Publicado por Redação em Notícias Gerais - 26/03/2014

Brasil precisa de pragmatismo pra crescer sem gerar inflação, diz analista da S&P

Anunciado na última segunda-feira, o rebaixamento da nota de crédito do país é uma fatura que cairá pesadamente no colo dos brasileiros apenas em 2015. A observação de experientes analistas é que, mesmo que o governo tente tirar do papel as reformas que há muito tempo foram abandonadas, como a trabalhista e a tributária, não há tempo suficiente para colocar essas medidas em prática e, com isso, evitar o pesado ajuste que terá de ser feito pelo próximo presidente da República, independentemente de quem seja eleito no pleito de outubro.
 
A presidente Dilma Rousseff, em seu último ano de mandato, tem como missão reverter o quadro atual de pessimismo e tentar garantir que o país retome os trilhos do crescimento econômico mais forte. Para isso, disse nessa segunda-feira a diretora da Standard&Poor’s (S&P) responsável para o Brasil, Lisa Schineller, o do governo terá que se comprometer com políticas “pragmáticas”, que garantam a sustentabilidade da economia sem gerar inflação.
 
Caso se confirmem os prognósticos do mercado financeiro, o Produto Interno Bruto (PIB) terá crescido, durante a gestão Dilma, a um ritmo médio de 1,9%. É quase três vezes menos que os 4,6% alcançados, ano a ano, no segundo mandado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É por isso mesmo que a agência prevê a manutenção do quadro de baixo crescimento, com previsão de que o PIB avance 1,8% este ano e 2%, em 2015.
 
Lisa cobrou do governo uma reversão desses indicadores e fez um alerta: a falta de reformas estruturais, aliada a uma deterioração clara de indicadores fiscais e externos, levaria a um novo rebaixamento da nota soberana do país. Ou seja, em vez da última posição do grau de investimento, o Brasil cairia à categoria de economia especulativa. No entanto, segundo ela, “reduzir os ratings de novo é realmente um cenário que nós não estamos contemplando".
 
A falta de transparência nas contas públicas, sob a coordenação do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augugustin, também foi um ponto lembrado pela agência. Durante o governo Dilma, o esforço do governo para pagar os juros da dívida pública (superavit primário) encolheu de 2,8% do PIB para 2,1%, em média, nas contas de consultorias especializadas.
 
Mais importante do que fazer um superavit robusto, disse uma graduada fonte do mercado financeiro, é o governo se comprometer com metas críveis, e tornar as contas públicas mais transparentes. “Por mais que a Fazenda cumpra o 1,9% (de meta de primário prevista para este ano), não será suficiente para estabilizar a dívida pública e fazer com que o endividamento caia. Por isso mesmo é que cumprir a meta, ainda que o esforço não seja o mais adequado, será importante para mostrar comprometimento do governo”, disse.
 
A S&P espera que seja feito “algum ajuste fiscal” em 2015. Mas, por ora, notou o oposto disso: enfraquecimento das contas públicas e um menor grau de transparência na execução da política fiscal. Prejudicaram, e muito, essa avaliação as medidas adotadas para engordar as contas públicas e esconder despesas primárias, como reajustes nas tarifas públicas.
Um experiente analista de mercado classificou como “nova manobra de contabilidade criativa” o pacote lançado recentemente pelo governo para evitar que a conta de luz aumente em ano eleitoral. O risco dessas medidas, disse o analista, é o de empurrar o problema com a barriga, sem resolver a questão do racionamento de fato. Pior do que isso.
 
 
EXPLICAÇÕES
 
Os partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff se articulam para votar ainda hoje três requerimentos de convocação para ouvir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. A ideia é que ambos justifiquem aos parlamentares os motivos que levaram a agência de classificação de risco Standard&Poor’s (S&P) a rebaixar a nota de crédito do país, medida anunciada na noite de segunda-feira.
 
Os pedidos foram protocolados ontem pelo DEM em três comissões diferentes da Câmara dos Deputados: Fiscalização Financeira e Controle, Desenvolvimento Econômico e Finanças e Tributação. Dois deles foram apresentados pelo deputado Mendonça Filho (PE), líder do partido na Casa. O terceiro foi feito pelo também democrata Rodrigo Maia (RJ). Caso algum dos requerimentos seja aprovado, haverá apenas uma convocação conjunta. “A economia está em frangalhos”, disse Mendonça Filho, para quem o quadro atual está se deteriorando “velozmente”.
 
As incertezas sobre o futuro da economia também foram enfatizadas pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), em nota divulgada ainda na noite de segunda. “O Brasil passa por um triste momento de perda de confiança, de credibilidade arranhada – em síntese, de desesperança em relação ao futuro e de erosão das conquistas do passado”, disse.
O também presidenciável Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, reiterou que o rebaixamento da nota de crédito do país poderia “até ser relativizado pelo governo, se esse mesmo governo não tivesse festejado o upgrade quando foi concedido, anos atrás”, escreveu em uma rede social.
 

Fonte: Estado de Minas - Belo Horizonte/MG


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