Publicado por Redação em Gestão do RH - 23/10/2020

Entenda como líderes narcisistas contaminam a cultura das empresas



Já é sabido que quando um narcisista está na liderança, as empresas são menos éticas, menos colaborativas e têm desempenho pior. Mas, como exatamente os narcisistas criam esse estado? Um novo artigo sugere que essas pessoas “infectam” as culturas corporativas, e essa “infecção” continua mesmo depois que o narcisista vai embora.

Se você já teve um chefe narcisista, viu alguns dos comportamentos que eles empregam para progredir com suas ações. Por exemplo, líderes narcisistas recebem um salário maior do que outros líderes. Os autores do estudo acreditam que isso ocorre porque os narcisistas são especialistas em roubar crédito pelo trabalho feito por outras pessoas ou por seus funcionários. Por outro lado, se algo der errado, eles transferem a culpa e se recusam a assumir a responsabilidade. Se você trabalha para um narcisista, só receberá crédito pelo que der errado, especialmente se não for culpa sua.

Os narcisistas acreditam que sabem mais do que os outros, o que significa que eles não ouvem suas próprias equipes ou especialistas no assunto. E também, são conhecidos por uma raiva explosiva por qualquer coisa que considerarem em desacordo com sua palavra ou que seja “desleal” a eles.

Mas um dos comportamentos mais problemáticos é a maneira como os líderes narcisistas são rápidos em impor suas regras aos outros, pois sentem que estão acima delas. E, muitas vezes, eles estão corretos: os narcisistas que subiram ao poder tiveram uma vida inteira para aperfeiçoar uma estratégia de intimidação, e as pessoas que tentam fazer com que eles sigam os padrões adequados aprendem rapidamente que pagarão por isso. Os narcisistas acreditam que as regras não se aplicam a eles, e garantem que isso aconteça.

Líderes assim criam um mito ao seu redor. Considere Elon Musk ou Steve Jobs. Talvez inovadores precisem ser um pouco narcisistas? A resposta é não, segundo a professora Jennifer Chatman em um comunicado à imprensa. “Você pode ter confiança e ser inovador, e não precisa explorar os outros ou ter excesso de confiança, ou não ser sensível a riscos”, diz ela. “Bill Gates é um exemplo perfeito. Mas, por alguma razão, o público leigo desenvolveu uma visão de que os líderes devem ser exagerados e ter excesso de confiança.”

Mas, claro, narcisistas nem sempre tomam vantagem. E outro artigo recente mostra que ser um idiota não ajuda você a progredir. Mas quando um narcisista realmente progride, o impacto em sua organização é profundamente negativo, tanto enquanto ele está no local como por algum tempo depois de partir. Líderes narcisistas são menos colaborativos e éticos, mas, e é importante ressaltar, as organizações que eles lideram também são assim. E essas empresas sofrerão notavelmente com a falta de moral e de desempenho dos funcionários.

Líderes narcisistas infectam culturas corporativas

Em seu artigo “Quando o ‘eu’ supera o ‘nós’: líderes narcisistas e as culturas que eles criam”, publicado online pela Academy of Management Discoveries, uma plataforma americana de publicação de artigos, Chatman e seus colegas propõem um mecanismo de como os narcisistas impactam as organizações que lideram.

“Líderes narcisistas afetam os elementos centrais das organizações e de seu impacto na sociedade”, diz Chatman. “As empresas são criadas, pois um grupo de pessoas pode fazer, junto, algo que nenhum indivíduo poderia realizar sozinho. Quando os líderes narcisistas prejudicam a colaboração, eles, por definição, reduzem a eficácia de uma organização. Sem integridade, uma organização arrisca sua própria sobrevivência.”

Os pesquisadores postulam que os líderes narcisistas são como um vírus: eles infectam as culturas organizacionais. “Narcisistas não criam narcisistas”, diz Chatman. “Não se trata do que o líder faz, mas de como influencia os outros e cria uma cultura que induz as pessoas a agirem com menos ética e menos colaboração do que fariam, sejam eles narcisistas ou não.”

E muito disso vem das políticas e práticas que os narcisistas criam ou deixam de criar. “Eles geralmente optam por não implementar políticas fortes que regem o comportamento ético, conflitos de interesse e igualdade salarial entre homens e mulheres, bem como práticas que promovem o trabalho em equipe e que incentivam as pessoas a se tratarem com civilidade e respeito. Por outro lado, eles frequentemente deixam de punir os funcionários quando eles violam essas normas compartilhadas. Na verdade, as pessoas são recompensadas por comportamentos menos éticos e menos colaborativos”, explica a professora.

Esse tipo de ação prejudica as organizações no longo prazo. Um dos grandes pontos fortes de uma companhia é a capacidade de gerar realizações em grupo, mas isso não acontece quando as pessoas não conseguem colaborar. Líderes que prejudicam a colaboração e assumem o crédito pelo que seus funcionários, matam a autoconfiança dessas pessoas. O moral cai, e os funcionários descobrem que não estão aprendendo ou crescendo em suas funções.

Não é tanto o que os líderes fazem que impulsiona o comportamento geral, são as culturas que eles criam. “A cultura organizacional sobrevive a qualquer líder”, diz Chatman. “Mesmo depois que um líder se vai, a cultura que foi cultivada tem vida própria.”

Como lidar com líderes narcisistas

Se a saúde e o sucesso de uma companhia dependem de evitar narcisistas no topo, faz sentido evitar contratá-los em primeiro lugar. Chatman propõe que a contratação de gerentes seja a questão principal para evitar pessoas com comportamentos narcisistas, embora ela reconheça que os narcisistas tentarão fornecer apenas as referências elogiosas.

Uma vez que muitos narcisistas sabem como jogar limpo até chegarem a uma posição superior, Chatman incentiva os membros do conselho a restringi-los desde o começo. Ela aconselha avaliações de 360 ​​graus para que fique claro como é trabalhar para eles. E, em uma solução brilhante, Chatman propõe que as organizações baseiem remuneração e avaliação do líder no desenvolvimento de sua equipe.

Uma vez que esse líder está no poder, Chatman argumenta que a única maneira de salvar uma organização é removê-lo. Mas isso é apenas o início de um processo trabalhoso. Consertar uma cultura danificada e funcionários esvaziados por ela leva um bom tempo.



Fonte: Forbes Brasil


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