Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 27/05/2022
Como a meditação antecipada ajuda a manter a calma
A escritora inglesa Jane Austen escreveu: “nenhum de nós quer ficar em águas calmas a vida toda”. Todos sabemos que um pouco de adrenalina, aquele frio na barriga, um pouco de tensão, um desafio, pode ser o que nos leva a terminar uma proposta ou tomar coragem para conversar com o gestor sobre o desejo de mudar de área, entre outras situações que podem fazer de nós profissionais e seres humanos melhores.
Mas essa agitação precisa acontecer na medida certa, já que a falta de calma também pode ser a causa de problemas reais. E muitos de nós têm enfrentado estresse excessivo, ansiedade e esgotamento. Segundo pesquisa da Stress Management Association, 32% dos trabalhadores brasileiros sofre de burnout ou de esgotamento profissional.
Na nossa sociedade e para o ideal que caminhamos, manifestações externas de raiva podem ser muito prejudiciais na missão de motivar alguém ou de manter a própria empregabilidade. Isso porque o tema diversidade, equidade, inclusão e respeito está cada vez mais em pauta, exigindo que o ambiente de trabalho esteja alinhado por valores tipicamente intelectuais e psicológicos.
No local de trabalho atual, serenidade não é apenas um luxo, é uma disposição psicológica vital para a eficácia no mundo moderno. Já está mais do que comprovado que a raiva, os gritos e o excesso de ordens sem escuta, orientação ou colaboração não funcionam. Esse tipo de comando pode ter sido eficiente para Napoleão Bonaparte na batalha de Austerlitz ou para os escritórios de trinta anos atrás. Mas essas e outras atitudes impositivas estão longe de ser as ideais.
O que tenho notado no meu contato diário com líderes e liderados de empresas de diferentes portes e segmentos é que aqueles que têm preferido a forma agressiva ou passiva-agressiva de se comunicar ou de externar seus sentimentos têm contribuído cada vez mais para ambientes corporativos contraproducentes. São atitudes que, além de contribuir para a elevação das taxas de rotatividade e queda de engajamento, ainda minam relacionamentos interpessoais, a qualidade da saúde dos colaboradores ou o sucesso dos resultados da empresa.
Gerenciar expectativas: uma forma inteligente de lidar melhor com a raiva
Às vezes, quando nossa frustração suga o melhor de nós, é importante lembrar como é ser a outra pessoa, que receberá gritos ou comentários nada gentis. Hoje, com a inteligência emocional sendo extremamente importante no local de trabalho e em casa, manifestações abertas de raiva geralmente mais atrapalham do que ajudam. Mas como manter a calma diante das pressões que enfrentamos diariamente no trabalho e na vida?
Sempre que me vejo diante desse dilema, lembro-me de um dos primeiros ensinamentos que aprendi quando minha sócia Jackie de Botton e eu começamos a planejar a entrada da The School of Life no Brasil, em 2013. O ensinamento falava sobre expectativa, uma das lições do estoicismo, uma das escolas da filosofia. Todos na sede de Londres, onde a The School of Life foi fundada, foram categóricos em afirmar que, apesar de tudo parecer certo para o nosso lançamento, algo poderia dar errado e deveríamos estar preparados para isso.
É o gerenciamento de expectativas que nos permite ser mais resistentes à raiva e mais resilientes diante de frustrações inevitáveis. Algo que os filósofos estoicos da Roma Antiga, mestres da arte da calma, insistem em nos ensinar por meio de muitas de suas ideias, especialmente quando nos aprofundamos mais nas reflexões de Sêneca e Marco Aurélio.
Como se preparar para as adversidades
Eles afirmavam que todos nós deveríamos nos preparar sistematicamente para decepções e frustrações, realizando o que chamavam de praemeditatio, uma meditação antecipada. Na prática, quer dizer pensar durante um período no futuro e conscientizar-se de tudo o que poderia dar errado nele, considerando sua vida, seu trabalho ou um projeto importante.
É um exercício que, aos olhos de algumas pessoas, pode parecer banal. Mas ele nos dá uma perspectiva melhor da realidade. Pois, como costumamos dizer na TSOL, a raiva não se manifesta porque algo ruim aconteceu, mas porque não esperávamos pela situação; tínhamos um otimismo equivocado com relação a algo, a alguém ou ao mundo.
Um exercício prático
Vale a pena tentar criar seu praemeditatio para sua semana no trabalho, usando como pontos de partida as seguintes reflexões sobre os seus principais desafios, que podem ser situações ou pessoas: “Vou precisar lidar com…”, “Apesar de todo o meu esforço…”, “Eu preciso me preparar para…”, “Não serei entendido por…”, “… vai me irritar”, “…vai se esquecer de…”.
No meu dia a dia, essa meditação antecipada me ajuda a proteger o meu bem-estar mental. Ela me leva a considerar o que eu faria em determinados cenários e me fortalece contra o que realmente pode dar errado, antes que a tal situação ocorra. Espero que ela te ajude também!
Fonte: Você RH