Publicado por Redação em Notícias Gerais - 22/09/2015
Fico de pijama o dia inteiro, diz criador do Hypeness e do Casal Sem Vergonha
O casal Emerson Viegas e Jaqueline Barbosa é criador de três sucessos na internet brasileira. O "Hypeness", definido como um portal de inovação e inspiração, tem 5 milhões de visitantes únicos por mês. No "Casal Sem Vergonha", com conselhos e situações de relacionamento, são 6 milhões. Ambos foram ao ar em 2010. O mais novo, o "Nômades Digitais", de 2014, que fala sobre o princípio de vida que adotaram, o nomadismo digital, tem o número de 800 mil visitantes por mês.
Os dois serão palestrantes no youPIX CON, evento que acontece amanhã (23) e debate a produção de conteúdo digital. A Folha conversou com Eme Viegas.
Folha - Como vocês conseguem fazer com que três sites tenham sucesso?
Emerson Viegas - Porque levamos curadoria de conteúdo muito a sério, tanto de conteúdos que já existem, quanto de nossas pautas internas, que são pensadas e executadas por nós. Isso faz com que tenha alcance e seja bem curtido. No Hypeness, produzimos conteúdo para que as pessoas leiam e reflitam um minuto do seu dia. "Por que não fazer isso na na minha empresa?".
No Casal Sem Vergonha, a gente sempre quer que ao final da leitura role um questionamento. "Será que esse caminho é legal para o meu relacionamento?", "Será que se eu fizer isso com meu namorado vai ser bacana"?
No Nômades Digitais, a gente tem percebido que as pessoas não estão felizes com o modelo atual de trabalho, de sentar numa baía, ter o chefe no cangote reclamando, ter pouco reconhecimento profissional. E o site contempla isso, já que o nomadismo digital é uma tendência que surgiu de prestadores de serviços digitais que podem trabalhar de qualquer lugar do mundo.
O que exatamente é o nomadismo digital?
Se trabalhar é uma necessidade humana e viajar é um dos prazeres, por que não juntar os dois? É muita mancada passar 11 meses trabalhando e só um mês viajando. Sem contar que você não descansa nada e acaba voltando mais cansado ainda. Os nômades digitais são empreendedores que trabalham remotamente enquanto viajam. Você presta serviço pelo seu computador. Não é ficar limpando banheiro de rodoviária, é uma coisa mais livre mesmo.
Vocês são nômades digitais?
Sim, tanto que quando a gente criou a nossa empresa já fomos viajar e morar em Ilhabela, em uma agrovila cheia de tucanos. E quando criamos o Nômades Digitais saímos para viajar. Ficamos 11 meses em 14 cidades, como Amsterdã e San Francisco. Atualmente estamos morando em Florianópolis e em novembro vamos voltar a viajar pelo mundo. Como o nome de nômade sugere, ainda não definimos nosso roteiro. É algo mais espontâneo. Só conseguimos ser nômades quando criamos uma equipe. Detalhe: todos seguem esse princípio de vida, tanto que tem pessoas em Portugal, Estados Unidos, Austrália. Só o nosso departamento comercial que fica em São Paulo, pois é onde está a grana, não adianta fugir. Além disso, uma empresa na nuvem precisa ser muito bem organizada, senão dá errado. Se pegar as grandes empresas, elas têm reuniões desnecessárias, um probleminha vira uma bola de neve. Nós não podemos ter isso.
Como foi o início dessa escolha?
Não é fácil largar e partir para uma empreitada incerta. Eu trabalhava em uma agência de publicidade, ganhava mais de R$ 10 mil por mês, liderava uma equipe, tinha prêmios internacionais. E no começo como nômade eu fiquei um ano ganhando quase zero. No segundo ano, quando quando consegui uma audiência legal, já faturava o triplo do que ganhava na agência. Tem uma frase que resume bem: 'Ser empreendedor é, no início, trabalhar como ninguém, para viver o resto da vida como todo mundo sonha'.
