Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 08/04/2022
Aquecimento Hospitalar discute futuro da acreditação e dos sistemas de saúde
O segundo dia de Aquecimento Hospitalar, evento digital que antecede a edição física da feira, colocou a acreditação e a qualidade dos serviços de saúde no centro da conversa. Com representantes internacionais e experiências compartilhadas, os conteúdos da noite reforçaram a importância da regulação e a qualidade das soluções e serviços brasileiros no contexto global. Na abertura do dia, o diretor do portfólio de saúde da informa markets, responsável pela realização da Hospitalar, dividiu a expectativa pelo evento. “É uma alegria dizer que a feira Hospitalar presencial está confirmada, já com mais de 1000 marcas expositoras e 35 congressos de conteúdo. Essa vai ser uma oportunidade incrível de nos reencontrarmos, além de permitir que toda a cadeia de saúde se reconecte mais uma vez”, comentou. “Muita coisa se desenvolveu no setor desde a nossa última edição e, por isso, participar do evento vai ser muito importante para se atualizar das novidades e acompanhar os lançamentos”, defendeu. A Feira Hospitalar acontece no São Paulo Expo, de 17 a 20 de maio. O credenciamento pode ser feito no site do evento.
O segundo dia teve curadoria de Fábio Gastal Leite, presidente do conselho da ONA e coordenador científico do CISS (Congresso Internacional de Serviços de Saúde) na Hospitalar. Durante a abertura, Gastal comentou sobre a escolha dos painéis e convidados. “Nossa intenção foi trazer os grandes temas setoriais da saúde, tratando diversas perspectivas da saúde pós-pandemia ao redor do mundo. Esse é um momento de aquecimento para alguns dos assuntos que traremos para o congresso CISS na Feira Hospitalar, e é uma oportunidade para dividirmos experiências, lições e vivências da pandemia”, comentou.
Accreditation in the new world: a experiência australiana
Abrindo os conteúdos do dia, Karen Luxford, CEO do ACHS (Australian Council on Healthcare Standards) compartilhou em sua apresentação um pouco da experiência australiana diante dos desafios trazidos pela pandemia. Sob o título “Quality, patient safety and accreditation in the new world”, a especialista dividiu seu ponto de vista sobre o tópico, permitindo comparativos e paralelos com a atuação brasileira. “A pandemia foi um teste muito difícil para os sistemas de saúde de todo o mundo. A confiança e a capacidade de atendimento foram testadas em condições muito estressantes nos últimos dois anos”, pontua. A CEO também destacou a importância das regulações e de protocolos internacionais, como os propostos pela OMS.
Citando a aceleração de projetos como um dos legados da pandemia, Luxford destacou que inovações diversas foram observadas em todo o período. “Vimos projetos de digitalização que estavam sendo adiados há anos serem executados em semanas ou meses - a resistência existente com tecnologias como a telemedicina, por exemplo, foi vencida diante das novas necessidades trazidas pela Covid. Isso também acelerou o desenvolvimento de regulações que permitiram o estabelecimento dessa transformação digital. Tenho certeza que vocês experienciaram algo similar no Brasil”, disse.
Para a CEO do ACHS, a adesão às novas tecnologias trouxe consigo novas necessidades de acreditação e regulação, exigindo que os órgãos responsáveis se adaptassem. Um exemplo disso são as necessidades de ajustes nos padrões para uso de telemedicina, que exigem garantias mais bem definidas sobre consentimento e privacidade de dados do paciente. “Parte dos nossos ajustes passa pela importância de manter o processo transparente e claro em todas as etapas, garantindo que o paciente esteja ciente de cada captura de dados”, apontou.
O mundo e os Sistemas de Saúde Pós-pandemia
Na sequência, a gerente operacional da ONA, GIlvane Lolato, recebeu para uma entrevista exclusiva o CEO da ISQua, Carsten Engel. Dinamarquês e com uma experiência ampla no setor de saúde europeu, Engel apontou as vitórias durante o período pandêmico, levantando também os pontos de atenção e os desafios trazidos no cenário pós-pandemia.”Todo o sistema se mostrou capaz de se adaptar e inovar para enfrentar as adversidades, o que é um indicativo claro da capacidade da nossa força de trabalho, tanto dos sistemas quanto dos profissionais”, defendeu. Para ele, recuperar as equipes e cuidar das pessoas é um tema crucial para o momento. “Nossa mão de obra tem lidado com uma demanda muito alta de trabalho, se expondo a riscos e ao estresse diário, por um longo tempo. Como estamos nos preparando para cuidar desses profissionais?Este deve ser um tópico prioritário para a saúde nos próximos anos”, acredita.
