Publicado por Redação em Gestão do RH - 12/11/2019
Business partner: o elo entre estratégia de pessoas e de negócios
Neste artigo, me impus o desafio de falar do papel Business Partner. Digo desafio porque não há um job description padrão, cada companhia desenha as especificidades e atribuições do cargo de acordo com o que acredita ser suas necessidades na área. Porém, por experienciar, dia a dia, o valor resultante da nossa atuação para a companhia, compartilho aqui o nosso olhar sobre o papel.
Na companhia em que atuo, gostamos de conceituar Business Partner como o principal elo entre a estratégia de negócios e a estratégia de pessoas. Simples? Altamente complexo! Temos pessoas em ambos os polos, números, resultados de negócios e, sobretudo, corações pulsantes. Gente diferente, com visões de mundo particulares, vivências, valores e propósitos distintos. Business Partner é quem liga os pontos de toda essa complexidade de forma harmônica.
Para esclarecer a nossa visão, estruturo a minha forma de trabalho por meio de três grandes pilares de atuação: Relacionamento, Skin in the Game e Estratégias. São três pontas de um tripé que se sustentam mutuamente e que explicarei mais detalhadamente a seguir.
Relacionamento - Pode parecer óbvio falar deste assunto, mas é imprescindível, já que é base de sustentação deste precioso trabalho. Para nós, o relacionamento deve estar fundamentado em credibilidade, confiança, respeito e empatia. Para construir isso, leva tempo e deve ser feito de forma natural e orgânica, passo a passo, buscando conhecer e ser conhecida por clientes internos. Praticar a escuta ativa, não julgar e fazer-se verdadeiramente presente. Aqui, além do interesse genuíno pelo outro, a necessidade é a de baixar a guarda para que também te conheçam. É a humanização acontecendo em duplo sentido; de cliente interno para Business Partner e vice-versa.
Outro aspecto importante da construção do relacionamento é buscar tamanha proximidade com as pessoas a ponto de sentir as suas dificuldades. É estabelecer um limite tênue entre você e a colaboradora ou o colaborador e perceber que você também sente as dores ou amores em relação a um determinado assunto, mas que precisa manter o foco e ser parte da resolução dele. Você, afinal, exerce o papel de defesa da cultura da empresa. O maior desafio que vejo aqui é o de agir dessa forma sem perder a empatia pelo outro, sendo o elo que pondera e vai em busca das soluções.
Skin in the Game - Neste ponto, o aprendizado está relacionado à forma de atuação do RH. É necessário sair do silo, deixar a sala e sentar-se junto ao time que atende, junto das pessoas. É literalmente "sentir na pele". Business Partners devem buscar entender o que cada pessoa sente e vivenciar, junto, os mesmos desafios. Deve participar dos ritos de negócio, ir ao "gemba" (onde o problema real está), escutar, falar e, acima de tudo, construir seu relacionamento.
Com o Skin in the Game, ganhamos em agilidade na resolução de problemas e um olhar atento para detectá-los. Aguçamos nossa capacidade de encontrar padrões de comportamentos, o que nos possibilita, por exemplo, prever e antecipar problemas.
Estratégias - O sucesso como Business Partner envolve a paixão pela resolução de problemas. Adoramos deixar pessoas satisfeitas, não é? Aprendemos que ganhamos em agilidade e melhores soluções quando fazemos isso de forma colaborativa, trazendo clientes internos para desenharmos em conjunto, ouvindo o que gera valor para eles e realizando experimentos locais. Outro importante aprendizado é que não temos soluções padronizadas para os mesmos problemas. Os contextos locais podem ser distintos, assim como pessoas são distintas. Com ciclos rápidos de aprendizado, conseguimos corrigir rotas e seguir adiante com melhorias, resolução de problemas e implementação de novos processos.
O olhar para as lideranças
Outro assunto que considero relevante apontar na forma de atuação de Business Partner é um modelo de trabalho que preza pela humanização da alta liderança. Temos duas personas que coabitam esses profissionais: o lado colaborador e o lado líder, e precisamos olhá-las de forma distinta. São pessoas que normalmente sofrem com um nível de pressão elevado, ficam no fogo cruzado entre liderados e lideradas e as cobranças por margens saudáveis de resultados financeiros. Além disso, têm a bela - porém, difícil - incumbência de inspirar pessoas e se cobram pessoalmente por tudo isso. Porém, como sabemos, não são super homens ou super mulheres. Por isso, o ou a Business Partner deve olhá-los de forma diferenciada; hora com um viés de colaborador e hora com o viés de liderança.
Esta alta liderança, quando é acompanhada enquanto colaborador, também deve ter sua jornada mapeada. Olhamos toda a jornada que se inicia em seu onboarding, passa por carreira, reconhecimentos/recompensas e momentos marcantes dentro da empresa. Esse olhar consiste em profundidade de análise, mas também em ações simples, de cuidado mesmo. Um exemplo singelo; ao completar 5 anos de empresa, um Vice-Presidente foi homenageado com cupcakes feitos especialmente para ele levando em conta, inclusive, sua alergia à farinha de trigo. A encomenda, feita com farinha de arroz, é uma delicadeza que demonstra cuidado e carinho com o ser humano para além do cargo.
Há o olhar para a segunda persona e sua jornada. Como desenvolver seus skills, como ajudar a se desenvolver como liderança colaborativa, que facilita e destrava potenciais de outras pessoas e desenvolve outras lideranças. Cabe ao papel de Business Partner também apoiar nessa jornada. A necessidade é sempre a de pensar quais estratégias customizadas poderíamos desenhar dadas as particularidades.
Enfim, espero, com o compartilhamento da minha experiência, ter ajudado a trazer novas possibilidades e insights para a construção de profissionais com preparo para a função na sua empresa. Para mim, ser uma Business Partner é uma honra e um prazer, especialmente nesta empresa que me escolheu e na qual escolho estar todos os dias.
Por Joceline Seixas, Senior Business Partner Manager
Fonte: RH Pra Você