Publicado por Redação em Notícias Gerais - 28/09/2015

Inverno quente e Cantareira em queda retomam temor de torneira seca em SP

Alckmin e obras para crise hidrica

Para entender a gravidade da atual crise da água no Estado de São Paulo, imagine o sistema Cantareira como uma torneira gigante.

Antes do agravamento da estiagem, no início de 2014, saíam dela 31 mil litros de água por segundo, para atender 9 milhões de pessoas especialmente na zona norte, mas também em partes das áreas leste, oeste, central e sul da capital paulista.

Atualmente, porém, essa mesma torneira libera somente 14 mil litros de água por segundo e chega às casas de cerca de 5 milhões de pessoas.

E essa diferença de 4 milhões de moradores? Nos últimos meses, passou a ser socorrida por outros mananciais da região metropolitana.

A água do sistema Alto Tietê, por exemplo, foi empurrada do extremo leste até bairros da zona norte, enquanto parte da reserva do Guarapiranga, na zona sul, "subiu" para atender a região central, inclusive a avenida Paulista.

O agravamento da estiagem, atrelado a esse tipo de manobra entre sistemas, teve dois resultados importantes:

1) principalmente nas áreas atendidas pelo Cantareira, milhares de pessoas passaram a sofrer com um racionamento (entrega controlada de água). Alguns bairros, em especial na periferia e nas regiões mais altas, convivem há um ano e meio com torneiras secas de 15 a 20 horas por dia.

2) por outro lado, devido à ampliação desse racionamento, a Grande SP ainda não foi submetida a um drástico rodízio (corte do fornecimento). A Sabesp chegou a cogitar um esquema de cinco dias sem água e dois com, mas a medida, por ora, está descartada.

PREVISÃO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) acredita ter a situação sob controle ao menos até dezembro. A partir daí, dependerá basicamente do volume de chuvas nos mananciais entre outubro próximo e março do ano que vem.

Essa chuva terá de aliviar a situação atual e ainda acumular uma reserva para o próximo período seco, de maio a setembro de 2016.

Na última estação chuvosa, por exemplo, a água só veio em fevereiro. Ela demorou tanto que, em janeiro, o governo já fazia contagem regressiva para a adoção de um rodízio. "A chance [de um rodízio] era superior a 80%", diz um auxiliar direto do governador.

Mas o clima, hoje, não tem colaborado. O forte e inesperado calor no último inverno não só acelerou a queda no nível dos reservatórios como também levou ao aumento do consumo de água.

Um sinal amarelo sobre isso acendeu em agosto, quando 20% dos clientes da Sabesp ampliaram o consumo, na maior marca em sete meses.

E a primavera também começou quente em São Paulo.

Segundo meteorologistas de três institutos diferentes, a capital paulista pode bater nas próximas 24 horas três recordes: o de maior temperatura deste ano, que foi 36,5°C em janeiro, o de maior temperatura em um mês de setembro, que é de 37,1°C, e até mesmo o recorde histórico de calor, de 37,8°C, de outubro de 2014.

RESERVATÓRIOS

Já em relação aos reservatórios, a situação é parecida se comparada a exatos 12 meses atrás. No final de setembro de 2014, havia 441 bilhões de litros de água nos seis mananciais (20,5%) –hoje, a soma atinge 493 bilhões (22,9%).

A vantagem é que os sistema estão mais interligados (pela rede de distribuição), e uma represa cheia pode socorrer mais rapidamente outra em situação mais crítica.

A desvantagem é que o Cantareira, o principal dos sistemas, está em situação próxima a um colapso. Nesse mesmo período do ano passado, tinha 180,3 bilhões de litros disponíveis (14,2%), contra os 159 bilhões atuais (12,5%).

O Cantareira, aliás, só opera hoje graças a bombas compradas às pressas pelo governo e que conseguem buscar água no fundo das represas, o chamado volume morto.

Em recente entrevista à Folha, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, resumiu o clima de incerteza. "Em outubro, novembro e dezembro tem que chover. Não há dúvida de que é preciso que a precipitação [chuva] volte à normalidade, a perto da normalidade, para sairmos da situação de anormalidade. Isso é claro."


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