Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 19/08/2019
Essa empresa brasileira usa tecnologia para reduzir os custos hospitalares
Com sistema de gestão de compras, Bionexo atende um terço dos leitos no Brasil. Agora, comprou a startup GTT para gerenciar estoques com internet das coisas.
Dos temas mais importantes da saúde no mundo, o custo é um dos mais debatidos há anos. Os valores de tratamentos de saúde no Brasil, que cresceram 17,3% em 2018 ante inflação de 3,7%, são um desafio para pacientes, planos de saúde e hospitais públicos e privados — e foram um dos principais motivos que levaram a uma queda de braço entre a operadora de planos de saúde Amil e a rede de hospitais D’or nos últimos meses.
Dentre os muitos fatores que aumentam os custos dos sistemas de saúde, a má gestão de compras e estoques é uma das protagonistas. Foi pensando em contribuir para a solução deste problema que surgiu há 19 anos a Bionexo, empresa de saúde e tecnologia que desenvolve sistemas para ajudar hospitais a otimizarem seus custos e gestão. Sob o comando do filho do co-fundador Maurício Barbosa, Rafael Barbosa, a Bionexo tem como clientes 1.700 hospitais e mais 10.000 fornecedores de insumos.
Seu primeiro e principal produto é um marketplace de insumos hospitalares, como remédios, que deve fechar 2019 transacionando 12 bilhões de reais. A ideia é que um hospital, em vez de fazer orçamento com cada fornecedor diferente (e atingir só uma quantidade limitada deles), possa usar um “comparador de preços” com os milhares de fornecedores usuários da Bionexo e fazer os pedidos e transações diretamente pela plataforma.
Fornecedores, por sua vez, podem atingir mais clientes. Estão no portfólio da Bionexo um terço dos leitos hospitalares no Brasil, de modo que 34% de todo o medicamento vendido no setor hospitalar passa pelas plataformas da empresa. A companhia também levou seu produto para Argentina, Colômbia, México e Espanha.
Barbosa aponta que, para além de honorários de médicos e enfermeiros, quase metade da inflação médica é composta por material e medicamento. “70% dos nossos hospitais são filantrópicos, que atendem também ao SUS [Sistema Único de Saúde, da rede pública], então, vivem respirando com dificuldade. Por isso a importância desse planejamento”, diz.
A Bionexo também tem algumas secretarias de saúde estaduais e municipais como clientes, e afirma que a plataforma pode melhorar a transparência dos gastos púbicos. “Só com a digitalização dos processos, com as informações de tudo que foi comprado, já é possível facilitar, por exemplo, o acompanhamento dos Tribunais de Contas”, diz o presidente da Bionexo. “E com acesso a mais fornecedores, um hospital consegue comprar do fornecedor mais competitivo, o que reduz potenciais fraudes.”
Novos serviços
Uma vez melhorada a eficiência do processo de compra, Barbosa e sua equipe perceberam que os hospitais ainda tinham outros gargalos, como gestão de estoque, planejamento de demanda e inteligência de mercado.
Assim, a Bionexo tem hoje dez soluções diferentes para hospitais e fornecedores. “Queremos aproveitar nossa comunidade de maneira mais ampla. Cada vez mais somos uma empresa de tecnologia com soluções diversas para o setor de saúde.”
A empreitada mais recente vem com a compra da startup de internet das coisas (IoT) GTT Healthcare, informação divulgada com exclusividade a EXAME e que a empresa anuncia nesta semana. A GTT vai ajudar a Bionexo e seus hospitais e fornecedores parceiros a otimizar o gerenciamento de estoques de material hospitalar, sobretudo de materiais caros, como próteses e medicamentos refrigerados.
Com a tecnologia, hospitais não precisam deslocar uma equipe para contar fisicamente quantas próteses há no estoque, por exemplo, podendo fazer tudo de forma digital, graças a sensores avançados da GTT. Também conseguirão gerenciar quantas unidades usam de fato e quantas precisam comprar, para que nenhum material seja perdido por compras em excesso.
A ferramenta faz as redes hospitalares conseguirem reduzir em 90% a perda de estoque, segundo a Bionexo. Pelo lado dos fornecedores, é possível saber quando os hospitais estão sem estoque e otimizar os contatos.
“Hoje hospitais de ponta já usam essa tecnologia. Nosso desafio é escalar isso para muitos outros hospitais, e colocar a ferramenta em outro grau de visibilidade e transparência. E essa é nossa especialidade”, diz Barbosa.
Proximidade com startups
A GTT faz parte do plano da Bionexo de investir 30 milhões de reais em novas tecnologias em 2019 e quadruplicar sua presença de mercado. Para isso, a empresa também quer estar perto das startups e das inovações em saúde.
A Bionexo abriu há alguns anos um programa chamado whizHealth, para acelerar startups de saúde. A empresa também fez no ano passado uma parceria com o Banco Mundial, em que 22 instituições de saúde brasileiras foram convidadas para compartilhar suas necessidades e startups do mundo inteiro se candidataram para apresentar soluções.
O programa recebeu mais de 300 inscrições de mais de 30 países e, no fim, 19 projetos foram financiados pelo Banco Mundial. Foram mais de 4 milhões de reais em investimentos para que as startups colocassem seus pilotos para rodar.
O pai de Rafael Barbosa, o hoje presidente do conselho de administração Maurício Barbosa, ajudou a fundar a Bionexo no começo dos anos 2000 ao ver que a varejista digital Amazon já valia mais que a montadora General Motors e se encantar com os avanços e melhorias que a tecnologia poderia proporcionar.
De lá para cá, muita coisa mudou para melhor no setor de saúde, segundo Barbosa, mas o nível de adoção de tecnologia na indústria hospitalar ainda é incipiente, mesmo na rede privada. “Na rede pública ainda temos um grande desafio de dar mais transparência às compras. No lado privado, isso já foi relativamente vencido, mas agora restam desafios de eficiência, de melhor gestão dos recursos, evitar gastos desnecessários”, diz.
Com o paciente no meio do fogo cruzado entre hospitais, fornecedores, operadoras de plano de saúde privados e secretarias públicas, quanto mais eficiência e transparência na saúde — que reduzam a conta do paciente sem prejudicar a qualidade –, melhor para o país.
Fonte: EXAME