Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 30/08/2011
Empresas de TI apontam oportunidades de integração na área pública
Num País com dimensões continentais e população em cerca de 190 milhões de habitantes, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante a universalidade em sua cobertura, apesar de ainda enfrentar problemas de acesso da população. Dentro de um modelo que atende do Oiapoque ao Chuí, o formato apontado como “ideal” para a gestão da saúde do paciente e a melhoria do acesso da população seria de informações integradas na área clínica: com prontuário eletrônico e acesso a dados de ambulatórios, laboratórios, hospitais e unidades de saúde ligados também ao Programa Saúde da Família (PSF) com diálogo de dados nas esferas federal, estadual e municipal, informatização da rede administrativa e garantia de segurança a todas as informações.
Enquanto isso não ocorre e um padrão para as operações é decidido pelo governo, alguns municípios brasileiros tomam iniciativas isoladas rumo à informatização, adequando sistemas às necessidades locais e promovendo a melhoria da gestão mesmo que regionalmente.
Se do lado privado as instituições buscam informatização e integração de dados, mas sem grandes projetos devido à baixa complexidade de redes menores, na área pública, onde um paciente é atendido em qualquer lugar no Brasil, seja em um centro de saúde, pelo PSF, seja num hospital, a integração de dados clínicos em toda a rede pública é apontada como um modelo ideal por especialistas e fundamental para garantir a melhoria do sistema de saúde.
De olho nessas necessidades de integração em dimensões continentais entram em campo multinacionais de tecnologia da informação para disputar mercado com as tradicionais fornecedoras de Enterprise Resource Planning (ERP) e sistema de gestão clínica para o setor de saúde brasileiro, trazendo estratégias globais e experiência internacional na área de gestão clínica e administrativa da Europa, Chile e Estados Unidos, entre outros. Tal movimento corre em paralelo a algumas iniciativas regionais e a expansão das Parcerias Público Privadas (PPPs) e das Organizações Sociais em Saúde (OSS), que levam ao setor público novas formas de gestão.
O cenário é da necessidade intrínseca da integração do sistema de saúde pública, do intenso movimento do setor privado, que enxergam na saúde pública um mercado promissor, mas que ainda enfrenta alguns obstáculos como regulamentação de um modelo único, orçamento e maior entendimento da importância da tecnologia da informação por parte do gestor público. Para entender como se dá essa relação literalmente em rede, a FH buscou cases, oportunidades e os obstáculos em volta desta possibilidade emergente.
Cenário
Não há dados específicos de investimentos de tecnologia da informação na saúde pública. Fontes ouvidas pela reportagem apontam que o número possa girar em torno de 1% do orçamento de R$ 65 bilhões para a área da saúde.
Considerando áreas pública e privada, um levantamento da consultoria de tecnologia Frost & Sullivan indica que em 2010, 17% dos hospitais no Brasil adotavam algum tipo de Sistema de Informações Hospitalares (HIS). Se comparado com outros países da América Latina, no México a cobertura é de 9% e na Argentina 6%. Em 2009, no Brasil, a receita advinda desse tipo de sistema foi de US$ 74,6 milhões e a perspectiva é que ocorra um crescimento de 15,3% ao ano até 2014, quando o valor atingiria US$ 150 milhões.
Por aqui, alguns projetos na área pública com ou sem parceria com a iniciativa privada tornaram-se cases. A expansão de parcerias de unidades públicas de saúde com a gestão realizada pela iniciativa privada tem trazido a cultura da informatização para dentro dessas unidades.
É o caso do Serviço Estadual de Diagnóstico por Imagem (Sedi), parceria da Associação Congregação Santa Catarina com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que realiza atualmente 70 mil exames/mês de Raios X, Mamografias, Tomografias, Ressonâncias Magnéticas e Ultrasonografias, além de armazenar imagens de Ecografias e Endoscopias, um projeto de R$ 34,6 milhões, que hoje está presente em nove unidades de saúde públicas estaduais e 50 unidades públicas municipais em São Paulo.
Outro exemplo de integração na área da saúde é a Rede Universitária de Telemedicina (Rute), coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que integra 158 instituições e apoia o aprimoramento de projetos em telemedicina já existentes e incentiva o surgimento de futuros trabalhos interinstitucionais.
