Publicado por Redação em Previdência Corporate - 26/11/2015
Crise alimenta corrida a planos de previdência privada
Além da busca por uma renda extra no futuro, as novas regras para aposentadoria turbinaram demanda em 28%
Foi pensando em ter o próprio negócio que a veterinária Eliana Piva decidiu que era hora de buscar alguma garantia para o futuro. Há oito anos, ela começou a fazer depósitos mensais de R$ 300 num plano de previdência privada com débito em conta.”Trabalhava em uma empresa que não recolhia o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e comecei a contribuir tarde”, explica. Aos 48 anos, ela estuda usar o patrimônio para complementar a aposentadoria. “Digo que é um curinga, se apertar, aquele investimento está ali”, completa. Como reflexo da crise da economia, mais brasileiros estão aplicando em planos de previdência privada para garantir uma renda extraordinária mais à frente.
Para especialistas do setor, a procura por esse tipo de investimento se deve a grande oferta de PGBLs e VGBLs nos bancos e ao futuro incerto dos benefícios do INSS, já que o governo alterou a regra da aposentadoria, com a criação da chamada fórmula 85/95. De acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), no primeiro semestre deste ano, as contribuições feitas à previdência complementar aberta aumentaram 28,4% frente ao mesmo período de 2014. As contribuições dos titulares dos planos evoluíram de R$ 36,09 bilhões de janeiro até julho de 2014 para R$ 46,3 bilhões em idênticos meses de 2015. De janeiro a agosto, a arrecadação chegou a R$ 60,8 bilhões. Na análise por modalidade de plano, o VGBL - indicado principalmente para quem não declara Imposto de Renda da Pessoa Física pelo modelo completo de declaração anual de ajustes - recebeu contribuições de R$ 42,07 bilhões. O PGBL, para quem utiliza o modelo completo da declaração anual, registrou R$ 3,83 bilhões. Os planos tradicionais, por sua vez, apuraram R$ 446 milhões. “É importante destacar que, para ambas as modalidades de planos (PGBL e VGBL), não há cobrança do Imposto de Renda a cada seis meses, sobre os rendimentos obtidos, como ocorre em alguns tipos de aplicações”, explica o presidente da FenaPrevi, Osvaldo Nascimento.
Os planos de previdência podem ser boa opção para complementar a renda de quem vai se aposentar pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a previdência pública. Por outro lado, para investidores que têm objetivos de curto prazo – menos de 10 anos –, o produto não é adequado. Segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, é preciso levar em consideração a rentabilidade e as taxas de administração e de carregamento. No caso de um aporte ou uma retirada, o administrador pode tributar esses valores. “Recomendamos a previdência privada naqueles casos em que o investidor não tem disciplina para gerir outras aplicações, em casos de sucessão patrimonial ou para conseguir um abatimento no Imposto de Renda, lembrando que apenas o PGBL oferece esse benefício, no limite máximo de 12% da renda tributável”, afirma Gustavo Carvalho, assessor da Ativa Investimentos.
Carvalho explica que o plano mais recomendado varia de pessoa para pessoa, levando-se em conta o objetivo da aplicação. “Caso o investidor faça a declaração de IR pelo formulário completo, é interessante considerar um aporte em PGBL para usufruir do benefício de dedução do IR. Já o VGBL tem a vantagem de pagar IR apenas sobre a rentabilidade do investimento”, destaca.
Outra opção disponível no mercado são os seguros de vida, que podem ser resgatados em vida e não apenas em caso de morte. Essa foi a opção da economista Margarida Santoni, de 53 anos. Há 10 anos, ela optou por um modelo de resgate aos 60 anos, com contribuição mensal de R$ 787. “Sacrifica um pouco, mas lá na frente será um complemento de renda para a aposentadoria num momento em que se está mais fragilizado”, disse. Aos 53 anos, ela planeja poupar por mais sete para colher os frutos do investimento. “Comecei num período bom, mas, quanto antes, melhor”, diz a economista.
Quanto mais cedo, melhores as opções
O tempo é fator importante na definição por um plano de previdência, já que, quanto mais cedo, menor pode ser a parcela a pagar e maior será o montante do resgate. Daniel Santos, corretor da Prevline Corretora de Seguros estima que um plano de previdência privada iniciado aos 30 anos, com contribuições mensais de R$ 500, pela média dos últimos cinco anos, dará ao poupador, aos 65 anos, R$ 1 milhão para retirada ou R$ 4 mil mensais para garantir a aposentadoria.
Ele pondera que o cálculo depende do modelo de contribuição e da opção pela pensão para o cônjuge ou para os filhos, além da possibilidade de obter algum seguro por invalidez ou doença contratado em conjunto. Segundo Santos, a rentabilidade média da previdência é de 8% ao ano, enquanto a da poupança é de 5,5% ano. “Na poupança, o valor renderia, em média, R$ 680 mil, mas o ideal é procurar um profissional da área para analisar o perfil de cada pessoa”, disse. O professor de finanças do Ibmec/MG, Ricardo Couto, lembra que planos de previdências fechados oferecidos por empresas podem ser vantajosos, mas é preciso avaliar o tempo de carência e estimativa de permanência na empresa. Quanto menor o prazo e maior a quantidade aplicada, menor o risco. Segundo Couto, um dos fatores positivos é que o funcionário contribui com certa percentual de seu salário e a empresa participa com valor equivalente ou superior. “Não podemos generalizar, mas sem dúvida, é uma opção de investimento a longo prazo”, defende.
Gustavo Carvalho ressalta que planos de previdência podem ser um mecanismo facilitador na sucessão patrimonial. “Quando o titular de um plano morre, esse capital não entra nos trâmites de inventário, e os beneficiários recebem o recurso em um prazo médio de 30 dias. A tributação incide de acordo com o regime escolhido pelo titular no momento da contratação do plano ou portabilidade", observa.
Fonte: Jornal Estado de Minas