Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 28/12/2015
Em colapso, sistema de saúde no Rio vive a pior crise de sua história
Um dia após a paralisação do Hospital da Mulher, em São João de Meriti, a direção do HGV informou que apenas pacientes com risco de morte seriam atendidos.
Fechamento de leitos no Schweitzer piora atendimento em unidades municipais. Foto: Ernesto Carriço
Rio - Em colapso, a saúde do Rio sofreu nesta terça-feira mais um efeito colateral: o fechamento da emergência do maior hospital estadual da Zona Norte, o Getúlio Vargas. Um dia após a paralisação do Hospital da Mulher, em São João de Meriti, a direção do HGV informou que apenas pacientes com risco de morte seriam atendidos. No Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, a entrada também está restrita aos casos graves. Até o Hospital São Francisco da Providência de Deus, na Tijuca, suspendeu os transplantes. A crise já afeta 24 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), geridas pelo estado.
Em meio ao caos, ontem o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, anunciou que deixará o cargo para concorrer à Prefeitura de Niterói. Em seu lugar, ficará o médico Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, atual secretário de Saúde de Nova Iguaçu. Sem rumo, autoridades médicas, como o Cremerj e o Coren, vão à Justiça contra o governo e as organizações de saúde (OS), responsáveis pela gestão dos hospitais, para forçar a reabertura das unidades.
O sofrimento não se restringe mais só a quem recorre aos hospitais estaduais, sucateados pela falta de medicamentos, exames e salários atrasados. Nesta terça-feira, O DIA constatou que unidades municipais do Rio também estão no limite. Um aumento de 30%, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.Na UPA de Realengo, apenas dois médicos e dois auxiliares de enfermagem atendem os pacientes. Já na UPA de São Gonçalo só urgências passam pela porta.
O fotógrafo Walter Firmo, de 78 anos, passou 12 horas numa cadeira de rodas, à espera de leito na Coordenação de Emergência Regional (CER) do Centro, ao lado do Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Catia Peres, 24, até conseguiu atendimento para o marido Luciano Nunes, 36, no domingo, no Hospital Pedro II, em Santa Cruz. Foi diagnosticado com cálculo renal, mas não havia medicamentos. Foram para uma UPA, no mesmo bairro. Lá, um novo diagnóstico e, mais uma vez, nenhum remédio. Ontem, ela aguardava sob sol forte na CER do Centro. “Disseram que só tem tratamento no Souza Aguiar. Só me resta torcer”, lamentou.
Déficit de R$ 700 milhões
O governador Luiz Fernando Pezão afirmou que precisa de R$ 350 milhões para reabrir todas as emergências do estado. O valor é metade do que o Cremerj afirmou como sendo necessário para retomar o funcionamento nos hospitais da rede. “A minha luta é para reabrir todos os hospitais. Pedi ajuda aos prefeitos, principalmente da Região Metropolitana, para estar nos auxiliando”, afirmou.
Hoje, o governador se reúne com a presidente Dilma Rousseff para pedir repasse de verbas. Pezão também tenta receber dinheiro de empresas que devem impostos ao estado.
Segundo o presidente do Cremerj, Pablo Vázquez, a situação tende a se agravar. “Estamos indignados, é um descaso com a saúde pública. Pacientes estão morrendo”, declarou.
Ontem o Tribunal de Justiça entrou com mandado de segurança no STF contra o governador por atraso na liberação de verbas para o Judiciário.
Baixada perdeu 2 mil leitos maternos
Pelo menos 14 maternidades fecharam as portas na Baixada Fluminense nos últimos anos, fazendo com que gestantes tenham que procurar atendimento em cidades vizinhas. Atualmente, o déficit é de dois mil leitos destinados a gestantes, de acordo com levantamento feito pelo deputado federal e médico obstetra Dr. João (PR-RJ).
O parlamentar explica que as maternidades públicas foram desativadas por falta de investimentos e de repasse de verbas. Já as maternidades privadas, que recebem financiamento do estado, se viram obrigadas a encerrar as atividades devido aos baixos valores repassados pelo SUS. Para o parto normal, as maternidades recebem R$ 498 e, na cesariana, R$ 622.
“Hoje, as gestantes da Baixada só têm como opção o Hospital da Mãe, em Mesquita, a Maternidade Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu, e o Hospital das Clínicas de Belford Roxo. É lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto”, diz Dr. João.
A Associação de Caridade Hospital São João de Meriti, conhecida como Hospital e Maternidade do Morrinho, funciona de forma precária. Segundo o parlamentar, a unidade quase fechou as portas há três meses por falta de repasse de verbas da prefeitura, o que provocou atraso nos salários de funcionários e no pagamento de fornecedores, comprometendo ainda a compra de medicamentos e a reposição de material. Ontem, a direção do Hospital da Mulher Heloneida Stuart, em São João de Meriti, fechou o ambulatório por falta de pagamento de salários.
Fonte: Jornal O Dia