E quais são as recompensas do nomadismo digital?
O lance do nomadismo é solucionar esse modelo do trabalho atual. Além do crescimento profissional, a gente alia essa liberdade de horário. Por exemplo, tem funcionário nosso que trabalha das 21h às 3h, pois é o horário em que é mais produtivo. Não importa o horário, importa que ele cumpra a meta dele. No modelo tradicional, as pessoas ficam frustradas, por trabalharem em horários que não são produtivas, ter baixa remuneração, enfrentar trânsito, não ter o reconhecimento da empresa. Tanto que o Revotril é um dos remédios mais consumidos atualmente. Vira um modelo de vida 'manada de boi'. Todo mundo viaja no final de ano, todo mundo almoça no mesmo horário, todo mundo sempre encara filas quilométricas.
Outra vantagem é que eu e a Jaque comemos em casa ou pedimos delivery, o que abaixa consideravelmente nosso custo de vida.
Além dos nômades, está havendo um movimento por maior liberdade aos funcionários?
A IBM já faz home-office com boa parte dos funcionários e com isso já economizou milhões de dólares globalmente. Imagine o quanto não se gasta de aluguel, impressora, grampeador, é um custo muito elevado só para começar a operar seu negócio. Encaramos home-office e nomadismo digital quase como a mesma coisa. Se eu trabalho 100% do tempo em casa, então eu posso trabalhar de quase todo lugar do mundo.
É importante ressaltar que nem todas as pessoas estão preparadas para trabalhar de casa. Tem gente que é improdutiva. Tem dia que eu trabalho o dia inteiro de pijama e sou mega produtivo.
Onde vocês moram atualmente?
Estamos em Florianópolis até novembro, quando vamos partir pelo mundo de novo. A gente acha a melhor cidade do Brasil, segura, e com uma cultura invejável. Se você ameaça atravessar a rua, o carro já para, nem parece Brasil. Mas só conseguimos viver aqui por ter um negócio próprio, como nômades. Porque se fosse ter essa qualidade de vida ganhando um terço do que a gente ganhava em São Paulo, não faria sentido.
E como essa qualidade de vida influencia a produção do conteúdo de vocês?
Nas profissões criativas a qualidade de vida traz muitos benefícios. A gente mora a duas quadras da praia, a nossa sala de "brainstorm" é a praia e a cachoeira. Eu estou trabalhando e tendo prazer ao mesmo tempo. Como estou nesse bom humor é mais provável que eu tenha boas ideias. Se você está puto com algo, não quer criar um conteúdo, suas ideias ficam reguladas.
E como manter a audiência ao longo do tempo?
A gente vai refinando o critério da nossa curadoria diariamente. O que funcionava há um ano, não funciona mais. É difícil definir padrões, é sempre uma aposta. Tem conteúdo que vai muito bem uma vez e depois não tem visualização. Tem conteúdo que não damos muito valor e de repente bomba. Mas percebemos que tudo aquilo que é bem mais trabalhado, pensado do zero, feito de maneira exclusiva, tem agradado mais os leitores.
E o Casal Sem Vergonha nessa história?
Eu e a Jaque sempre fomos conselheiros sexuais dos nossos amigos, antes mesmo de nos conhecer. Quando começamos a namorar, percebemos que falar de sexo é a solução ideal para os problemas de um relacionamento. A gente quis entender o comportamento sexual do nosso leitor, para criar conceitos e técnicas que eles consigam aproveitar. Tudo que tem lá são nossos próprios conselhos.
Como são os relacionamentos atuais?
O grande problema é que os dois estão se curtindo e começam a namorar, mas não chegam a conversar sobre que tipo de namoro é ideal para eles. Monogâmico? Poligâmico? Preciso ir em compromissos familiares? O casal precisa definir as clausulas daquele contrato. Tenho vários relatos de caras que pararam de ir para puteiro, de mentir pra namorada, passaram a ter um dialogo bem aberto e fazer troca de casal. Isso fortalece o relacionamento.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo