Publicado por Redação em Previdência Corporate - 01/04/2014

Fundos de previdência privada aberta têm desempenho prejudicado

O desempenho dos fundos de previdência privada aberta de renda fixa, que concentram 90% dos recursos aplicados no setor (ou cerca de R$ 286 bilhões), mostrou uma reação mais positiva em fevereiro, ao entregar retorno de 0,98% no mês, acima do 0,78% do CDI, o grande referencial das aplicações conservadoras. Na comparação com o IMA-B, que mede o desempenho de uma cesta de títulos públicos indexados à inflação de diferentes prazos e que variou 4,44%, a performance da categoria ficou para trás. Os dados, levantados pelas consultorias NetQuant e Towers Watson, sinalizam carteiras ainda expostas a papéis de inflação - já que o rendimento superou o CDI -, mas de maneira conservadora. As informações são do jornal Valor Econômico.

No ano passado, essa combinação acabou prejudicando bastante o desempenho da previdência aberta, especialmente das carteiras de renda fixa. Uma resolução do governo obrigou os gestores a iniciar a substituição, a partir de maio, de aplicações de curto prazo e indexadas à Selic por títulos mais longos, como as NTN-Bs, atreladas ao IPCA. A proposta foi pensada ainda quando o cenário apontava para uma queda de juros, mas a mudança teve início justamente no momento de retomada do ciclo de alta da Selic, em abril de 2013, pegando os gestores no contrapé.

Com o juro básico subindo de 7,25% para 10,00% ao longo de 2013, os papéis com um componente prefixado perderam valor, como efeito da marcação a mercado - prejuízo, contudo, só teve quem se desfez do ativo. As NTN-Bs, por exemplo, amargaram desvalorizações que variaram de cerca de 7% a mais de 33%, dependendo do vencimento.

Os fundos de previdência de renda fixa no ano passado, na média, não chegaram a ficar negativo - a variação foi de 4,62% -, mas passaram longe dos 8,06% do CDI. E comprometeu, segundo os executivos de bancos e seguradoras ouvidos pelo Valor, a análise da performance do setor.

Nos últimos 12 meses, até fevereiro, o rendimento dos fundos de renda fixa é um pouco melhor, passando a 5,44%, mas ainda está abaixo do CDI, que variou 8,66%. Nesse mesmo período, de acordo com o levantamento, de um universo de 211 fundos de previdência do gênero, apenas um bateu o CDI. Se descontados 20% de imposto de renda - alíquota para aplicações tradicionais de renda fixa de um ano -, o número de fundos com desempenho melhor que o CDI sobe para 43, ou 20% do total. Vale uma ressalva: em 12 meses, até fevereiro, o IMA-B (índice das NTN-Bs) seguiu no vermelho, com variação negativa de 8,11%.

"A indústria de previdência deu azar, ao iniciar o alongamento das carteiras e migração de benchmark de parte dos recursos para títulos públicos indexados à inflação no pior ano em termos de volatilidade para a renda fixa", afirma Alcindo Canto, diretor de distribuição da HSBC Global Asset Management. Mas, ressalta, conceitualmente, continua fazendo sentido para a previdência ter investimentos atrelados ao juro real, apesar das oscilações.

Altair César de Jesus, superintendente de investimento da Brasilprev, afirma que, se 2013 saísse da amostra, o quadro certamente seria melhor, dado o ano atípico que foi para a renda fixa. Ele pondera, contudo, que, se a taxa Selic não ultrapassar os 11% ao ano, vai continuar compensando carregar os títulos que estão em carteira hoje - os mesmos que sofreram com a marcação a mercado, uma vez que o retorno a ser recebido ainda supera o juro básico.

Um dos grandes desafios, na visão do superintendente da Brasilprev, é mudar a cabeça do investidor, especialmente o de previdência, segmento cujo horizonte deveria ser de pelo menos 5, 10, 15 anos. "Hoje, com a taxa Selic próxima de 11%, o cliente fica feliz com CDI. Quando o juro estava em 7,5%, o CDI era ruim", questiona. "Em ano de volatilidade, o investidor quer ficar no curto prazo; em ano de tranquilidade, ele quer mais", completa.

Como o alongamento na previdência privada aberta, em geral, foi tardio e comprometeu o histórico, fica difícil convencer o investidor que a medida vai trazer benefícios no longo prazo, até porque não há como não marcar a mercado os papéis, afirma Marcelo Nazareth, sócio da NetQuant. "A volatilidade é benéfica no longo prazo, assim como o alongamento. Você abre mão de liquidez para ter uma rentabilidade melhor", diz.

As entidades fechadas, ao contrário, têm histórico de longo prazo para convencer o participante, diz Nazareth. Segundo ele, os fundos de pensão, por terem iniciado a migração para o IMA-B ainda em 2011 e 2012, pegaram os dois lados da moeda: a queda dos juros, que rendeu ganhos excepcionais, e, depois, a perda de 2013, mas que acabou sendo minimizada.

Nazareth ressalta ainda que a indústria de previdência aberta tem parte da culpa porque não quis correr o risco de alongar as carteiras quando o cenário parecia mais amigável e ficou muito conservadora, atrelada ao CDI. "A indústria está num estágio pior do que há três anos, quando poderia ter começado esse trabalho de convencer que o investimento de longo prazo tem vantagens", diz.

De fato, quando a Selic estava acima de 13%, não havia pressão de investidores de previdência por uma gestão mais ativa, mesmo com os fundos apresentando um desconto razoável em relação ao CDI, por conta, entre outros fatores, de taxas de administração maiores, que beiravam 3,5% a 4% ao ano. De acordo com o levantamento, em 60 meses, até fevereiro, o retorno médio dos fundos de previdência de renda fixa foi de 47,62%. O estudo mostra também que, de um total de 134 fundos com histórico de cinco anos, só 8 tiveram um desempenho superior ao CDI, que variou 57,21% no período. O indicador acumula a pior performance entre os referenciais de renda fixa. O IMA-B nesse mesmo período rendeu 75,84%.

"Há cinco anos, a gestão era puramente indexada ao CDI, e o mercado estava confortável assim", lembra Canto, do HSBC. Só a partir de 2011, quando a Selic começou a cair, continua o executivo, a indústria teve de se adaptar à nova realidade, reduzindo, por exemplo, as taxas de administração, a fim de tornar o produto mais justo do ponto de vista de preço para o cliente. "Com CDI mais baixo, não dava para ter taxa de 3%, 3,5% ao ano."

Para Lendimuth, no entanto, o futuro tende a ser diferente. "Creio que os gestores hoje estão mais atentos às exigências da legislação e também ao nível de risco que vão colocar nas carteiras", destaca. O ano de 2013, na sua avaliação, foi de aprendizado para o setor, que descobriu que os participantes não estavam preparados para tomar risco, para as oscilações das cotas, principalmente para baixo. E para os próprios investidores.

O grande desafio foi explicar que o seguro contra inflação que os gestores compraram - referindo-se às NTN-Bs - perdeu valor com a marcação a mercado mesmo em um cenário de alta de preços, ainda que os prêmios dos papéis em carteira continuem superiores ao juro básico. "Hoje, ainda está muito difícil emplacar fundos com estratégias de longo prazo que fazem todo sentido, como bolsa e IPCA, uma vez que elas estão mal no curto prazo", explica. "Vejo as pessoas hoje fugindo de risco", reforça Nazareth, da NetQuant.

Os especialistas lembram ainda que o investidor tem de olhar a previdência além da rentabilidade. "Há benefícios exclusivos do produto, como os tributários e de sucessão [por não entrar em inventário] que são difíceis de colocar na ponta do lápis", diz Lendimuth.

Fonte: http://www.previdenciatotal.com.br


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