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um contingente maior do que os quase 38 milhões de empregados com carteira no setor privado. Outros 13 milhões são empreendedores individuais.

Os novos benefícios também não chegam a ser um novo padrão de mercado, explica Arruda, embora a especialista avalie que a expectativa é que se tornem mais comuns.

"Apesar de não serem todas as empresas que oferecem, acrescentar esses benefícios é uma tendência do mercado de trabalho e deve crescer cada vez mais", aponta Arruda.

Folga menstrual

O Grupo MOL, formado por uma empresa de produtos e serviços sociais e um instituto social, passou a oferecer a licença menstrual para suas 49 funcionárias há um ano.

As mulheres são a grande maioria ali, quase 90% da equipe, e podem enfrentar durante a menstruação sintomas como cólica, enjoos e dor de cabeça.

Se necessário, as funcionárias podem tirar até dois dias de licença remunerada por mês, em todos os meses do ano, e não precisam de atestado médico para isso.

A analista de redes sociais Karolyne Oliveira, de 24 anos, diz que aproveita o benefício frequentemente, porque costuma ter cólicas e dor de cabeça fortes quando menstrua.

“Normalmente, meio período já é o suficiente para eu me recuperar", diz Karolyne.

"A licença nos dá mais segurança, e a gente se sente mais confortável na empresa, porque sabemos que não precisamos trabalhar nos dias em que não estamos bem.”

Após um ano oferecendo o benefício, a empresa avalia que os dias de descanso não afetaram a produtividade e aumentaram o nível de satisfação das funcionárias.

Até janeiro, foram tiradas 29 licenças, sendo que mais de 65% foram de apenas meio período.

“Os sintomas do ciclo menstrual podem provocar muita indisposição e afetam qualquer atividade, seja em casa ou no trabalho”, comenta Roberta Faria, cofundadora e presidente da MOL.

“Então, não faz sentido exigir que as pessoas ignorem seu desconforto para completar as demandas do dia a dia.”

Atrair e fidelizar talentos

A especialista em treinamento Leila Arruda explica que as empresas buscam se ajustar, com a oferta destes novos benefícios, a uma mudança no comportamento e no perfil dos funcionários.

Se antigamente os profissionais costumavam permanecer por muitos anos em uma mesma companhia, hoje eles trocam mais facilmente de emprego em busca de novas oportunidades.

Oferecer atrativos adicionais é uma estratégia não só para atrair novos talentos, mas também para proporcionar condições que os incentivem a permanecer na equipe.

Além de isso contribuir para melhorar o desempenho individual e os resultados da empresa como um todo, explica Arruda.

Isso porque estes benefícios extras podem aumentar a satisfação pessoal e profissional de um funcionário, como aponta uma pesquisa feita pela consultoria Robert Half.

Os recrutadores ouvidos para o levantamento apontaram, por exemplo, que funcionários que trabalham felizes e satisfeitos com a empresa costumam ser mais produtivos, inovadores e criativos, leais e superam as metas estabelecidas.

"Um funcionário feliz é um profissional com mais saúde mental e que tem a sua capacidade cognitiva preservada. Por isso, ele é mais criativo, tem argumentos mais aprofundados e assimila melhor os conteúdos. Pessoas felizes também adoecem menos”, diz Rodrigo de Aquino, especialista em felicidade corporativa.

“Um funcionário mais feliz também tem relacionamentos interpessoais mais saudáveis, impactando internamente e também externamente, na relação com clientes e fornecedores"

Mas Leila Arruda ressalta que a escolha de quais benefícios oferecer exige analisar o perfil dos funcionários e adaptar a estratégia da empresa de acordo com isso.

“O benefício que funciona para uma empresa pode não funcionar para a outra”, diz Arruda.

“É importante que o RH fique atento ao seu público interno e faça pesquisas anualmente para entender o seu time.”

Benefícios para donos de pets

A empresa com foco na criação de produtos e serviços digitais Môre decidiu oferecer uma série de novos benefícios há pouco mais de um ano aos seus 224 funcionários depois de uma pesquisa interna apontar que 76% tinham animais de estimação.

A empresa incluiu entre o rol de benefícios um plano de saúde para os animais de estimação e licença de um dia em caso de falecimento do bicho.

Os funcionários podem tirar uma licença PETernidade, que dura três dias, até duas vezes no ano, para se dedicar à adaptação de um pet a uma nova casa.

"Hoje, o pet faz parte da família, são como filhos", diz Flávia Pañella, sócia fundadora da Môre.

“Por isso, é importante que o colaborador tenha esses dias de folga para cuidar desse membro que acaba de chegar. Seja para preparar o ambiente, ter tempo para comprar algo que faltou e também para estarem juntos.”

Para ter o direito à licença, um funcionário deve preencher um formulário informando a data prevista para a chegada do animal.

Em caso de uma adoção imprevista, a empresa diz que a licença é concedida o mais breve possível após a comunicação.

O gerente de produto Fernando Mendes, de 40 anos, foi o primeiro a tirar proveito da licença PETernidade quando comprou uma nova serpente.

Ele é colecionador e já tinha 22 serpentes, além de cinco lagartos e um sapo.

"Por serem pets exóticos, é importante observar de perto os hábitos, já que cada serpente age de uma maneira. É um período para se conhecerem", diz ele.

Fernando diz que os dias de folga foram importantes para conseguir fazer uma boa introdução da nova integrante à sua coleção.

“Há dez anos, iniciei a minha criação, e sempre ficava apreensivo nesta fase, porque não sabia como meus bichos iriam se comportar e se sentiriam muito a mudança de ambiente”, diz.

“Quem dera ter tido essa oportunidade de adaptação antes.”

 

Fonte: BBC News Brasil (Simone Machado)


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