Mas ainda sim, quando se trata de tecnologia da informação na área de saúde, o Brasil está atrasado. “Um aspecto que chama atenção é que no Brasil existe um atraso muito grande se comparado a outras realidades, onde percebemos que a tecnologia está muito mais madura na sua utilização no sentido real e prático e esse é um desafio para o Brasil”, analisa o diretor executivo da Gesaworld no Brasil, consultoria internacional especializada em serviços de saúde, Gustavo de Martini.
Tal atraso não é visto pelo consultor como um fator totalmente negativo. “O País vai ter vantagem de adotar modelos mais maduros, apesar da desvantagem de dez anos”, completa.
Quem também está de acordo com sua análise é o presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis), Claudio Giulliano Alves da Costa. “Em informatização da saúde estamos muito aquém de Estados Unidos, Canadá, Austrália, mas temos avançado nos últimos anos”, analisa.
Outro detalhe importante ao avaliar o uso da TI pela área de saúde pública e todo o potencial de integração é a diferença entre os estados brasileiros. Que realidades muito diferentes, e a própria integração com a iniciativa privada desempenha um papel importante nisso. “No município de São Paulo, as Parcerias Público Privadas têm um capítulo robusto na parte de informatização dos hospitais. No momento em que a gente tem um investimento tão agressivo de PPP, isso rompe um paradigma e leva consigo a importância da informatização”.
E são as PPPs, que segundo o Solution Manager Healthcare da SAP Brasil, Jomar Fajardo, trazem para a área da saúde pública a necessidade de supervisionar e controlar a gestão realizada em parceria com a iniciativa privada. “Um ponto importante são as OSS (Organizações Sociais em Saúde) recebem a partir de indicadores de desempenho, que são a grande tendência mundial. E o nosso governo saiu na frente com a ideia de OSS, onde se vai pagar de acordo com a performance daquela OS. Como garantir se os indicadores estão sendo cobertos de verdade?, É preciso ter informações e estatísticas gerenciais advindos da origem e isso se consegue através de integrações de sistemas”, pondera.
Iniciativas
Mas nem só de PPPs são feitas as iniciativas na área da saúde pública. Em 2004, com o apoio do Ministério da Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo desenvolveu o Siga, sistema centralizado em todas as unidades de Assistência Médica Ambulatorial (Amas) e Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A integração não inclui informações clínicas dos pacientes, mas ajuda no conhecimento do fluxo de cada um na saúde municipal. Por exemplo, ao ser atendido e ter uma consulta marcada via sistema para o acompanhamento em qualquer UBS, em seu retorno, o atendente da AMA terá dados como nome, idade do paciente e o dia e o horário de seus atendimentos.
”Não é um prontuário eletrônico ainda, pois as informações clínicas não trafegam pelo Siga, mas é um primeiro passo, com informação na UBS, na AMA e no Ambulatório de Especialidade (AE)”, analisa o presidente da Sbis, que participou do desenvolvimento do projeto, à época como coordenador de TI da Secretaria Municipal de Saúde.
No caso do Siga, a grande sacada foi criar uma arquitetura que permitisse a integração com sistemas de outros parceiros. “É um sistema de um terceiro que se integrou com Siga. O papel do município foi criar a arquitetura de integração, estabelecer padrões e permitir que as aplicações de toda a rede pudesse se integrar com o sistema central. É o melhor modelo e deveria ser replicado do nível estadual e federal”, salienta.
A ideia não está longe de acontecer. Em abril deste ano, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, assinaram um termo de cooperação que permite a utilização do Siga pelo SUS. O Ministério da Saúde já havia financiado o sistema de informações básicas do Siga São Paulo e com o acordo tem a possibilidade de utilizar o software aberto para a organização do sistema, da atenção básica ao atendimento hospitalar.
Outro exemplo de projeto de integração de dados ocorreu no Distrito Federal com a Intersystems. Em 2007, a multinacional que tem 70% de seus negócios na área de saúde, foi contratada para fazer a integração do sistema de saúde da cidade. O projeto prevê 15 hospitais, quatro unidades de Pronto Atendimento (Upas), 63 centros de saúde, 22 laboratórios de diagnóstico e duas centenas de equipes do PSF.
