Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 12/07/2011

Caos Aéreo não foi nada perto do Colapso da Saúde

Quem se lembra dos danos causados pelo caos aéreo sabe que o colapso da saúde será pior.
 
Todos os indícios de que já estamos vivendo o caos e que em breve chegaremos ao colapso estão bem á vista – só não vê quem não quer.
 
As origens do colapso são bem conhecidas – nada de novo no ‘front’:
 
O poder aquisitivo da população cresceu trazendo mais pessoas para a saúde suplementar, mas a oferta de serviços de saúde não acompanhou, e a cada dia se distancia ainda mais da demanda;
Os médicos já perderam a paciência de trabalhar com remuneração injusta, e vão ficando cada vez mais seletivos em relação aos seus contratos com as fontes pagadoras;
A população geral se multiplicou e a rede de atendimento SUS não acompanhou o crescimento;
Os planos de saúde vendem mais serviço do que têm a oferecer, e ninguém controla o overbook;
Mesmo que a população não tivesse crescido, está envelhecendo, o que aumenta a ‘freqüência per capita’ no serviço de saúde.
Os primeiros reflexos nós vemos diariamente no SaudeWeb e na mídia em geral, aponto de já haverem chamadas do tipo ‘Quadro da Saúde Pública no DF é alarmante’, ‘Ginecologistas param de atender planos em setembro’, etc.
 
Quem acha que estamos no caos se engana, como se enganavam os que achavam que o caos aéreo já havia chegado antes do grande colapso.
 
Os gestores da saúde não estão preparados para lidar com o ‘upgrade da escala’, e estão tratando o crescimento como algo que pode ser resolvido com aritmética:
 
Se tínhamos 10 pacientes atendidos em uma sala, necessitamos de 100 salas para atender 1.000 pacientes;
De 10 para 1.000 temos uma mudança de escala, e só para gerir 1.000 salas (sem contar os pacientes) o modelo deve ser outro !
Os gestores de saúde se acostumaram a utilizar médias históricas para dimensionar o crescimento futuro, como sempre fizeram:
 
Esta técnica sempre conduziu ao erro – a saúde sempre esteve devendo vagas devido ao cálculo com base na média histórica;
Considerando o aumento e a média histórica os gestores ‘erravam no varejo’ – agora com a mudança de escala estão ‘errando no atacado’.
Quem trabalha em hospital como eu, de vez em quando recebe pedido de um amigo ‘pra ajudar a conseguir uma vaga, ou um médico para fazer um procedimento para fulano’: esta é a situação do caos atual, mas quando chegarmos ao colapso imagino que isso vai acabar virando ‘pedágio’, porque a cada dia que passa é mais difícil poder ajudar o amigo.
 
As regras da ANS estabelecendo tempo mínimo de atendimento na saúde suplementar são absolutamente elogiáveis – quem, como eu, sempre critica a ANS quando edita normas que só burocratizam o atendimento tem que elogiar regulamentações como estas que contribuem para a melhoria do atendimento ao segurado.
 
Mas as normas da ANS não ajudarão a resolver o problema de dimensionamento geral do sistema, porque os hospitais atendem saúde suplementar, SUS e particulares, e a atribuição dela é regular planos de saúde.
 
O Ministério da Saúde deve chamar a responsabilidade de não apenas coordenar o crescimento da rede de hospitais públicos – deve se preocupar em exigir que as empresas privadas que atuam no segmento da saúde contribuam efetivamente para a melhoria da saúde pública:
 
Isso passa pela necessidade de não autorizar a expansão de serviços de saúde que não contribuem para o equilíbrio do sistema geral de saúde pública;
É necessário mostrar para a população o plano de oferta geral de leitos de hospitais públicos e privados em relação à demanda por região, para que toda a sociedade possa contribuir e se preparar para a dificuldade.
Nós precisamos que isso ocorra agora – já que não pudemos evitar o caos, quem sabe não conseguimos minimizar o estrago do colapso.
 
Fonte: www.saudeweb.com.br | 12.07.11

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