A logística também ganhou espaço na discussão. “Precisamos entender que uma logística eficiente é indispensável quando falamos de acesso aos medicamentos e EPIs, mas também precisamos trabalhar a logística para organizar o fluxo de pacientes em si. Lidar com a alta demanda de pacientes durante a pandemia exigiu flexibilidade e adaptação de todos. A logística foi essencial para garantir a escalabilidade do sistema e o acesso à vacinação e ao cuidado”, defendeu. "Vemos muito claramente que a gestão do fluxo de atendimentos é essencial. Estamos diante de uma lacuna crescente em que a quantidade de atendimentos necessários cresce mas a capacidade de atendimento não - precisamos identificar nossas limitações e encontrar soluções para diminuir esse gap”, disse.
Segundo o CEO, em um sistema complexo como o de saúde, quase nunca é possível prever o que vai acontecer, o que exige uma estrutura que seja flexível e adaptável. GIlvane concordou. “Precismos também admitir que somos resilientes e comprometidos com o cuidado. A pandemia começou da noite para o dia e mesmo assim conseguimos nos adaptar rapidamente. Seguimos e continuamos aprendendo até hoje”, pontuou. “Vejo diante de nós novos desafios e novas ideias, mas vejo também existem desafios que são velhos conhecidos, que acabaram ficando de lado durante a pandemia”, comentou Engel. Destacando a sustentabilidade e o atendimento como pontos de atenção para a saúde, o CEO da ISQua também reforçou a importância de colocar o paciente no centro da estratégia. “Se quisermos levar a saúde ao próximo nível de qualidade, precisamos ter o paciente como um parceiro, não como um cliente. Com uma visão realista sobre a segurança do paciente, podemos evoluir muito”, concluiu.
2022: o que vem pela frente para os sistemas de saúde
No painel de encerramento do Aquecimento Hospitalar para o congresso CISS, uma mesa de debates discutiu o futuro dos sistemas de saúde. Considerando tanto os desafios em comum quanto o legado deixado pela pandemia, GIlvane Lolato recebeu Taissa Sotto Mayor (Quality Global Alliance), Victor Grabois (SOBRASP) e Tânia Grill (Grupo IAG Saúde) para dividir perspectivas e percepções para os sistemas de saúde a partir de 2022.
Para Grabois, a pandemia trouxe muitos e enormes desafios, mas também muitos aprendizados. “Neste painel, muitos de nós estamos ligados à segurança do paciente. Porém, o mundo que vivemos hoje em 2022 nitidamente exige de nós um diálogo franco com os demais agentes da qualidade, como o atendimento e o cuidado centrado”, defendeu. “Durante esse período, tivemos muitas mortes evitáveis e muitos problemas que tem a ver com o não-acesso à saúde e a desigualdade econômica da população. Não podemos falar de segurança sem falar de equidade de acesso”, disse. “Da mesma forma, não podemos falar só de gestao hospitalar: precisamos olhar para a gestão dos sistemas de saúde. Está claro que esse sistema fragmentado impede que o paciente tenha uma jornada completa e eficiente”, apontou.
Abordando o impacto e as características da transformação digital da saúde, Taissa Mayor destacou que esse processo deve ir além do uso de tecnologia. “Quando a gente pensa em transformação digital, acabamos sempre pensando na implementação de sistemas como prontuários eletrônicos, mas o processo vai muito além disso”, explicou. “Nosso maior desafio nesse momento é garantir que a transformação seja sustentável e integrada entre os sistemas, aumentando a acessibilidade e garantindo um cuidado centrado no paciente, promovendo um cuidado equitativo e contínuo”, completou.
Tânia Grill reforçou essa percepção, afirmando que softwares de forma isolada não são soluções mágicas para levar aos melhores desfechos e resultados. “Não basta ter tecnologia e indicadores. Precisamos ter um planejamento claro, que permita entender onde essa tecnologia se encaixa em prol da melhoria do atendimento”, listou. “Estamos falando aqui de uma integração entre as redes de atenção de saúde, de continuidade e integralidade do cuidado, dos níveis primário, secundário e terciário agindo em conjunto e mantendo o paciente no centro. Tudo isso exige governança clínica”, acredita a presidente do IAG. “Nossos sistemas precisam estar organizados em torno das expectativas e necessidades desse paciente. Governança clínica significa saúde baseada em valor - ou seja, entregar ao paciente o que de fato importa para ele”, concluiu.
Fonte: Saúde Business