Publicado por Redação em Previdência Corporate - 15/01/2014

Choque na previdência

Ao contrário do clima de tranquilidade e bem-estar que, em geral, sugerem as propagandas dos produtos de previdência privada, o ano de 2013 veio para mostrar um lado mais turbulento do setor. Quem sempre imaginou os investimentos do gênero como um caminho zen, de rentabilidade continuamente crescente, levou um susto. As emoções foram fortes ao longo do ano passado. E se aproximaram daquelas experimentadas por segmentos do mercado de capitais mais sujeitos à volatilidade, como a renda variável.

Em 2013, conforme revela o balanço realizado com 727 fundos pelas consultorias NetQuant e Towers Watson, todos os segmentos da previdência aberta perderam de goleada para o Certificado de Depósito Interfinaneiro, o CDI, principal referência de retorno da renda fixa, que rendeu 8,06% no ano passado, e até mesmo da poupança, com 5,85% de ganho líquido. Os fundos da categoria renda fixa - que tiveram melhor desempenho no ano passado - registraram ganho médio de 4,62%, ou seja, não só foram batidos pelo CDI como perderam também da inflação: segundo a mediana de estimativas do mais recente boletim Focus, do Banco Central, 2013 teria fechado com uma alta de 5,74% na medição pelo IPCA.

Já os multimercados sem renda variável conseguiram uma rentabilidade média acumulada ainda mais sofrível, de apenas 2,06%. Nas categorias com renda variável, o resultado minguado só não foi negativo nos fundos com alocação de até 15% da carteira em ativos do gênero. Esses produtos com menor limite para apostar em ações ganharam 2,16% na média de 2013.

No entanto, conforme a possibilidade de alocação em bolsa aumenta, o prejuízo também cresce. Aqueles com permissão para ter até 30% de renda variável perderam 0,05% no ano passado, enquanto os compostos por fatia de até 49% tiveram um prejuízo médio de 3,02%. O ano registrou ainda marcas pouco memoráveis para a indústria. Em julho, por exemplo, houve, pela primeira vez em cinco anos, mais saques que aportes, com resgates líquidos de R$ 1,04 bilhão. Desse total, a renda fixa amargou retirada de R$ 622 milhões no período.

O saldo negativo refletiu o nervosismo dos investidores, preocupados com perdas em meses consecutivos. Os resultados ruins em 2013 espelharam, entre os principais fatores, o ciclo de alta de juros combinado ao movimento de alongamento de prazos médios das carteiras de previdência. Segundo o sócio-diretor da NetQuant, Marcelo Nazareth, a maiora dos fundos só viu o lado ruim desse cenário. Ou seja, fizeram a troca de títulos no momento em que os juros estavam nos patamares mais baixos e foram pegos no contrapé do ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic.

Uma regulamentação tardia acabou obrigando as empresas de previdência a alongarem os prazos justamente quando as taxas estavam nas mínimas históricas, explica Nazareth, em referência à determinação do governo que obrigou gestores de previdência aberta a substituir aplicações de curto prazo e indexadas à Selic por papéis mais longos.

Na esteira desse ajuste, recheadas de títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs, e, em menor grau, de prefixados, como LTNs e NTN-Fs, as carteiras da maioria dos fundos de renda fixa do setor amargaram perdas em boa parte do ano passado. Os momentos mais críticos ocorreram nos dois meses que antecederam os resgates de julho, conforme pode ser percebido pelo desempenho do IMA-B, índice que registra a variação de uma carteira teórica de títulos do governo atrelados ao IPCA.

Em maio, o indicador registrou uma perda de 4,52% e, no período seguinte, novo retorno negativo de 2,79%. As perdas na renda fixa trouxeram volatilidade inédita ao mercado. Segundo o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Osvaldo do Nascimento, o Brasil historicamente não apresentava essa instabilidade no setor, mas agora entrou no clube. Com uma cultura previdenciária até então permeada pela estabilidade, as oscilações de 2013 deixaram os investidores com os nervos à flor da pele.

Em termos de captação líquida, quando se descontam os resgates dos aportes, apesar de o ano ter terminado com um saldo positivo de R$ 25,37 bilhões, o valor representa um recuo de 31,35% na comparação com o resultado de 2012, segundo o levantamento da NetQuant e Towers Watson. Todos os segmentos de renda variável registraram saídas líquidas no ano passado, provavelmente impactados pelo desempenho ruim do Ibovespa, que teve queda de 15,5% em 2013.

O recuo nessa categoria de fundos de previdência indica ainda uma tendência a maior aversão ao risco, que deve imperar neste ano entre os investidores. Para a consultora sênior do grupo Mercer, especializado em seguros e previdência, Carolina Wanderley, o cliente de PGBL e VGBL muitas vezes enxerga esses produtos como um investimento de curto prazo. É um erro. O presidente da FenaPrevi reforça essa percepção: o cidadão não está preparado para a volatilidade e quando ele olha para rentabilidade negativa ele acha que perdeu dinheiro. Carolina, no entanto, lembra que previdência é investimento de poupança e de longo prazo.

Enquanto as pessoas não entenderem essa característica vai acontecer essa fuga em momentos de instabilidade. O vice-presidente de planejamento e vendas da Icatu Seguros, Luciano Snel, vê um lado benéfico para as turbulências de 2013. O cenário adverso forçou as companhias a fazer ações de relacionamento com os corretores e clientes para ter certeza de que todo mundo estava entendendo, diz. De acordo com a diretora de produtos e comunicação da BB Seguridade, que controla a Brasilprev, Ângela de Assis, o ano passado trouxe um aprendizado com as ações de relacionamento, que, avalia ela, foram fundamentais para enfrentar as oscilações do mercado.

Em maio e junho, quando tivemos um período de grande volatilidade, começamos a fazer uma série de reuniões no Brasil todo para levar informações sobre a volatilidade, como era melhor atuar, impacto da alta da Selic. Fizemos esses encontros específicos com todos os clientes com maiores valores aplicados em previdência. Segundo Ângela, essas iniciativas não só impediram clientes de realizarem prejuízos, como trouxeram maior tranquilidade aos cotistas.

Fonte: Valor Online


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