Publicado por Redação em Previdência Corporate - 05/03/2012
Economizando horas para uma velhice tranquila
St. Gallen pode ser a primeira cidade suíça criar um "banco do tempo". Nele o poupador deposita horas trabalhadas ao ajudar idosos ou pessoas necessitadas no seu dia-a-dia. A fortuna virtual pode ser posteriormente descontada para comprar para si próprio ajuda.
A ideia simples, mas genial, pode ajudar o governo reduzir os custos sociais frente ao desafio demográfico e promover a solidariedade entre a população.
A bomba-relógio demográfica é um desafio premente. Se em 1960 apenas um em dez habitantes da Suíça tinha mais de 65 anos, cinco décadas depois a proporção é de um para seis. O sistema previdenciário sofre com o desenvolvimento: segundo o Departamento Federal de Estatísticas, atualmente quatro pessoas ativas financiam a aposentadoria de um aposentado; dentro de quarenta anos, essa proporção cai para duas por aposentado.
A população crescente de idosos, especialmente os que necessitam de ajuda, é um grande problema par as autoridades locais. Como financiar hospitais, asilos e cuidados a domicílio frente à perspectiva de receitas limitadas? "Precisamos trazer o vilarejo para a cidade e voltar aos tempos em que as pessoas se ocupavam mais dos seus próximos, sejam familiares, amigos ou vizinhos", responde Katja Meierhans.
A funcionária da prefeitura de St. Gallen não apela às tradições para resolver o desafio demográfico, mas a um projeto intitulado "Previdência do Tempo", desenvolvido por especialistas do Departamento Federal de Previdência Social (OFAS). Nele, recém-aposentados dispondo de boa saúde e disponibilidade ajudam idosos necessitados. Cada hora trabalhada é "depositada" em uma conta pessoal, que pode ser mais tarde "descontada" para pagar as horas de trabalho de outro voluntário quando eles também passarem a necessitar de auxílio na velhice.
A ideia surge pela constatação das autoridades de um novo contexto social no país. "Não observamos uma redução da solidariedade na Suíça. Mas devido à mobilidade crescente e às novas estruturas familiares, as redes de laços familiares não são mais resistentes como no passado. Por isso é importante incentivar a ajuda fora do contexto da família", afirma Ludwig Gärtner, vice-diretor do OFAS.
Experiências positivas
St. Gallen, uma cidade localizada ao nordeste da Suíça próxima à fronteira com a Alemanha. Com uma população oficial de 72.522 habitantes, foi escolhida pelo governo federal para aplicar o projeto-piloto pela boa experiência com outros programas de voluntariado. "Desde 2008 temos no cantão uma espécie de bolsa do tempo, onde as pessoas podem fazer intercâmbio de ajuda. O projeto da Cruz Vermelha de St. Gallen está funcionando muito bem. Por isso fomos contatados pelo governo federal para aplicar a Previdência do Tempo", explica Meierhans.
O novo projeto não pretende criar uma concorrência aos serviços tradicionais de apoio à terceira idade como asilos ou serviços ambulantes. "A carência maior dos idosos é de ajuda no cotidiano, seja nas compras, solução de problemas administração ou limpeza", descreve a chefe de projeto, acrescentando que o principal objetivo é permitir que o idoso possa viver mais tempo de forma independente na própria casa. "Afinal, uma vaga em um asilo custa muito mais caro para o sistema social e é menos satisfatório para o idoso."
O público potencial de voluntários e beneficiários já está definido, segundo as estatísticas: em St. Gallen vivem 12 mil pessoas com mais de 65 anos de idade. O sucesso do programa depende do nível de participação. Os iniciadores esperam que trezentas pessoas se animem a participar do programa, ajudando idosos na base de duas a três horas por semana durante um período de 42 semanas. Isso totalizaria 25 mil horas de trabalho. "Se essa base for alcançada já estaríamos muito satisfeitos", declara Meierhans. E para que ninguém exagere, o limite máximo de trabalho acumulado foi limitado a 750 horas por voluntário.
Mesmo baseando-se em solidariedade, o projeto não tem custo zero. Para financiar a criação da plataforma internet que irá permitir que os voluntários encontrem os idosos carentes de ajuda, além de cobrir outros custos fixos como apoio administrativo e cursos, as autoridades de St. Gallen propuseram criar uma fundação, cujo orçamento será de 150 mil francos por ano. O dinheiro também vai servir de garantia, pois se a Previdência do Tempo fracassa, os voluntários com horas acumuladas no "banco" precisam ser ressarcidos com ajuda paga.
Aprovação política
O projeto ainda deve ser votado na Câmara Municipal de St. Gallen na sessão da primavera. Se aprovado, a execução começa já no verão. Pelo menos, o apoio dos grupos interessados já está garantido. "Achamos muito boa essa proposta. Trata-se de uma forma de aproveitar recursos disponíveis na sociedade e recuperar estruturas sociais que acabaram se perdendo com o tempo", diz Thomas Diener.
Questionado se o projeto tem chances de sucesso, o diretor da Pro Senectute, a maior organização profissional de apoio ao idoso na Suíça, se mostra otimista. "Cada vez mais aposentados acham que não vale a pena gastar o tempo não só consigo próprio, mas fazendo alguma coisa que dê sentido à vida. São pessoas com uma boa situação financeira, mas que procuram ser ativos. Não é apenas altruismo, mas sim a procura da felicidade ajudando outras pessoas."
Enquanto em Berna, o governo federal aguarda ansioso pela concretização da ideia que, a seu ver, aborda uma realidade inquestionável. "A evolução demográfica fará com que haja cada vez mais pessoas necessitadas de ajuda, mesmo se a gente observa que os idosos permanecem saudáveis mais tempo. Modelos como o da cidade de St. Gallen abordam de forma correta o potencial disponível para beneficiar pessoas necessitadas", avalia Ludwig Gärtner.
Se funcionar, a Previdência do Tempo também pode ajudar a resolver outro problema social. "Ela também é uma forma de combater a solidão, aproximando as pessoas e reforçando a solidariedade entre elas", afirma Katja Meierhans, lembrando que em países como a Suíça, com um bem estruturado sistema de assistência social, a tendência das pessoas é de acreditar que o Estado seja responsável pelos cuidados com a terceira idade.
Porém a funcionária ressalta a importância das redes sociais. Meierhans tem a esperança que os voluntários tragam à cidade alguns dos costumes que ainda vive no vilarejo rural vizinho à St. Gallen, onde ela nasceu e vive até hoje. "É o hábito de passar e perguntar ao vizinho como ele vai de saúde e, quem sabe, até dar uma mãozinha quando ele precisar de ajuda."
Fonte: swissinfo