De acordo com o diretor de vendas na área de saúde da empresa, Fernando Vogt, o projeto se divide em cinco linhas: gestão do paciente, com prontuário eletrônico; gestão dos exames, com radiologia, integração, portal de exames; gestão das farmácias integrada ao sistema de compras, faturamento, gestão da regulação: escala médica, leitos, agendas, entre outros.
“A economia com exames de laboratório chega a R$ 10 milhões por ano”, afirma o executivo, pois antes do sistema integrado a perda com exames era de 50%. Há também a redução de 50% nas farmácias, com a economia por dose. Hoje o projeto já contempla 2 milhões de prontuários eletrônicos de paciente e 10 mil profissionais utilizando o sistema, com previsão de chegar aos 18 mil ao final do projeto. “Com o uso do sistema de informação, se acaba com o modelo de que todo mundo corre para o hospital. A ferramenta ajuda a organizar o sistema de saúde e iniciar o processo de prevenção e qualidade”, analisa Vogt.
Conjuntura
De acordo com Costa, a informatização na área na saúde é irreversível. “Se pensarmos na consolidação dos grandes grupos hospitalares, eles estão se profissionalizando. Os hospitais por sobrevivência estão tendo que ser mais eficientes em controlar e reduzir seus custos e aumentar qualidade e para isso têm que usar a tecnologia da informação e isso os estudos mostram”, analisa.
Mas segundo ele, as prioridades na área de saúde se dão de maneiras diferentes no público e privado. Enquanto os hospitais privados investem primeiro em um sistema de Enterprise Resource Planning(ERP) e depois em prontuário clínico, no Sistema Único de Saúde (SUS) isso passa por regulação.
“É preciso controlar o fluxo do paciente para facilitar o seu acesso ao sistema de saúde, passando pelas estruturas. Hoje, para o SUS, a principal demanda é a regulação, depois o prontuário, não se pode queimar etapas. Regulação do SUS é definir todos os controles e fluxos do atendimento ao paciente”, explica.
Fajardo enxerga como oportunidade as áreas de prontuário eletrônico, integração, Business Inteligence (BI) e mobilidade, nessa sequência, mas com as duas últimas ocupando igual importância. Na opinião do executivo, os desafios na área de saúde pública passam pela integração de dados em um país com as características demográficas e geográficas e a mobilidade das informações.
“Temos algumas oportunidades: primeiro, a centralização das informações do cidadão brasileiro; a padronização; o prontuário eletrônico integrado a sistemas administrativos, que pode ser compartilhado dentro de qualquer município; a integração entre municípios e informações, saber se toda essa população está sadia ou não, e quais as regiões demandam”, analisa.
Mas para ele, as oportunidades estão tanto no público quanto no privado. “Todos estão demandantes, mas por motivos diversos, os hospitais precisam mensurar as suas performances, precisam gerenciar o custo, a área pública precisa garantir a integralidade do paciente, a melhor maneira de trazer um custo ótimo”, afirma.
A importância da mobilidade da informação fica evidente ao considerar o Programa Saúde da Família. O prontuário eletrônico pode estar interligado sistemas de ERP para a integração total das informações, da área clínica ao faturamento e farmácia. No futuro, esses sistemas poderão contar com o Customer Relationship Management (CRM) para o gerenciamento de doentes crônicos, por exemplo.
A integração de informações e a centralização e segurança de dados também é apontado pelo diretor de soluções para o setor público, educação e saúde da Oracle, Fernando Faria. “No setor público mundial existe a discussão sobre o compartilhamento de informações, grande investimento naquilo que rodaria dentro do hospital, dispensação de remédios, investir naquilo em que o fator humano pode se torna ágil e eficaz. A grande questão é como compartilho, partindo da premissa que o paciente pode ser de todo o lugar e é nessa área que temos apoiado mais”, enfatiza.
Na opinião de Ricardo Menezes, diretor de Governo, Saúde e Educação da Dell, a grande oportunidade no Brasil está no registro eletrônico. “A área pública está demandando, vamos passar pelo Eletronic Medical Record (EMR), ele ainda não é uma realidade no Brasil, mas rapidamente isso (registro eletrônico do paciente) vai criar uma demanda fantástica”, ressalta entusiasmado.
O executivo aponta ainda mais três grandes demandas na área de saúde: mobilidade, PACS e segurança da informação. Sobre o potencial do mercado, ele afirma: “Eu diria que o Brasil é BRIC [grupo dos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China]. Sua importância na America Latina e seus dados macro econômicos sólidos tem posição de destaque em relação aos nossos anseios”, analisa.
