Publicado por Redação em Notícias Gerais - 07/07/2011

Disputa Casino-Pão de Açúcar ainda está longe do fim

Os movimentos da varejista francesa no Brasil refletem os problemas que tem em seu país de origem, onde seu grupo controlador carrega mais de € 7 bilhões em dívidas.
 
De acordo com o empresário Abilio Diniz, presidente do Conselho de administração do grupo Pão de Açúcar, a razão que o levou a tentar rever o acordo com o francês Casino, seu sócio na rede de supermercados desde 1999, e procurar incluir outros parceiros (o BNDESPar e o BTG Pactual) no bloco de controle da companhia foi apenas uma. "Do jeito que está, o acordo nos impede de crescer", disse ao Brasil Econômico.
 
Na prática, o Pão de Açúcar precisa de recursos para investir em sua expansão e, ao lado do Casino, é praticamente impossível obtê-los. Por duas razões.
 
A primeira é de natureza societária. Pela lei brasileira, o capital de uma empresa pode estar distribuído à razão de um terço de ações ordinárias, que dão direito a voto nas assembleias gerais, e dois terços de ações preferenciais, sem direito a voto. Nos últimos anos, o Pão de Açúcar praticamente alcançou seu limite para lançamento de ações preferenciais.
 
A possibilidade de se financiar no mercado de capitais só aconteceria com a revisão do acordo entre a família Diniz e o Casino, o que possibilitaria o lançamento de mais ações. Um aumento no número de ordinárias possibilitaria a emissão de mais ações preferenciais.
 
Dessa alternativa, o Casino nem aceita ouvir falar. A segunda razão é um pouco mais delicada e tem a ver com a situação do grupo francês em sua terra natal.
 
O Pão de Açúcar é uma empresa saudável e tem capacidade para ir ao mercado, contrair empréstimos e financiar sua expansão. Só que, para isso, precisaria do consentimento do sócio, que tem cinco representantes no conselho, o mesmo número da família Diniz (há, ainda, quatro conselheiros independentes).
 
O problema, neste caso, é que o sócio francês está endividado até o pescoço e, por essa razão, não tem capacidade de pedir um centavo aos bancos. E não permite que o sócio brasileiro recorra a financiamentos por sua própria conta.
 
"O Jean-Charles vetou todas as propostas de endividamento que levamos ao conselho de administração", diz Abilio, referindo-se ao controlador do Casino, Jean-Charles Naouri.
 
Conforme apurou o Brasil Econômico junto ao mercado, a Rallye, holding que administra o Casino, deve perto de € 6,6 bilhões. A Euris, outra empresa controlada por Naouri, deve outros € 600 milhões. Ou seja, € 7,2 bilhões. É muito mesmo para um grupo expressivo como o Casino.
 
No próximo ano, ao assumir o controle do Pão de Açúcar, Naouri ganhará o direito de consolidar a operação brasileira sob seu guarda-chuva. "O único interesse de Jean-Charles é assumir o controle", diz Abilio.
 
"Ele não sabe trabalhar de outra maneira." De acordo com o empresário, o grupo francês, nos últimos anos, mais atrapalhou do que ajudou ao Pão de Açúcar. Como exemplo, ele cita as operações que resultaram na compra do Ponto Frio e da Casas Bahia, em 2009.
 
Foi preciso uma engenharia financeira complicada, para que os negócios se concretizassem. No primeiro caso, a proprietária do Ponto Frio, Lili Safra, recebeu ações do Pão de Açúcar em troca de sua empresa. A dificuldade, naquele caso, foi conseguir ações em quantidade suficiente para pagar a conta e, ao mesmo tempo, não ferir o acerto com o Casino.
 
No segundo episódio, Michel Klein, da Casas Bahia, acabou aceitando que a fusão de sua empresa se desse com o Ponto Frio e não com o próprio grupo Pão de Açúcar, como, na visão do próprio Abilio, seria o mais correto.
 
Seja como for, no próximo ano, Abilio será obrigado, por força do acordo que assinou em 2006, a vender, pelo valor de R$ 1, uma ação do Pão de Açúcar ao Casino. Isso dará ao Casino 50% mais uma ação.
 
Assim, poderá consolidar a empresa brasileira em seu grupo. Só que o mesmo acordo que dá ao grupo francês esse direito garante a permanência de Abilio no comando enquanto tiver saúde e enquanto for capaz de gerar resultados positivos para a organização. Com poderes, inclusive, para nomear e destituir os gestores da empresa.
 
Neste caso, Naouri será uma espécie rara de controlador sem autoridade sobre a gestão da empresa. A única alternativa para os franceses seria tentar aquilo que os irmãos de Abilio não conseguiram em 1990 (ou seja, afastá-lo do comando da companhia).
 
É pouco provável que consigam. Mas a disputa, pelo visto, ainda está longe de seu desfecho e, no final, vencerá quem estiver mais preparado para a briga.
 
Fonte: www.brasileconomico.com.br | 07.07.11

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