Publicado por Redação em Notícias Gerais - 10/03/2014
Inflação resiste, juro pesa e câmbio entra na roda
O Banco Central tem um mandato: cumprir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Há mais de uma década, a meta brasileira é de 4,5% com 2 pontos percentuais de tolerância para mais ou para menos - tipo margem de erro em pesquisa eleitoral. Em oito anos, não consecutivos mas quase, a inflação ao consumidor ficou na banda superior. O mercado financeiro reclamou, esperneou, mas acabou convencido de que não tem saída.
O governo Dilma Rousseff não vai perseguir a meta central de inflação pelo menos no ano calendário - janeiro a dezembro. Não dá, o custo é alto, indica sempre que pode o governo. A inflação avança, cria resistência em patamar elevado, exige política monetária cada vez mais dura para trazer os preços para baixo e não faltam problemas. Uma hora não há reajuste de combustíveis (aliás, quase nunca) e o problema muda de lugar porque a perdedora é a Petrobras.
Em outro momento, não há reajuste do preço do gás ou da energia elétrica, o que complica a conta nas distribuidoras. Nesse caso, quando surge uma solução, na certa sobra encrenca para o Tesouro Nacional. A poucos meses da sucessão no Palácio do Planalto, os agentes econômicos têm a percepção de que há um desalinhamento de preços no país, mas ao mesmo tempo temem as consequências de um súbito alinhamento. Até porque ninguém arrisca dizer onde deveriam estar os preços.
Alguns departamentos econômicos transpiravam preocupação na semana passada após a divulgação da ata do Copom. Em tese elaborado para explicar a razão de o comitê ter desacelerado o ritmo de alta da taxa Selic, de 0,50 ponto para 0,25 ponto percentual, e fixado o juro básico em 10,75% na última semana de fevereiro, o documento deu mais razões para que o aperto monetário não encolhesse.
No entanto, credenciados economistas compreenderam rapidamente a atitude do Copom ao dar o devido crédito ao destaque que o efeito "cumulativo" das ações de política monetária sobre a inflação teve na ata - que também voltou a citar as defasagens dos impactos da política monetária.
É perturbador, depois de quase um ano do ciclo de alta, a Selic ter subido consideravelmente e a inflação não descer do salto, dando corda à expectativa de que algo terá que ser feito para conter os preços porque algumas correções de administrados serão inevitáveis - caso da gasolina. Mas o que fazer se a carga de juro já está um tanto elevada e pode produzir um abalo na atividade sem enfraquecer a inflação, tanto quanto o CMN ainda considera necessário porque se assim não fosse a banda seria outra? De que maneira sustentar um discurso cativante para o eleitor com o risco de explicar um salto da inflação na passagem do terceiro para o quarto trimestre - raspando na eleição - e com candidatos adversários alertando que inflação é o pior dos impostos e destrói a renda dos trabalhadores?
No mercado financeiro, comenta-se que a resposta pode vir do juro e do câmbio. O juro ganhou musculatura com 3,50 pontos percentuais a mais desde abril do ano passado e minou a resistência de investidores globais, que já despacham divisas para o país. E dão sinais de que arquivaram a classificação que incluiu o Brasil na lista dos "cinco frágeis" do mundo.
Em resposta à forte demanda por ativos brasileiros, o Tesouro promoveu oferta histórica de títulos prefixados de longo prazo na quinta-feira. E mais papéis similares com prazo mais curto para a cobertura de posições vendidas de bancos que entregaram seus títulos a fundos de investimento estrangeiros.
Na semana passada, o BC divulgou o fluxo cambial de fevereiro, que foi negativo em US$ 1,856 bilhão, o pior resultado para o mês desde 2002. O resultado do mês passado veio de um déficit de US$ 2,129 bilhões na conta comercial e de entrada líquida de US$ 272 milhões na financeira.
O saldo financeiro está enxuto porque a conta registrou a saída de bilhões de dólares em aluguel de equipamentos, remessas de lucros e dividendos que empresas estrangeiras devem fazer necessariamente até março, além de remessas de capitais de empresas brasileiras para parceiras instaladas lá fora. A soma quase empata com a entrada superior a US$ 9 bilhões para renda fixa, ações e investimento estrangeiro direto, em fevereiro.
Fonte:Valor Online - São Paulo/SP - FINANÇAS