A opinião de Vogt, da Intersystems, é que haverá mudanças na área. “O Brasil tem um modelo único, aquilo que é a nossa dificuldade gera uma demanda enorme. Temos um sistema público de saúde único, vamos ter que usar nossas melhores inteligências, nos próximos 10 anos haverá uma melhoria na saúde pública. É hora da gente se organizar, entender que é possível construir e acredito que podemos fazer”, finaliza.
Força do mercado
Longe de ser um mercado restrito tanto pela possibilidade de crescimento quanto pelas oportunidades para a indústria fornecedora, há tempo que a saúde pública e privada no Brasil vem atraindo olhares de gigantes da tecnologia da informação como IBM, Oracle, Dell, SAP, Cisco e Microsoft. “Excetuando aquelas empresas que são apenas de saúde, as grandes empresas estão nos últimos anos criando estratégias na área de saúde”, afirma Costa, da Sbis, mencionando algumas já citadas acima. “E o ‘boom’ que aconteceu no setor bancário há 20 anos está acontecendo na área de saúde agora”, completa o diretor da área governo, saúde e educação da Dell no Brasil, Ricardo Menezes.
Há cerca de dois anos, a fabricante Dell entrou no mercado de saúde com a compra da americana Perot Systems por US$ 3,9 bilhões. Com a aquisição, veio a entrada na área de saúde com a experiência de mais de 20 anos de mercado de uma companhia que tinha o setor como seu principal negócio.
“Somos fornecedores de hardware há anos, mas especificamente para saúde nosso grande carro chefe é a consultoria, fazemos a terceirização, tanto no que tange a tecnologia da informação quanto a processos”, explica o diretor da Dell.
O executivo comemora o primeiro contrato fechado de 100% de consultoria em um hospital privado e já enxerga futuros negócios. “No atual momento, evidentemente, a maior parte da receita ainda vem do hardware. Mas em dois ou três anos a projeção é que 30% da nossa receita venha de novos serviços de healthcare”, analisa.
Dentre as ofertas da Dell, além da área de hardware já consolidada na vertical, existe a segurança da informação, a consultoria na área de tecnologia da informação e também no que diz respeito a processos com o know–how vindo da aquisição.
Quem também está no páreo é a SAP. Desde sua chegada ao Brasil a empresa atua na área de saúde, mas começou o fortalecimento das operações há cerca de um ano e meio, quando passou por uma reestruturação, começou a enfatizar sua atuação no mercado cerca de um ano e meio e tem clientes como Grupo Fernandes Vieira (Hospital Santa Joana e Memorial São José), Hospital Israelita Albert Einstein, Grupo Fleury e o mais recente na área pública, com a secretaria municipal de Americana.
Além do Enterprise Resource Planning (ERP), CRM e BI, a empresa tem produtos específicos para a área de saúde como o prontuário eletrônico e mobilidade. De acordo com o vice- presidente de indústrias e soluções da SAP para a América Latina, Felix Feddersen, o Brasil detém 50% do mercado de saúde latino americano. As estimativas da companhia apontam que o País gasta em saúde cerca de R$ 160 bilhões por ano, sendo metade SUS e metade suplementar. Ao redor do mundo, a multinacional tem cerca de 2300 clientes na área de saúde pública e privada.
Junto a Dell e SAP está a Oracle. Com processo semelhante, a empresa também começou a olhar para a saúde há cerca de dois anos. Para a área de sistemas clínicos, a empresa conta com cerca de 30 parceiros no Brasil. A multinacional não revela nome nem quantidade de clientes na vertical, mas segundo Faria, aposta na necessidade de integração de dados e da gestão na área de retaguarda das instituições.
“Há dois anos, estamos com uma equipe mais dedicada e com discurso e conhecimento. Na saúde pública há uma questão de amadurecimento, não adianta ter o produto certo e a solução certa na hora errada, temos que ter soluções que possam ser replicadas de maneira mais fácil”, explica o executivo, salientando as especificidades legais de cada país.
A partir do projeto no Distrito Federal, a Intersystems ganhou visibilidade pela iniciativa na integração ao Chile, onde venceu uma licitação e hoje é responsável por 70% do projeto no país. “O Chile pôs cabo no país inteiro com banda larga e está informatizando as regiões, lá vai ter o registro eletrônico de saúde”, conta Vogt.
