Publicado por Suporte AW em Notícias Gerais - 17/12/2010
Empreendedor do ano 2010
Fonte: www.istoedinheiro.com.br
Edson Bueno
Nascido em uma família pobre no interior paulista, o médico fundador da Amil tornou-se o líder no mercado brasileiro de saúde ao comprar a concorrente Medial Saúde e ao tornar-se o maior acionista individual da Diagnósticos da América.
Sentado à mesa de almoço no jardim de inverno de seu apartamento em um dos edifícios mais caros de São Paulo, o médico Edson Godoy Bueno confere as cotações das ações da Amil em seu smartphone e exibe, orgulhoso, o gráfico que mostra uma valorização abrupta a partir de agosto. “Olha só como a ação subiu, mostra que os investidores gostaram do negócio”, diz ele.
O negócio a que Bueno se refere foi uma transação fechada no início daquele mês, em que ele vendeu sua empresa de medicina diagnóstica MD1, líder no Rio de Janeiro, para a Diagnósticos da América (Dasa), maior empresa do setor no Brasil, por meio de uma troca de ações.
Com isso, tornou-se o maior acionista individual da Dasa, com 26% do capital. Não foi a única grande transação fechada por Bueno neste ano. Ele concluiu em junho a compra da concorrente Medial Saúde, da qual detinha 52% desde o final de 2009.
A aquisição custou R$ 1,17 bilhão e transformou a Amil na maior empresa do setor de saúde privada no País. As duas transações e a melhora dos resultados – o faturamento avançou 62% em relação a 2009 – fizeram as ações da holding Amilpar subir cerca de 35% entre janeiro e novembro, muito acima dos 4% do Índice Bovespa.
“2010 foi um ano fantástico”, diz ele. A transação entre a MD1 e a Dasa garantiu um ganho duplo à Amil e fez Bueno ser escolhido o EMPREENDEDOR DO ANO NOS SERVIÇOS.
Ao tornar sua empresa um cliente preferencial da Dasa, ele pôde passar a controlar mais de perto os custos dos exames clínicos. “Esses gastos representam cerca de 25% dos custos totais das empresas de saúde, e qualquer ponto percentual de economia faz muita diferença nos resultados”, diz Iago Whately, analista da corretora Fator.
A associação com a Amil também permite à Dasa acelerar sua expansão. Construir um laboratório custa caro, e torná-lo conhecido é demorado. Ao contar com os clientes da Amil, a Dasa corre muito menos riscos em sua expansão.
A transação também mostrou ser a prescrição adequada para a saúde financeira de Bueno. Ele encerra o ano não só permanecendo com o controle absoluto da Amil, com 63% da empresa com 5,2 milhões de clientes, como também tornou-se o maior acionista individual da Dasa, com 26% das ações.
Tacadas certeiras: a abertura de capital da Amil na BM&FBovespa (foto maior)
forneceu os recursos para a aquisição da Medial e para a transação com a Dasa
Também coloca seu nome no seleto grupo dos bilionários: juntas, as duas participações somam R$ 4,56 bilhões, segundo as cotações do dia 1º de dezembro de 2010. Nada mal para quem nasceu em uma família de baixa renda no interior de São Paulo e, contra todas as expectativas (incluindo as próprias), formou-se médico no início dos anos 60.
Bueno é o primeiro a divulgar sua trajetória improvável – produziu um documentário de oito minutos em vídeo sobre a própria vida, que faz questão de exibir na ampla televisão do escritório do apartamento.
Ele foi mau aluno na escola pública (repetiu quatro vezes a primeira série). O que mudou sua vida na pequena Guarantã, cidade de seis mil habitantes a cerca de 300 quilômetros de São Paulo, foi ter conhecido Moacir Junqueira, único médico da cidade.
O menino decidiu que seria médico e estudaria na escola em que Junqueira se formou, a Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Foi lá que ele começou sua trajetória empresarial, quando comprou uma clínica médica falida em Duque de Caxias, subúrbio do Rio.
De onde veio o capital inicial? “Comprei como pobre compra as coisas, fazendo dívida”, diz ele. O começo foi modesto. A Casa de Saúde São José funcionava em uma casa adaptada. “Eram só 250 metros quadrados, hoje o apartamento em que eu moro tem 750”, diz ele, exibindo orgulhosamente os quadros de Marc Chagall, Fernando Botero, Portinari, Di Cavalcanti e Anita Malfatti que adornam as paredes.
Ao assumir a São José, Bueno descobriu problemas crônicos de gestão financeira. “Os fornecedores cobravam caro e os clientes não pagavam, por isso a clínica vivia no vermelho.” Ele lancetou os custos, purgou as despesas e injetou anabolizantes no número de atendimentos, e os resultados saíram da terapia intensiva.
Controle de custos: a parceria com a Dasa, dona do Delboni Auriemo e do Lavoisier,
estabilizaos preços dos exames clínicos, que respondem por 25% dos custos dos planos de saúde
Uma pesquisa da Associação Médica Brasileira (AMB) e da Associação Paulista de Medicina, divulgada em dezembro, coloca a Amil em segundo lugar entre as empresas que mais interferem no trabalho dos médicos.
Mesmo com tantas aquisições em 2010, Bueno manteve o fôlego. Em meados de dezembro, o Hospital das Clínicas de Niterói, controlado por ele, fechou um acordo para comprar o Hospital Samaritano do Rio de Janeiro, por R$ 180 milhões.
O Samaritano, com 93 leitos, fatura R$ 210 milhões por ano. Bueno tem dois outros alvos. Um deles é o mercado de Minas Gerais. O outro são os planos odontológicos.
Ele reconhece que tomou “um susto” em 2009 quando viu que o Bradesco havia comprado a empresa de planos odontológicos OdontoPrev. Essa oportunidade não era para ser perdida. “Os planos odontológicos são os que têm mais potencial de crescimento por causa do aumento da renda, especialmente para a classe C”, diz ele.
Também têm a vantagem de ser menos regulamentados do que os planos de saúde. A unificação da Amil e da Medial, concluída no terceiro trimestre, vai permitir um aumento das vendas cruzadas. “Isso garantirá o nosso crescimento pelos próximos dez anos.”