Publicado por Redação em Notícias Gerais - 21/12/2015
Aplicativos avançam e esmagam faturamento das empresas de telecom
Até 2018, setor perderá 386 bilhões de dólares por usuários que trocaram serviços convencionais por aplicativos
O setor de telecomunicações perderá entre 2012 e 2018 um total de 386 bilhões de dólares em receitas de usuários que trocaram o serviço convencional oferecido pelas teles por aplicativos de voz over-the-top (OTT) como o Skype e o Lync, da Microsoft. A previsão é da empresa inglesa de pesquisa e consultoria Ovum, focada em convergência de tecnologia da informação, telecomunicações e mídia. A queda vertiginosa do faturamento mundial virá principalmente da redução do faturamento de chamadas internacionais e roaming, hoje com custos considerados exorbitantes pelos consumidores diante das alternativas existentes. A previsão é de um crescimento exponencial da comunicação por VoIP (Voice Internet Protocol) via internet. Bloquear esses serviços ou fazer alianças, como pretendem algumas empresas de telecomunicação, inclusive brasileiras, ou tentar competir com o uso de serviços alternativos não deterá o avanço da OTT, avalia a Ovum.
A comunicação OTT se refere à transmissão de vídeo, áudio e outras mídias pela internet. Os serviços mais conhecidos são Netflix, WhatsApp e Hulu, e VoIP (Voice Over Internet Protocol) para a comunicação por áudio. As previsões são de um crescimento do uso de OTT/VoIP de 20% ao ano até 2018.
O impacto da comunicação OTT não se limita aos serviços de voz e mensagem e inclui um grave congestionamento do tráfico de dados na rede de telecomunicações. Uma das principais causas dessa sobrecarga é o aumento a taxas geométricas do consumo de vídeos. Segundo a pesquisa Cisco Visual Networking Index: Mobile Data and Internet Traffic, entre 2013 e 2018 o tráfego em telefones móveis, vídeos incluídos, deverá crescer 61% ao ano. O aumento do uso da rede deverá superar em 40% o ritmo dos investimentos na sua expansão. A comunicação OTT usa as redes sem fazer nenhum investimento, reclamam as empresas de telecomunicação, beneficiadas, entretanto, com o aumento do tráfego de dados resultante do uso crescente dos aplicativos.
A situação não é diferente no Brasil. As fontes tradicionais das operadoras de telecomunicações, baseadas principalmente em assinaturas e serviços monitorados, dão sinais de que estão se tornando obsoletas. Os substitutos de maior sucesso, como os serviços de OTT WhatsApp, Skype e Netflix, não contribuem para a renda direta dos provedores de acesso nem para a receita de impostos dos governos, apesar de usarem as redes e necessitarem dos investimentos em expansão feitos pelas empresas de telecomunicações.
As reações mostram o quanto o modelo de negócios OTT tumultuou o setor. Enquanto algumas empresas brasileiras estudam acionar na Justiça o WhatsApp, outras procuram aliar-se ao aplicativo. As empresas de telefonia contribuem com Fundo de Fiscalização das Telecomunicações a cada linha autorizada, ao contrário do WhatsApp. Segundo a consultoria Teleco, são 26 reais para ativar uma linha móvel e 13 reais de taxa anual de funcionamento. Outra diferença: as teles estão sujeitas à fiscalização e ao pagamento de multas no caso de não cumprimento das exigências definidas pela Anatel. A regulamentação obriga ainda as operadoras de telefonia celular a investir continuamente em tecnologia e a atuar em acordo com o Código de Defesa do Consumidor. Já o WhatsApp, alegam as empresas do setor, está à margem da regulação do mercado no Brasil.
O comportamento dos principais indicadores preocupa executivos e acionistas das empresas. O tempo médio gasto pelo brasileiro em conversas telefônicas via operadoras caiu 15% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior, indo para 111 minutos mensais. Em dezembro de 2013, eram 140 minutos por mês. A consequência imediata é a queda da receita média por usuário, de 13,60 reais por mês em 2014 para 11,60 reais neste ano.
O declínio das receitas com voz e SMS é contrabalançada com a elevação do uso de dados. As receitas de todas as operadoras com a internet móvel aumentam continuamente e correspondem hoje a uma parcela entre 37% e 43% do faturamento total.
Do ponto de vista dos consumidores, não há dúvida quanto a vantagem de um serviço como WhatsApp ou Skype em relação à telefonia convencional. Foi em seu nome que a Proteste Associação de Consumidores pediu ao Ministério Público Federal a abertura de um inquérito contra as empresas de telefonia por eventuais bloqueios nos serviços de chamada de voz em aplicativos como WhatsApp e Viber.
Fonte: Revista Carta Capital