Publicado por Redação em Notícias Gerais - 07/04/2011
Elevação dos juros pelo BCE marca início de um ciclo nas economias centrais
SÃO PAULO - A inflação não é mais exclusividade das economias emergentes. Essa passou a ser a leitura econômica de 2011, após alguns movimentos que intensificaram o clima de aversão ao risco do mercado, sobretudo com a disparada de petróleo. Diante desse contexto, economistas acreditam que o Fed deverá seguir a decisão do BCE (Banco Central Europeu) e elevar os juros.
Para o professor de economia da Trevisan, Alcides Leite, as economias centrais foram “até onde deu” com a política monetária estimulando o crescimento econômico, mas com a piora do contexto internacional, não havia outra alternativa a não ser elevar os juros, decisão tomada pelo BCE nesta quinta-feira (7).
Para os analistas do Bank of America Merrill Lynch, a expectativa é de um aumento de 100 pontos-base na taxa de juros americana. Embora o presidente do Fed, Bem Bernanke, acredite que a alta do petróleo seja temporária, a última Ata do Fomc (Federal Open Market Committee) revelou que há justificativa para uma política monetária “menos cômoda”.
Início de um ciclo
Evaldo Alves, professor de economia da Fundação Getulio Vargas, acredita que as economias centrais deverão deixar de lado a política monetária mais frouxa para remediar a pressão inflacionária que começa a surgir. "Todos estão enfrentando a inflação e as economias centrais já começam a perceber isso", explica Alves.
Os Estados Unidos, apesar de serem cotados como os próximos a elevar juros, apresentam uma situação um pouco mais favorável. O aumento de juros por lá não deve pressionar tanto a economia como no caso europeu.
Economia está se recuperando
Para Alves, os dados americanos são mais animadores. Embora a crise ainda mostre seus efeitos nos EUA, o mercado de trabalho está dando sinais de recuperação, com criação de empregos e queda na taxa de desemprego. Alguns presidentes dos bancos centrais regionais, otimistas com a economia americana, já falam em antecipar o fim do QE2 (Quantitative Easing).
Apoiado na mesma visão, Leite afirma que os EUA tem uma vantagem em relação aos gastos públicos, com uma flexibilidade econômica muito maior do que os países da União Europeia. O professor de economia explica que, como o problema da Europa é a crise fiscal, há uma série de problemas estruturais para serem resolvidos, o que nos EUA é mais ameno.
Segundo Leite, o sistema de proteção social é maior na Europa, o que torna a economia muito mais vulnerável a esse tipo de choque. O aumento de juros em um tipo de governo com essa estrutura tende a penalizar mais seus cidadãos.
Porém, para o BofA, a situação não é tão amena quanto parece. A inflação é um perigo real, que pode ferir a incipiente recuperação econômica do país. Além disso, os analistas explicam que ao analisar apenas os dados "positivos" do mercado de trabalho, alguns analistas estão se esquecendo de olhar outros indicadores, que ainda estão apontando para uma pressão na economia. Um exemplo citado por eles é a queda no crescimento do consumo.
Os preços do gás em março, informa o BofA, devem ofuscar qualquer ganho obtido por menores impostos sobre salários.
Unificação
A questão da unificação também pesa. Alves ressalta que a União Europeia conta com diversos países, cada um vivendo uma situação distinta.
De um lado há uma Alemanha mais sólida, de outro há Irlanda, Grécia e Portugal pedindo socorro, porém a unificação de todos eles sob uma mesma política monetária impede a análise de cada país isoladamente, por exemplo. O BCE toma as decisões baseado no conjunto que compõe a zona do euro.
Assim, os países que enfrentam a crise fiscal estarão em uma situação muito pior, pois verão as dívidas de seus governos subirem substancialmente, além de contarem com o custo social que o aumento dos juros traz.
Fonte: web.infomoney.com.br | 07.04.11