Percalços
Apesar das iniciativas das empresas e de alguns municípios em busca da integração e informatização dos dados na área de saúde pública, o segmento ainda não conta com um plano nacional na área de tecnologia da informação que reúna todos os projetos embaixo de uma mesma política e promova a convergência de sistemas adotados no presente e no futuro.
Se de um lado existe um sistema de saúde público que é gerido por administração direta ou através de terceirizações, no outro, o setor privado também atende a área pública, no caso de hospitais privados que atendem SUS. “Nosso sistema é totalmente integrado na sua prática e como se integra os sistemas de informação? Porque para que isso funcione melhor, os sistemas de informação precisam estar integrados”, questiona Costa.
Enquanto ocorrem iniciativas isoladas ou regionalizadas nos municípios, o Governo Federal também tem projetos para a área de tecnologia da informação, mas de acordo cm consultores, essas iniciativas não estão sendo de forma integrada e buscando uma universalização de padrões.
Segundo Costa, há, por exemplo, o projeto já citado do Siga por parte do Ministério da Saúde, uma portaria de consulta pública sobre o cartão nacional de saúde, uma portaria sobre padrões que não menciona está última, uma licitação para a compra de sistemas de gestão para hospitais federais e uma outra pelo Ministério da Educação p está criando um projeto para desenvolver um sistema de gestão hospitalar para os hospitais universitários.
“O que eu acho que falta no Brasil é um plano nacional para se construir um registro eletrônico em saúde. Esse plano nacional deve ter vários componentes não é só desenvolvimento de solução, cada estado e município da federação tem sua autonomia e eles precisam se conversar e o melhor caminho é que com o registro eletrônico de saúde eles possam compartilhar informações, o grande desafio é que os sistemas sejam interoperáveis, e para isso acontecer, é necessário um plano nacional que defina qual a arquitetura e padrões que um sistema integrado deve seguir”, analisa.
Traçando um paralelo, nos Estados Unidos foi acordada a Lei Hightech. “Uma das primeiras leis que o presidente Barack Obama conseguiu aprovar foi de incentivo ao uso da tecnologia da informação na área de saúde. É um investimento US$ 20 bilhões, sendo US$ 2 bi só para pesquisa e os outros US$18 bi – para o registro eletrônico de saúde. A meta é ter 100% das informações dos americanos armazenadas no registro eletrônico de saúde até 2015”, conta.
Enquanto nos Estados Unidos cerca de 10% das insituições de saúde utilizam prontuário eletrônico, no Brasil menos de 1% dos quase 7 mil hospitais têm algum tipo de prontuário integrado por completo na instituição. Como um modelo a ser seguido no Brasil, o especialista aponta o do Canadá que está com quase 50% do sistema com prontuário eletrônico, onde ocorreram gradativas ações primeiramente com a criação de um órgão independente ao governo, específico para discutir a tecnologia da informação em saúde. Depois foi definida a arquitetura do sistema, os incentivos e financiamento, o registro eletrônico e até questões ligadas à confidencialidade.
Não é só padrão que falta na área de saúde pública. Quando se aborda o seu caráter regional é impossível não citar desafios como o orçamento de cada cidade e a própria visão do gestor da saúde do município.
“Há a dificuldade de alocação orçamentária, se a TI não é prioridade naquele município ou gestão para que essa importância se traduza no orçamento previsto no investimento. Como abordar a secretaria para oferecer ferramentas para a saúde?”, questiona Martini.
Para Fajardo, da SAP, na área da saúde pública o que deve ser repensado é o processo de compra. “Hoje o Brasil tem uma economia muito estável, orçamento para ser gasto, porém nós temos que repensar a forma de compra, porque muitas vezes torna-se uma guerra jurídica que se estende por anos, e o que acaba dificultando comprar dado o tamanho das nossas compras de governo, o volume é muito grande e você tem dificuldades de colocar isso no mercado.”
Vogt, da Intersystems, pontua que, ao acessar o governo para a oferta de seus serviços, ainda encontra obstáculos de infraestrutura. “Estamos começando a construir um parâmetro, precisamos estruturar o cartão da saúde. Há lugares sem datacenter estruturado para web”. Ele também compara o Brasil ao Chile, onde a empresa ganhou a licitação na área pública. “Ocorreu um contrato, um marco na licitação, aqui o Governo Federal vai ter que começar a estabelecer padrões e enfrentar grandes desafios como de abrir as informações”.
Para Costa, as dificuldades enfrentadas pelos players ao entrar em contato com o governo passam também por capacitação técnica. “Alguém precisa comprar bem e o outro vender bem”, conclui.
Siga em frente
Iniciativa da Secretaria Municipal de Saúde, o Siga foi desenvolvido a partir de códigos fonte cedidos pelo Ministério da Saúde, que adaptados a realidade paulista em um projeto que também contou com a parceria da Fundação Atech, criou o sistema que registra o fluxo do paciente pelas unidades de saúde do Município.
“Hoje ainda não existe um computador na sala do médico, mas um cadastro inicial, nome, endereço, consultas por onde passou, registro atendimento, qual era a doença, se foi apenas uma consulta, se colheu material de exame e histórico (do fluxo) do paciente”, explica a Coordenadora de TI da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Heloisa Helena Andretta Corral.
O sistema também está integrado ao Cartão Nacional de Saúde, cartão de plástico com código de barra que contém informações de identificação do paciente: nome completo, nome da mãe, sexo, data de nascimento e número de identificação junto ao Siga (número válido de cartão SUS), que também está em código de barras. A informação permite o acesso ao sistema e assim ao conhecimento do fluxo daquele paciente dentro do sistema.
Com o documento, que não depende de senha para funcionar, os profissionais de saúde da rede poderão acompanhar o fluxo dos pacientes pelas unidades. O cartão também permite monitorar o controle da entrega de medicamentos e consultas e exames realizados pelos pacientes.
Recentemente a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de São Paulo cedeu o Siga para o Ministério da Saúde, pois eles analisam disponibilizá-lo para o Brasil. O Siga também foi oferecido gratuitamente para municípios que tenham interesse.
“Organizamos a assistência prestada, sabemos a quantidade de médicos, onde há fila de espera, onde ela é maior por região de São Paulo, as agendas dos médicos estão no Siga”, conta Heloisa.
O próximo passo é integrar o Siga para colher informações no Programa Saúde da Família. “Eles registram essa visita em papel hoje, não existe um sistema para colher essa informação individualizada”, a ideia é integrar informações coletadas pelas 1215 equipes do programa que atuam hoje na cidade.
Prefeitura de Americana vai integrar 32 unidades de saúde
Até o final de 2011, a cidade de Americana, no Interior de São Paulo, vai integrar e informatizar suas 32 unidades de saúde. Coordenado pela secretaria municipal de saúde, o projeto prevê a informatização de quatro unidades de pronto atendimento, 24 unidades de saúde, um núcleo de especialidades, uma central de regulamentação, um Centro de Atenção Psicossocial Adulto, um Centro de Atenção Psicossocial Infantil, um Hospital Infantil e o Hospital Municipal.
As unidades serão integradas por uma solução específica da SAP para o segmento da saúde, que permite à
cidade uma melhor gestão de recursos e transparência, controle de gastos na área pública e qualidade e eficácia.
Projeto de Brasília já contacom 50% de informatização
O projeto da Intersystems no Distrito Federal já conta com 50% de informatização na região. Quem conta é a diretora geral de saúde do Hospital Regional da Asa Sul, Roselle Bulgarin Steenhouwer. Ela explica que as vantagens da informatização vão desde ter a visão integral do paciente até ter dados e indicadores para fazer uma gestão melhor.
“Abrimos o prontuário e sabemos todas as informações dos centro de saúde, consulta no hospital, suspeita (doença) levantada pelo médico, por exemplo. São todas as informações até a medicação que ele tomou. Sabemos quando o paciente deu entrada, exames, a vida do paciente, todas as consultas e visualização dos dados ocorre em níveis diferenciados”, explica Roselle, sobre o acesso dos profissionais de saúde ao prontuário e informações do paciente segue normas de segurança.
De acordo com a diretora, a necessidade da adoção do sistema veio de conhecer as informações em tempo real, principalmente ter a da centralização das informações. “A central consegue saber o que a periferia está fazendo, por exemplo, controlar gastos e gerencia e assim melhorar a saúde”, analisa.
Fonte: www.saudeweb.com.br | 30.08.11